(atualizada às 10h20) O clima esquentou na reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Empenhos da Saúde, na tarde desta quarta-feira (11), na Assembleia Legislativa. A sessão precisou ser suspensa por cinco minutos para acalmar os ânimos dos mais exaltados. Ao final da reunião, os governistas conseguiram adiar a leitura e votação do relatório para a próxima semana e prorrogar os trabalhos da CPI por mais 30 dias.
O deputado Euclério Sampaio (PDT), relator da CPI, chegou à reunião disposto fazer a leitura do relatório. Aliás, ele faria isso na semana passada, mas foi convencido a adiar a leitura para esta quarta-feira. Surpreendentemente, o líder do governo e presidente do colegiado, deputado Gildevan Fernandes (PMDB), pediu novo adiamento da leitura.
Ele alegou que os demais membros da comissão não conheciam previamente o teor do relatório, justificativa que não se sustenta, já que a reunião desta quarta seria justamente para a leitura e votação do parecer do relator. Gildevan afirmou ainda que o pedido de prorrogação também se justificava pelo fato de ele ter recebido novas denúncias que precisam ser apuradas. Com base nessa alegação, o presidente da CPI também pediu o adiamento dos trabalhos da CPI por mais 30 dias, adiando o encerramento do 7 de junho para 8 de julho.
O deputado Freitas (PSB) foi contra o adiamento da leitura do texto e a prorrogação dos trabalhos da CPI. Houve discussão acalorada entre ele e Gildevan. Euclerio, surpreendentemente, entrou na discussão ao lado de Freitas e contra o governo. O pedetista também bateu o pé pela leitura do relatório e se disse contra o prorrogação por mais 30 dias. Os deputados Erick Musso (PMDB) e Padre Honório (PT) apoiaram Gildevan Fernandes (PMDB), fazendo prevalecer os pleitos do presidente da comissão. Neste momento o clima voltou a esquentar entre Gildevan e Euclério.
Nos bastidores, o comentário é que a ordem para adiar a leitura veio do Palácio Anchieta. Isso porque, o relatório de Euclério Sampaio não atendia o interesse palaciano. O relatório indicia cinco ex-secretários do governo anterior — Tadeu Marino (Saúde), Iranilson Casado (Desenvolvimento Urbano), Fábio Damasceno (Transporte), Ailton Xavier (Justiça) e Maurício Duque (Fazenda) —, mas deixa de fora o ex-governador Renato Casagrande (PSB), que seria o principal alvo do governador Paulo Hartung.
O relatório da CPI dos Empenhos seria um trunfo nas mãos da base governista para sustentar a manobra que já é esperada no plenário da Assembleia para rejeição das contas do socialista. Para essa estratégia funcionar, é imprescindível que o nome do ex-governador esteja envolvido no relatório, a prorrogação de mais 30 dias pode criar essa condição para o Palácio Anchieta.
A CPI apura denúncias noticiadas na imprensa de que o então governador Renato Casagrande estaria atrasando, desde 2014, os pagamentos destinados aos hospitais filantrópicos e a outras entidades que prestam serviços à rede pública de saúde.
Com o interesse do atual governador em desidratar seu antecessor, a CPI se tornou um caminho para tentar sustentar a ideia de que Casagrande cometeu irregularidades em sua gestão, o que garantiria os elementos para a rejeição das suas contas, que devem ser apreciadas em breve pela Assembleia. Por isso a cautela para não queimar etapas no colegiado é grande.
Inicialmente, a comissão tinha Euclério Sampaio como presidente e o hoje secretário de Assistência Social do Estado Rodrigo Coelho (PDT) como relator. Com a saída de Rodrigo, houve um rearranjo de cargos. Gildevan se tornou presidente do colegiado e Euclerio assumiu a relatoria.
A vaga aberta com a saída de Rodrigo Coelho também causou polêmica. O PSB, de Casagrande, requisitou a vaga para o deputado Bruno Lamas, o que equilibraria o jogo entre governistas e aliados de Casagrande na comissão, mas a base conseguiu manobrar a distribuição e conquistou a vaga para o PMDB, sendo a vaga destinada ao vice-líder do governo Erick Musso. Essa movimentação, no entendimento dos interlocutores de Casagrande, deixa a digital palaciana na manobra para prejudicar Casagrande.