O primeiro debate eleitoral da disputa ao governo do Estado, realizado pela Rádio CBN Vitória nesta segunda-feira (28), foi marcado pela polarização entre o atual governador, Renato Casagrande, e o seu antecessor, Paulo Hartung (PMDB). Como já era esperado, o primeiro round da batalha entre os dois principais rivais ao Palácio Anchieta indicou como deverá ser o clima de hostilidade ao longo da campanha. Casagrande enfatizou as realizações ao longo dos três anos e meio de governo e criticou o “passivo social” deixado pelo adversário. Enquanto o ex-governador abusou das ironias para criticar o retrocesso da atual gestão.
No decorrer de uma hora e meia de debate, Casagrande e Hartung se revezaram nas respostas às perguntas dirigidas exclusivamente a eles – os candidatos Roberto Carlos (PT) e Camila Valadão (PSOL) também fizeram seus questionamentos à dupla. A diferença entre o socialista e o peemedebista ficou clara logo no primeiro bloco. Apesar de ter sido o “fiador” da eleição de Casagrande no palanque da continuidade em 2010, coube a Hartung o primeiro “petardo” contra o governador.
Na primeira pergunta do debate, Casagrande questionou a falta de clareza no programa de governo do adversário sobre a educação em tempo integral, projeto que foi implantado somente na atual gestão. No entanto, o ex-governador usou a pergunta para discursar sobre a Educação – tema comum nas palestras que fez durante o tempo de planície política, portanto, um tema nada embaraçoso para ele – e decidiu partir logo para o ataque ao se lembrar da recente greve do magistério estadual, a qual classificou como “sem precedentes” na história recente do Estado.
Na mesma resposta, Hartung também fez questão de separar as duas gestões. “O atual governo conseguiu o impossível, regredir. O Espírito Santo perdeu ritmo e perdeu o rumo”, disparou o peemedebista. Casagrande demonstrava não esperar um ataque mais duro tão cedo. Pelo menos, a ofensiva serviu para colocar o governador no tom esperado do debate, que era da comparação entre as duas gestões: de um lado, um governo sem rumo, na visão de Hartung, contra um governo autoritário, de acordo com a classificação feita por Casagrande dos rumos dados pelo antecessor à gestão.
Esse clima de hostilidade ficou claro duas questões seguintes, quando foi a vez de Hartung perguntar ao socialista. O peemedebista criticou a política fiscal do Estado, citando os recursos financeiros herdados por Casagrande – o famoso “colchão”, em alusão aos R$ 1,5 bilhão que Hartung teria deixado em caixa no final do governo. Neste ponto, o governador acusou o antecessor de ser “desonesto” na análise dos números. Em seguida, Casagrande ressaltou o desempenho da atual gestão fiscal e citou o “passivo” deixado pelo antecessor nas áreas social e de projetos estruturantes.
“É impressionante a postura de quem quer achar que o capixaba não tem memória”, sentenciou o governador sobre o adversário, que não teria preparado o Estado para a “crônica da morte anunciada” do Fundap. Esse tema voltou mais adiante, quando o peemedebista reprovou a alegada falta de empenho na manutenção do benefício. No que foi prontamente retrucado por Casagrande ao afirmar que “todo mundo sabia que o Fundap estava próximo do fim”.
O clima voltou a esquentar nos blocos seguintes na discussão sobre a demora na conclusão de obras públicas anunciados no governo passado. Hartung citou a reforma do Hospital São Lucas, a construção da rodovia Leste-Oeste (que vai ligar Cariacica e Vila Velha), o BRT (corredores exclusivos de ônibus) e o Contorno do Mestre Álvaro, na Serra. Segundo ele, todas essas obras foram iniciadas por ele, mas até hoje ficaram apenas na promessa. Mas desta vez a pergunta foi a “deixa” para o principal ataque do socialista ao antecessor. Casagrande denunciou a falta de projetos executivos na gestão do antecessor, o que contribuiu para o atraso das obras.
“Consertar é mais difícil que começar errado. O BRT, por exemplo, não começou no governo passado. O que se tinha era apenas conversa. Fizemos o projeto executivo e iniciamos as obras que tem vários eixos, cujo investimento chega a um bilhão de reais. Na Leste-Oeste foram necessárias quase 300 desapropriações, três projetos executivos, já que ela foi contratada sem qualquer projeto. O mesmo aconteceu com o [estádio] Kleber Andrade. As obras do novo São Lucas começaram de trás para frente”, criticou Casagrande.
Diante do visível embaraço, o ex-governador buscou o caminho da ironia para atingir o socialista: “É curiosíssimo, parece que a vida começou a partir de 2011. Parece que tudo que foi feito antes foi errado. O ouvinte deve estar pensando, como é que pode? Se fosse a Camila [Valadão] falando, tudo bem. Mas aquele que disputou eleição em cima do legado do meu governo, do tempo que eu administrei, como diria Caetano ‘É o avesso, do avesso, do avesso”.
Já Casagrande rebateu na mesma moeda. “A vida não começou em 2011, mas também não terminou em 2010, a vida continua. E tem gente que precisa reconhecer que tem equipes que conseguem fazer muita coisa, como fizemos na área de infraestrurura e social. Todos capixabas sabem como lutei pela unanimidade, mas como fui atacado, tenho que defender o meu governo”.
Apesar de não ter relação com as questões feitas no debate, essa troca de farpas evidencia o clima ao longo da campanha até o próximo dia 5 de outubro – caso o pleito seja decidido no primeiro turno. Vale o registro que, durante todo o debate, os dois candidatos mal se olharam e aproveitaram as respostas aos dois adversários para cutucar o rival. Casagrande se referiu ao antecessor como “candidato do PMDB”, estratégia que foi copiada pelo ex-governador na parte final do evento. Por aí se tem ideia do nível de hostilidade.