O prefeito de Viana, Gilson Daniel (PV), divulgou na noite desta sexta-feira (24) uma carta anunciando a retirada de sua candidatura da disputa à presidência da Associação dos Municípios do Estado (Amunes). A saída de Gilson Daniel já havia sido antecipada por Século Diário. Havia a expectativa de que a chapa saísse em bloco, em um ato de protesto à interferência do governador Paulo Hartung no processo eleitoral da entidade.
Embora ele não cite Paulo Hartung, a carta do prefeito é um claro desabafo à ingerência do governador no pleito. Gilson Daniel não poupa críticas à manobra palaciana para o esvaziamento de sua chapa e revela uma série de ameaças aos prefeitos que o apoiavam, com a intenção de minar sua candidatura.
“Vários prefeitos se viram obrigados a retirar seu nome da nossa chapa, com ameaça velada, de não sobreviverem isolados e apartados da administração estadual, pois ficariam sem qualquer apoio, verbas e convênios de qualquer natureza. E passaram a conversar sobre promessas de obras arduamente batalhadas pelos nossos prefeitos”, escreveu num dos trechos da carta.
Ele criticou o viés político atribuído pelo próprio governador à disputa, afirmando que a chapa visava gerir a Amunes não como um trampolim político, mas com liberdade e respeito ao processo que deveria ser democrático. Mas que a pressão foi intensa nos prefeitos que se aliaram ao seu grupo.
“No entanto, aquilo que deveria ser um processo democrático se transformou em uma guerra de bastidores políticos, com ameaças e constrangimentos desnecessários em uma verdadeira afronta à democracia e honra política de cada um daqueles que se somaram numa caminhada”, afirmou.
Na carta, Gilson Daniel também revela como foi a estratégia palaciana e tenta convencer que está saindo da disputa como vencedor moral. “Não abdicamos da luta, mas nos retiramos de um cenário de autoritarismo, manobras e ameaças estarrecedoras”, disparou o prefeito.
O prefeito agradece aos aliados que estiveram com ele durante os meses de construção da candidatura e do debate sobre a agenda municipalista pensada para a sua gestão. Ele destaca que já havia manifestado o interesse de disputar a eleição da entidade em 2015, mas acabou atendendo ao apelo do governador Paulo Hartung para aderir à chapa que reconduziu Dalton Perim (PMDB) ao comando da entidade.
Com a retirada da chapa de Gilson Daniel, o prefeito de Linhares, no norte do Estado, Guerino Zanon (PMDB) será aclamado presidente da Amunes na próxima terça-feira (28), data marcada para a eleição.
Veja abaixo a íntegra da carta de Gilson Daniel
Democracia, honra e companheirismo
Inicialmente, gostaria de agradecer a cada um que, durante meses de diálogos e reflexões, se dispôs, com novas ideias, construir uma proposta para organizar uma nova agenda para a Associação dos Municípios do Espírito Santo (AMUNES), órgão representativo dos nossos municípios.
Aqueles que, sobretudo, se propuseram a enfrentar nossos desafios estruturais e municipalistas, fortalecendo uma instituição bastante enfraquecida diante dos governos estadual e federal. Construir, sobretudo, uma AMUNES que fosse fonte permanente de debates e propostas no enfrentamento dos nossos problemas nas áreas mais sensíveis, como saúde, educação, mobilidade urbana, segurança e várias outras políticas sociais. Propor e trabalhar em conjunto, com união e harmonia, construindo parcerias para encontrar, regionalmente, saídas para melhor estruturar a qualidade de vida da nossa população.
Fizemos esse trabalho ouvindo todos os prefeitos e outras tantas lideranças afinadas com estas novas ideias sem, contudo, incluir agendas políticas futuras que pudessem comprometer a legitimidade da nossa luta pela AMUNES. Sem influências, sem trampolins políticos, mas com liberdade e respeito a esse processo que deveria ser essencialmente democrático.
Formamos uma chapa com vários companheiros e a registramos conforme determinação legal. Nos dispusemos a defender nossas propostas, sem, contudo, imaginar que agentes políticos do poder do nosso Estado passassem a nos confrontar, numa verdadeira odisseia de constrangimentos e ameaças aos prefeitos e suas administrações, pelo simples fato de ousarem democraticamente a participar dessa iniciativa. O que todos nós queríamos, nessa construção, era participar de um órgão verdadeiramente representativo de nossas lutas municipalistas.
Registro que, em 2015, estimulado por muitos, já nos dispúnhamos a esse trabalho de fortalecimento da AMUNES. No entanto, por solicitação do governador Paulo Hartung, aceitamos, de boa fé, apoiar a recondução do atual presidente, esperando uma próxima oportunidade para lutar por nossas ideias, o que teve, naquele momento, a aquiescência de todos.
No entanto, aquilo que deveria ser um processo democrático, se transformou em uma guerra de bastidores políticos, com ameaças e constrangimentos desnecessários, em uma verdadeira afronta à democracia e honra política de cada um daqueles que se somaram a essa caminhada.
Vários prefeitos se viram obrigados a retirar seu nome da nossa chapa, com ameaça velada, de não sobreviverem isolados e apartados da administração estadual, pois ficariam sem qualquer apoio, verbas e convênios de qualquer natureza. E passaram a conversar sobre promessas de obras arduamente batalhadas pelos nossos prefeitos.
Muitos permaneceram e resistiram. Mas, a cada momento de desistência, éramos obrigados a substituir os nomes em nossa chapa e manter de pé, com dignidade, a iniciativa do nosso movimento. Mas, agora, nesse momento, tive entendimento que não poderia ser eu, aquele que lutava com seus companheiros democraticamente, a provocar essa batalha extenuada de poder, tão desnecessária a meu ver, que iria levar a muitos prefeitos o sofrimento e um mar de dificuldades.
Por isso, solicitei a todos que resistiram bravamente a toda sorte de imposição e ameaças, que retirassem seus nomes da chapa democraticamente constituída e deixassem de vez o processo da disputa eleitoral da AMUNES.
Não abdicamos da luta, mas nos retiramos do cenário de autoritarismo, manobras e ameaças estarrecedoras que, caso viessem a se cumprir, poderia causar enormes prejuízos ao convívio democrático de todos e maiores dificuldades ainda pelas quais passam todos os prefeitos em vários municípios.
O que me preocupa é a legitimidade da AMUNES em defender, realmente, os interesses dos municípios. Talvez, em outro momento, onde a democracia, a honra política e a luta dos municípios possam ser respeitadas, possamos construir e sonhar com a implantação de nossas ideias, com a liberdade de quem, eleito pelo povo de suas cidades, ousamos construir. Caros prefeitos, continuaremos parceiros, unidos e trabalhando em prol dos nossos municípios. Muito obrigado pela força, estímulo e confiança.