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Em busca de identidade, Assembleia recebe governador eleito nesta quarta

Nesta quarta-feira (15) o governador eleito, Paulo Hartung (PMDB) fará uma “visita cordial” à Assembleia Legislativa. Esta semana ele já esteve no Tribunal de Contas do Estado e no Tribunal de Justiça, seguindo a série de encontros com os chefes das instituições do Estado. Mas o clima que encontrará na Casa é de indefinição. 
 
Hartung visita uma Assembleia em clima tenso. Nessa segunda-feira (13), a Casa completou 12 sessões ordinárias sem deliberações e embates entre os deputados. Um grupo de parlamentares, que não está alinhado a Hartung, critica as manobras do fiel escudeiro do governador eleito, o deputado estadual Paulo Roberto (PMDB), que tem a missão de obstruir a pauta da Assembleia para que a equipe de transição de Hartung analise as propostas antes da votação.
 
Os sucessivos esvaziamentos das sessões vêm causando um desconforto no plenário, pois para parte dos deputados o nível de ingerência do Executivo ainda antes da posse desgasta a imagem do Legislativo. A preocupação de algumas lideranças é de que a Assembleia venha a se tornar novamente submissa ao Executivo como aconteceu nos dois mandatos passados de Hartung. 
 
O plenário que Hartung visitará nesta quarta-feira é bem diferente daquele que ele vai conviver a partir de fevereiro. Metade dos atuais deputados não conseguiu a reeleição e não se sabe como vão agir os novos parlamentares que ingressam na Casa, além daqueles que pretendem disputar as eleições municipais em 2016 e que podem ter seu comportamento determinado pelo clima eleitoral em suas bases. 
 
Uma ausência significativa para o governador eleito na nova legislatura é a de Paulo Roberto. O deputado desistiu da disputa à reeleição. Disse à época que fez isso para se dedicar à eleição de Hartung, mas nos meios políticos do norte do Estado as lideranças apontavam a possibilidade de um baixo desempenho eleitoral como principal motivo. A derrota de Paulo Roberto na disputa proporcional mancharia a vitória de Hartung, já que na Assembleia ele vem se colocando na defesa do governador eleito de forma muito ostensiva, o que colava a imagem dos dois.
 
Por isso, o peemedebista teria sido convencido a desistir. Saindo do páreo há poucos dias da eleição, ou seja, com o nome consolidado e sem condições de ser retirado da urna, o nome de Paulo Roberto já estava consolidado com o eleitorado. Mesmo considerando a queda natural de votação devido à desistência, os 138 votos recebidos pelo parlamentar mostram que seu desempenho nas urnas seria pífio.
 
Na verdade, Paulo Roberto jamais foi eleito para a Assembleia. Suas passagens pela Casa são atribuídas a movimentações de bastidores. Seu primeiro mandato foi conquistado na suplência de Jardel dos Idosos, um dos primeiros políticos brasileiros cassado por infidelidade partidária, o que causou desconfiança no mercado político. 
 
O segundo mandato também causou polêmica. A eleição 2012 mexeu com a composição do plenário. Paulo Roberto que na eleição de 2010, havia ficado na suplência pelo PMN, deixou o partido e foi para o PMDB, por sugestão de Hartung. Como a vaga pertence à coligação e não ao candidato, a vaga deveria ser do vereador de Colatina Olmir Castiglione, do PSDB, mas uma reviravolta no Tribunal de Justiça deu a vaga a Paulo Roberto. 
 
Ignorando a lógica da vaga pertencer à coligação, a Justiça se limitou a aceitar a justificativa para o deputado mudar de partido. O episódio também aumentou nos meios políticos a impressão de ingerência de Hartung na questão. 
 
Por conta de movimentações como essa, o mercado político estaria preocupado com essa ação que parece ser uma tentativa de recomposição do arranjo institucional, garantindo unanimidade em favor de Hartung na Assembleia, que sustentou o governo nos dois mandatos. Mas a situação é diferente, já que o ambiente político é outro. 
 
Diferentemente de 2002, quando Hartung chegou ao governo pela primeira vez, ele construiu um arranjo com a sociedade organizada, tendo como justificativa o que chamou de “faxina ética” no Estado. Isso serviu como subterfúgio para Hartung criar uma imagem ilibada e submeter a Assembleia em um momento fragilizado ao seu controle. 
 
No próximo mandato, porém, Hartung não tem mais condições de retomar o discurso do combate ao crime organizado. Tenta colocar um discurso de ataque ao que vem classificando de “velha política”, mas sua situação é bem diferente. Há resistência dentro dos Poderes, o que dificulta a recomposição do arranjo. Embora, a possibilidade de utilização da imprensa corporativa contra a classe política ainda seja uma ameaça constante. 
 
O fato de várias denúncias contra Hartung terem vindo à tona durante a campanha favorece o contra-ataque da classe política em uma resistência à submissão ao governador, tornando necessária uma nova abordagem para evitar a oposição. Mesmo assim, Hartung terá de enfrentar lideranças sob a influência do governador Renato Casagrande (PSB), que deixa o governo criando uma expectativa de que vai reunir os dissidentes do sistema do governador eleito.

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