Se tem uma coisa admirável no universo político do Espírito Santo é a capacidade de sobrevivência da senadora Rose de Freitas (PMDB). Indo pelo viés municipalista, e com sua incrível movimentação em Brasília, junto ao governo federal desde a ascensão de Lula no início dos anos 2000, ela conseguiu escapar de uma perseguição feroz do Palácio Anchieta.
Desde que Hartung ingressou no PMDB de Rose, em 2005, ela passou a ter de driblar as investidas dos interlocutores do governador para desidratar sua capilaridade. Desde muito antes ela e Hartung não se afinavam e também antes disso, Rose entendeu que seu caminho não era de composição.
A duras penas se reelegeu em 2010 como deputada federal e em 2014, disputou o Senado também sozinha, já que Hartung havia feito um acordo de bastidores com João Coser. Agora, Rose tenta um caminho que parece ser natural para uma liderança com seu peso político. Assim como foi a primeira mulher a ser eleita para o Senado no Espírito Santo, quer ser também a primeira governadora do Estado. Mas para isso vai ter que escolher uma estratégia diferente da que usou até aqui.
Não dá para disputar o governo do Estado sozinha. Ela precisa de aliados. O problema é que seu perfil político não é de coalizão e não haveria atrativo para as lideranças se unirem ao seu redor. Rose fez uma aposta na disputa da presidência da Associação dos Municípios do Estado (Amunes), apoiado o controverso prefeito de Viana, Gilson Daniel (Podemos, ex-PTN).
Mas ele sucumbiu ao sufoco imposto pela movimentação palaciana que elegeu Guerino Zanon (PMDB). Agora anda de mãos dadas com Hartung e isso foi, sim, uma perda grande para a senadora. Ela também tentou se aproximar de Renato Casagrande (PSB), mas o ex-governador tem trilhado um caminho no interior que aponta para a busca de capilaridade para um projeto próprio. Além disso, haveria o assédio palaciano para que ele se afaste de Rose. Casagrande nega, preocupado em mostrar que está na disputa, mas não sinaliza um eventual apoio à senadora.
Mas nem tudo é desvantagem no deserto político de Rose de Freitas. Ela está no meio do mandato e diferentemente de Hartung e Casagrande não tem nada a perder. Também não tem nenhuma citação na Lava Jato, Hartung e Casagrande têm. Ela tem conseguido, com seu trânsito com o governo federal, atender muito bem suas bases no interior. Casagrande está na planície e Hartung corre contra o tempo. Mas se Temer cair, as portas serão fechadas para a senadora e a torneira de recursos vai secar.
De qualquer maneira, Rose de Freitas é uma liderança que oferece perigo ao governador Paulo Hartung em seu projeto de reeleição. Ele sabe disso, tanto que tenta isolá-la. Rose é uma liderança que incomoda Hartung e ela sabe disso, mas para ameaçá-lo de fato, precisa de apoio e isso, ela ainda não tem.
Fragmentos:
1 – O Partido Verde, do deputado Evair de Melo – por enquanto – já se posicionou contra a proposta de mudança no sistema eleitoral, que propõe a instituição do chamado distritão. Promete ir à Justiça porque entende que a proposta fere o princípio do pluralismo.
2 – Sobre o pedido do governador Paulo Hartung para que seus secretários utilizem as redes sociais para “defender o governo” duas perguntas vêm à cabeça: por que o governo precisa de defesa? E por que ele mesmo não faz isso?
3 – Segundo o jornal Tempo Novo, da Serra, o grupo do vereador Aécio Leite (PT) cogita a possibilidade de ele disputar a eleição ao Senado no próximo ano. Seria um passo e tanto disputar uma eleição de mais de um milhão de votos para quem teve apenas 2.373 na disputa de 2016.