O presidente da Assembleia Legislativa, Theodorico Ferraço (DEM), que na semana passada conseguiu bastante visibilidade ao se apresentar como candidato do governador Paulo Hartung (PMDB), depois de fazer a devolução de R$ 25 milhões ao Executivo, pode ter lustrado a imagem para a população, mas causou incompatibilidades internas no Legislativo.
Todo o processo de devolução já estava causando mal-estar no plenário antes mesmo da cena na última quarta-feira (12) no Palácio Anchieta. A decisão de devolver o dinheiro não foi discutida com os parlamentares, e além disso, Ferraço havia feito uma sugestão da aplicação do dinheiro devolvido em ações na área da saúde, mas no sul do Estado, sua base eleitoral.
Para alguns deputados, Ferraço não fez uma ação voltada para a Casa e sim para seus projetos pessoais, o que pode ter prejudicado a construção de seu palanque à reeleição para a presidência da Mesa Diretora. Na mesma medida em que ele se enfraqueceu no plenário, o grupo de deputados que já vinha discutindo a interlocução com o governo em um patamar de igualdade com o Executivo, ganhou força.
Alguns deputados que não concordaram com a forma adotada por Ferraço no episódio da devolução dos recursos, acabaram se aproximando do outro grupo, que continua fortalecido e unido na discussão dos espaços dentro da Casa. A discussão envolve deputados reeleitos e novatos, que não querem uma posição de submissão da Assembleia em relação ao governo, o que não significa oposição.
Os deputados do grupo entendem que desde 1º de janeiro, quando Paulo Hartung tomou posse, o Legislativo deve trabalhar pela governabilidade do peemedebista, mas querem manter o Poder forte e independente.
O que chama a atenção dos meios políticos é que no grupo estão deputados que trabalharam pela Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que permite a reeleição entre uma legislatura e outra. A emenda beneficia diretamente o deputado Theodorico Ferraço, por isso, imaginou-se, naquele momento, que o plenário estava decidido a manter o demista à frente da Casa.
Mas a proposta foi na verdade um recado para Hartung. À ocasião, acreditava-se que Hartung iria impor o nome de seu aliado Guerino Zanon (PMDB). Como a experiência com o peemedebista não foi boa para os deputados, eles não querem repeti-la. Apoiar o nome de Ferraço pareceu uma forma de mostrar ao governador essa nova Legislatura quer participar do processo de escolha do presidente.