Fotos: Leonardo Sá / Porã
O clima esquentou na sessão da Assembleia Legislativa na tarde desta terça-feira (16) por causa da votação das contas do governador Renato Casagrande relativas ao exercício de 2013. A situação ficou tão tensa que o presidente da Casa, Theodorico Ferraço (DEM) encerrou a sessão, sem que nenhum item da pauta tenha ido à votação. A discussão volta ao plenário nesta quarta-feira (17), mas os deputados deixaram o plenário ainda exaltados e não há garantia de acordo para a sessão desta quarta.
A situação se mostrou complicada ainda no início da sessão. Na abertura dos trabalhos, o líder do governo, deputado Vandinho Leite (PSB), solicitou à Mesa a permissão para que o secretário-chefe da Casa Civil Tyago Hoffmann pudesse entrar no plenário. Já o líder informal do governador eleito, deputado Paulo Roberto (PMDB), tentou impedir a entrada do secretário, afirmando que os parlamentares estariam se sentindo constrangidos pela presença do secretário na Casa no momento da votação. Hoffmann, porém, acompanhou os trabalhos e se manteve distante dos deputados nos momentos de maior tensão. Ao final da sessão, o secretário deixou o plenário sem falar com a imprensa.
O deputado Marcelo Santos (PMDB) propôs que o secretário ficasse na sala de atas e o pedido foi aceito pelo deputado Nilton Baiano (PP), que presidia a sessão no momento, mas foi preciso que o deputado Theodorico Ferraço assumisse o cargo para que a confusão não começasse ali mesmo. Depois de lido o Expediente da Casa e votada a supressão da fase das comunicações, o deputado Paulo Roberto pediu verificação de quórum e os deputados aliados esvaziaram o plenário.

Mas muitos deputados favoráveis à rejeição da matéria estavam no local, mas não registraram as presenças e foram cobrados de forma vigorosa pelos colegas. Entre os deputados citados pelos governistas estavam Euclério Sampaio (PDT), José Esmeraldo (PMDB, Nilton Baiano (PP), Paulo Roberto e Hercules Silveira (PMDB).
A partir daí o microfone de aparte serviu para uma série de acusações entre deputados. Os governistas passaram a dar nomes aos bois. O deputado Freitas (PSB) cobrou a presença de Hercules, já que o peemedebista faz sempre questão de registrar presença e não falta às sessões. O deputado Da Vitória (PDT) destacou que os presidentes da comissão de Finanças, Dary Pagung (PRP); e de Justiça, Elcio Alvares (DEM), estavam na antessala e se recusavam a registrar a presença. Como não tinham registrado presença, os parlamentares acusados não puderam pedir a palavra para reagir.
Hercules e Freitas iniciaram um processo de discussão dentro do plenário e tiveram que ser separados pelos seguranças. Quem também quase chegou as vias de fato foi Euclério Sampaio com Gilsinho Lopes, que disparou contra os deputados que obstruíam a sessão, dizendo que eles eram “covardes”.
Freitas deixou implícito em seu discurso que diante da obstrução dos deputados aliados do governador eleito, os deputados governistas poderiam esvaziar o plenário na votação das outras matérias. “Com um plenário dividido não é possível votar nenhum projeto”.
Na pauta, além das contas do governador estavam projetos de concessão de abono aos servidores públicos, que poderiam ficar prejudicados com o embate político. A última sessão prevista para esta legislatura é a da próxima segunda-feira (22). Os deputados aliados do governador eleito manobram a votação para que o assunto fique para depois do recesso, quando metade do plenário será renovada.

Um dos discursos que mais chamou a atenção de quem acompanhava a sessão foi o do deputado Cláudio Vereza (PT). Ele renunciou ao cargo de líder da bancada petista, porque seus colegas Rodrigo Coelho e Lúcia Dornellas não compareceram à sessão e não justificaram o motivo.
Apesar de haver uma recomendação da Executiva do PT, definida na noite dessa segunda-feira (15) para que a bancada votasse favoravelmente as contas do governador, ele disse que não conseguiu se reunir com a bancada nesta terça-feira para definir o voto e desabafou, dizendo que ser líder não valia “merda nenhuma”.
A declaração de Vereza foi contemporizada pelo deputado Roberto Carlos, afirmando que os deputados vão conversar com o parlamentar porque gostariam que ele encerrasse a carreira política como o líder da bancada e que a declaração foi feita em um momento de forte emoção. Vereza deixou o plenário sem falar com a imprensa, mas reafirmou sua posição pelas redes sociais.
Ainda em seu discurso, Vereza alertou para o perigoso precedente que estava sendo criado na Assembleia com a possibilidade de rejeição das contas de Casagrande. “Estão querendo chicotear o governador cancelando os direitos políticos dele, com a rejeição de contas”, disse.
Ele destacou que o PSB fez coro a ideia de crime cometido pela presidente Dilma Rousseff, no descumprimento da meta fiscal, mas ressaltou que não se trata disso. “Se fosse crime, o governador eleito já deveria estar preso e eu também por ter sido conivente”, afirmou o deputado fazendo referência ao descumprimento de metas fiscais pelo ex-goverandor Paulo Hartung em seus mandatos passados, o que não impediu que suas contas fossem aprovadas pela Assembleia à época.

Em meio à confusão, uma solução para o impasse foi apresentada pelo deputado José Carlos Elias (PTB). Ele propôs um acordo para que as contas pudessem ser aprovadas com ressalva. Mas disse que não discutiria a proposta se a sessão fosse encerrada, o que acabou acontecendo. Mas havia por boa parte dos deputados uma sinalização de que o acordo pudesse ser fechado e a conversa deve ser retomada nesta quarta-feira.