Da boca pra fora, o deputado Theodorico Ferraço (DEM) diz estar alheio aos movimentos da Assembleia para a aprovação da PEC que o reconduz ao quarto mandato consecutivo à frente do Legislativo estadual. Mas para os seus botões a história é outra. Eles são testemunhas de que Ferraço está à beira de ataque de nervos com o desfecho de sua sucessão.
A ansiedade de Ferraço faz sentido. Nos últimos dias, o presidente da Casa viu naufragar a tentativa do deputado Cacau Lorenzoni (PP) de coletar ao menos as 10 assinaturas necessárias para protocolar a PEC da sua reeleição.
Sem perder tempo, Ferraço decidiu repassar a missão para um deputado com mais estatura e pulso firme para fazer pressão. Coube a Luiz Durão (PDT) reconfirmar os oito nomes que já haviam assinado a lista de Lorenzoni e convencer outros colegas com um novo argumento.
Circulava nos bastidores que a reeleição de todos os membros da Mesa Diretora foi o motivo da baixa adesão à lista de Lorenzoni. Na PEC de Durão, os cargos de primeiro e segundo secretários foram colocados na roda para tentar destravar a PEC. O texto se concentrou na reeleição de Ferraço e ponto.
De cara, Durão conseguiu cinco novas adesões, subindo de oito para 13 o número de deputados. Parecia que a PEC reformulada tinha tudo para decolar. Mas na mesma velocidade que a empolgação tomou conta dos ferracistas, veio a frustração desconcertante. Uma ordem do Palácio Anchieta mandou os governistas travarem imediatamente a nova PEC. Quase que simultaneamente ao comando palaciano, já havia deputado “arrependido”, pedindo para Durão retirar seus nomes da lista. Independentemente da ordem expressa do Anchieta, o sucesso da PEC não dependia de uma questão numérica. Se fosse vontade do governador, Ferraço já teria conseguido as assinaturas necessárias para aprovar a PEC e mais algumas. Não é o caso.
Ferraço foi vítima da prórpia impaciência. A sinalização que ele tinha do governador Paulo Hartung (PMDB) era para deixar a PEC para depois das eleições municipais, já que a escolha do chefe do Legislativo acontece somente em fevereiro do ano que vem, na volta do recesso. Mas a ansiedade de Ferraço falou mais alto. Ele teme que a eleição de outubro mude drasticamente a composição da Casa, já que seis ou sete deputados podem se eleger prefeito. Isso obrigaria Ferraço a partir para uma nova rearticulação com “estranhos”.
O naufrágio iminente da segunda PEC pode ser também o fim do sonho de Ferraço de se manter no comando do Legislativo estadual. Embora Ferraço jure de pés juntos que tem se mantido alheio às movimentações para emplacar a PEC, os deputados, mais do que ninguém, sabem que a manobra da reeleição tem a sua digital. Logo, todo o insucesso recai sobre Ferraço.
Hartung, não é novidade para ninguém, tolera o atual presidente. A instabilidade e imprevisibilidade do decano, como no caso da PEC mal-ajambrada da reeleição, são características de Ferraço que sempre deixaram o governador com os dois pés atrás. O desgaste antecipado de Ferraço pode ser a brecha que faltava para o governador Paulo Hartung se livrar dele e lançar o presidente dos seus sonhos.
O nome favorito hoje do Palácio Anchieta seria o do deputado licenciado Rodrigo Coelho (PDT). Hartung mandou o ex-petista estrategicamente para a Secretaria de Assistência Social para preservá-lo da turbulência da Assembleia em ano eleitoral. Depois que baixar a poeira das eleições, ele pode ser reintegrado ao Legislativo para pôr em curso o plano de Hartung.
Com livre trânsito entre as lideranças da Casa, Coelho e visto pelos colegas como um deputado equilibrado e conciliador. Para Hartung, o presidente “ideal”. Fosse no futebol, Coelho seria aquele jogador que todo técnico gostaria de ter no elenco. Não é o craque do time. Longe disso. Mas é a peça versátil, o coringa, aquele que absorve os comandos táticos do técnico com presteza, esbanja disciplina e ainda é um defensor incondicional do “fair play”. Que outras qualidades seriam desejáveis?