Os familiares e amigos das 14.234 pessoas assassinadas no Estado, durante os oitos anos (2003 – 2010) do governo Paulo Hartung, devem estar revoltados com a mais nova promessa do candidato do PMDB. Eles devem estar se perguntando por que o ex-governador não balançou sua varinha de condão e combateu antes o problema da violência, evitando a morte de milhares de pessoas.
No seu programa eleitoral, Hartung parece ter “tirado da cartola” um coelho, que ele batizou de projeto “ocupação social”. Ele promete que o projeto é a solução definitiva para conter a violência no Espírito Santo. Hartung fala com propriedade sobre o problema da violência, como se fosse um dedicado estudioso do tema. Para quem sobreviveu à violência durante todos esses anos, o discurso, de tão audacioso e prepotente, chega a parecer provocação.
Na propaganda eleitoral gratuita da TV, o candidato do PMDB, confortavelmente acomodado numa bela varanda, com baía de Vitória ao fundo, apresenta seu mais novo projeto. Ele fala da “ocupação social” como se estivesse lidando com o problema da violência pela primeira vez.
No programa, o candidato omite do eleitor que seu governo não desenvolveu um programa sequer para combater a violência, tampouco revela que o Estado registrou os priores índices de homicídios dos últimos 30 anos no período em que esteve à frente do governo.
Mas como a câmara grava tudo o que se move e emite sons, o candidato não teve dificuldades em jogar no ar palavras de efeitos para tentar convencer a população de que tem a “fórmula mágica” para resolver um problema que atormenta o capixaba há mais de uma década.
O candidato diz que os jovens em situação de vulnerabilidade social precisam de uma escola diferenciada. Ele propõe a escola viva. “Estamos propondo uma ocupação dos territórios violentos. Mas não é ocupação de força, tendo apenas aparato policial, é uma ocupação social. Educação abre portas e janelas de oportunidades. E o escola viva é um novo modelo de incentivo para os jovens se prepararem para ingressar no mercado de trabalho e não se tornarem presas fáceis do descaminho do tráfico e do crime”, simplifica, ignorando a complexidade de uma ação dessa natureza.
O texto é tão artificial quanto o projeto. Quem ler com mais atenção as declarações de Hartung sobre o “ocupação social”, em veículos diferentes, vai perceber que as frase se repetem, dando a impressão de que o texto foi decorado. Qualquer candidato bem treinado e com uma equipe técnica de primeira, como é o caso da de Hartung, poderia fazer as mesmas promessas. Talvez até expressando mais credibilidade, porque nenhum deles tem no currículo um saldo de mais de 14 mil mortes.