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Divergências ideológicas na Adufes agravam racha e levam diretores à renúncia

Daniela Zanetti, Marlene Cararo e Nelson Figueiredo deixaram a Associação dos Docentes da Ufes

Divergências na diretoria da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Espírito Santo (Adufes) levaram os diretores ligados ao PT a romper e deixar os cargos que ocupavam na entidade. No início deste mês, os professores Daniela Zanetti, Marlene Cararo e Nelson Figueiredo divulgaram uma carta renúncia, na qual condenam “tratamento dado às divergências de caráter político e ideológico dentro e fora do corpo diretivo e, portanto, a impossibilidade de construção de ações políticas consensuais”.

Os ex-diretores destacam, no texto da carta, o “momento de intensa crise política do país, agravada pela pandemia do coronavírus e pela condução de um governo de ultradireita, autoritário e insensível às reais necessidades da população brasileira. Ao mesmo tempo, em todo o mundo, a classe trabalhadora vem amargando a precarização crescente de suas condições de trabalho, causada pela ampliação de ‘novos’ padrões de exploração do capitalismo, sustentados pela ‘economia de plataforma’ e pela falácia do empreendedorismo”.

E ainda: “Mais do que nunca, trata-se de um momento que exige um esforço para agregar forças contra o fascismo e a favor da democracia. Os sindicatos têm um importante papel nesse cenário, de não apenas lutar pelos direitos das categorias que representam, mas também defender a justiça, combater as desigualdades sociais e os autoritarismos de todo tipo. A eleição de 2019 para a Associação dos Docentes da Ufes (Adufes), seção sindical do Andes, conseguiu mobilizar um grande número de professores em torno da disputa entre as três chapas concorrentes”.

Os diretores que renunciaram apontam que a chapa 3 – Adufes Propositiva e Plural, tinha como proposta “agregar diferentes perspectivas políticas e ideológicas e representar a diversidade que compõe nossa categoria: docentes que têm em comum a defesa da educação pública e de qualidade, a valorização das humanidades e o compromisso com o desenvolvimento científico e tecnológico do país. Houve também grande mobilização para a composição dos conselhos de representantes”.

O texto destaca que, “de acordo com o estatuto da Adufes, a diretoria é o órgão executivo e administrativo, a qual cabe, além das atribuições previstas a cada diretor, cumprir e fazer cumprir as resoluções da Assembleia Geral e do Conselho de Representantes”, ou seja, a Adufes é da base. A chapa 3 saiu vitoriosa e o ano de 2020 começou promissor para o campo progressista, com um calendário de lutas que já havia começado a mobilizar diversas categorias, sindicatos, movimentos sociais e ampla parcela da população, contrários ao governo Bolsonaro e à sua política de violência e de destruição do Estado brasileiro”.

“Contudo, o que se verificou nesses oito meses de gestão foi uma progressiva inversão de sentido na condução do programa proposto inicialmente”, diz a carta, e acrescenta: “O conceito ‘propositivo e plural’ que deveria conduzir as práticas internas e externas ao corpo diretivo, no sentido de articular as diferenças da categoria, foi substituído por uma sistemática de direção centralizadora e verticalizada, em que as divergências foram sendo silenciadas por meio de práticas de constrangimento político e moral, estreitando o espaço para a viabilização de projetos que haviam sido discutidos e decididos em conjunto no momento de construção da chapa”.

Os professores apontam a criação de um espaço desigual e atuação entre os membros da diretoria e destacam os principais pontos de divergência que os levaram “a tomar a difícil decisão de não permanecer mais nos cargos” para os quais foram eleitos.

São eles: o modo como parte da diretoria conduziu as negociações com a administração central, retirando-se do Grupo de Trabalho (GT) Ufes Covid-19 e proibindo a participação de outros integrantes para discutir alternativas frente aos problemas concretos enfrentados durante a pandemia; a ausência de espaços de escuta efetivos da categoria para buscar subsídios e conduzir as deliberações da diretoria, e tomadas de decisão sem amplo debate dentro da diretoria e junto às bases e aos conselhos de representantes; os critérios sobre a política de comunicação da Adufes, o que resultou na ausência de espaço para o pluralismo e a manifestação de divergências, mantendo um discurso sectário, pautado na construção de inimigos dentro da própria universidade – “nós versus eles” – não contemplando a diversidade da experiência concreta da categoria; o controle restritivo da manifestação de integrantes da diretoria em espaços de discussão, agravado por crescente falta de confiança em membros do grupo; e a negação do debate sobre as condições de um possível e necessário ensino remoto emergencial na Ufes, interditando a busca de alternativas que contemplem diferentes necessidades entre docentes e discentes.

A carta acentua que “representar a categoria docente na Ufes é tarefa superior aos interesses de agrupamentos politico ideológicos menores, bem como aos interesses pessoais. Requer maturidade e disposição para transigir com pontos de vistas distintos. Requer a prática tolerante de diálogos construtivos, sem prepotência e conectada de fato com a realidade que aflige as condições de vida e de trabalho daqueles a quem nos cabe representar”.

E ressalta: “Acreditamos na democracia como método de organização de nossas lutas, em defesa da educação, da ciência e de nossos direitos. Agradecemos o apoio das funcionárias e dos funcionários da Adufes nesse período e a confiança das/os docentes que votaram em nós e que acreditam na importância do nosso sindicato como instrumento democrático de articulação de forças em defesa de uma universidade pública, gratuita, de qualidade, laica e socialmente referenciada”.

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