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Deputados racham alianças e demarcam espaços para disputa em 2024

Primeira semana de trabalhos na Assembleia revela cenário de disputa por poder que poderá provocar novos rachas

Os deputados estaduais encerraram a primeira semana de trabalho, na antevéspera do Carnaval, com uma marca extremamente relevante: a fragilidade dos elos de alianças quando se trata da demarcação de terreno para assegurar o capital político e garantir novos espaços visando as eleições municipais de 2024. Um dos pontos, que há muito entrou no rol das práticas normais, embora não seja, é a moeda de troca representada pelos intocáveis cargos comissionados e cabos eleitorais, que inundam a máquina pública em todos os níveis, sem exceção.


Com perfil conservador, a atual legislatura mantém o representante da extrema direita, Capitão Assumção (PL), com o reforço do novato Callegari, também do PL, e do restante da bancada bolsonarista, formada por mais três parlamentares. Somados aos chamados independentes, como Theodorico Ferraço (PP) e os insatisfeitos Gandini (Cidadania) e Vandinho Leite (PSDB), representam um bloco com cacife para promover obstrução a projetos do governo, considerando outros como Hudson Leal (Republicanos), que poderão ser motivados nesse sentido.

Um cenário no qual se destaca o presidente Marcelo Santos (Podemos), que busca ampliar espaços para muito além da Assembleia, a exemplo do seu antecessor, Erick Musso (Republicanos). Com o Legislativo sob seu controle, ativada a influência nos mais de 300 cargos comissionados, o deputado espalha seu raio de ação e pavimenta caminhos. Visando aproximar o trabalho do Legislativo estadual e o dia a dia das cidades capixabas, o presidente recebeu prefeitos das regiões norte e noroeste no último dia 14. Tratou de uma pauta conjunta com os municípios e o Estado para buscar mais recursos da União.

A partir da eleição de Marcelo Santos para a presidência da Assembleia, foi gerado um ambiente de mágoas e desafetos – novos e antigos -, como o deputado Vandinho Leite, derrotado na disputa, fato desfavorável para quem quer ser prefeito da Serra, exemplos não faltam. Houve racha na base do governo culminando com a explosão de Fabrício Gandini (Cidadania), apartando-se do bloco governista e, na fervura das articulações, os comissionados.

Gandini afirma que deixou a base do governo em decorrência de atritos em torno de uma emenda de sua autoria passando a bolsa-estudante de R$ 400 para R$ 800. Nos meios políticos, no entanto, o rompimento ocorreu em decorrência da exoneração de seu aliado de longa data, articulador de campanha eleitoral, Anael Parente, formalizada pelo secretário de Estado de Esportes, José Carlos Nunes (PT).

Uma aliança que remonta a 2015, o hoje deputado foi vereador na gestão do então prefeito Luciano Rezende (Cidadania), de quem foi coordenador do chamado Gabinete Itinerante. O deputado nega, mas não há como desvincular os dois fatos, acrescido de outro, a pretensão de voltar a disputar a Prefeitura de Vitória em 2024, mesmo objetivo do seu colega de legislatura, João Coser, também do PT, como ocorreu em 2020.

O racha de Gandini com o governo reforça, pelo menos em tese, o objetivo do PT de voltar à Prefeitura de Vitória com o apoio do PSB de Casagrande. Uma forma de recompensa pela retirada da candidatura do senador Fabiano Contarato ao governo do Estado, em 2022, com 15% da preferência sinalizada nas pesquisas iniciais, e considerada, na ocasião, ameaça à reeleição do governador.

Ao reunir prefeitos e apontar para pautas nacionais, Marcelo Santos aumenta a densidade eleitoral e também pode contribuir para estabelecer no Legislativo estadual um debate mais consistente sobre temas nacionais, que, embora envolvam diretamente estados e municípios, na maioria das vezes passam batido no leque de preocupações dos deputados, mais voltados para assuntos mais paroquiais.


Em que pese o interesse político-eleitoral da iniciativa de torná-lo apto a disputar a Prefeitura de Cariacica, que ele nega, o parlamentar contribui para enriquecimento da pauta e amplia o nível de pressão junto ao governo, de um Estado sem muita projeção no âmbito nacional. Marcelo Santos diz que o Espírito Santo é um “Estado pagador”.

“Contribuímos muito para a receita da União, com tudo o que nós movimentamos economicamente, como a área portuária, café, pedras e tantas outras que fazem o Espírito Santo reconhecido nacionalmente como uma unidade da federação muito produtiva. E não temos um retorno à altura do que nós contribuímos. Vou dar um exemplo: Sergipe é um estado que contribui muito menos e recebe muito mais que o Espírito Santo”, afirma.


Já o líder do Governo, Dary Pagung (PSB), tenta equilibrar forças antagônicas dos independentes, de Theodorico Ferraço (PP) e dos oposicionistas declarados da direita e da extrema direita, filiados ao PL bolsonarista, a maior bancada, com o que resta da base, considerando que nesse grupo muitos projetos pessoais, entre estes, e principalmente, as eleições municipais, deverão provocar choques e futuras fissuras. O mercado assim aponta e enfatiza a tênue linha da fidelidade. 

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