
Nesse sábado (19), Paulo Hartung deu início oficial à sua campanha ao governo do Estado. Disse que escolheu Colatina porque a cidade é “pé quente”. Não importou para o ex-governador o fato de o prefeito da Princesinha do Norte ser do PT, partido do qual sempre manteve distância. Tudo bobagem. Em fidelidade a Hartung, Leonardo Deptulski, fazendo as vezes de anfitrião da festa, não se constrangeu nenhum um pouco na hora de dividir o palanque com Hartung, que sempre criticou o então presidente Lula e hoje repele a presidente Dilma.
O prefeito petista levou a incoerência partidária ao extremo ao se colocar lado a lado a duas expressivas lideranças tucanas no Estado: o candidato à Câmara e ex-prefeito de Colatina, Guerino Balestrassi, e o deputado federal e candidato a vice de Hartung, César Colnago. O último, em especial, de cada dez palavras que pronuncia onze são críticas direcionadas ao governo Dilma e ao PT.
Mas nada disso parecia incomodar Deptulski no sábado de festa. O episódio do lançamento da candidatura de Hartung em Colatina traz à tona uma questão importante para o eleitor refletir: políticos que não têm coerência ideológica às diretrizes do partido são confiáveis?
Quem acompanha a trajetória política de Deptulski sabe que, acima de ser petista, o prefeito é hartunguete de carteirinha. Por isso é de se estranhar a reação da deputada federal Iriny Lopes (PT), que não engoliu a ciceronagem do prefeito de Colatina aos rivais do PT.
Chega a ser curiosa a surpresa da deputada Iriny, que conhece muito bem Leonardo Deptulski, e sabe que essa não é a primeira nem a última vez que seu coração hartunguete bate mais forte ao chamado do líder. Nas eleições de 2012, depois de serem reeleitos com o apoio de Hartung, Deptulski e Carlos Castiglione, prefeito de Cachoeiro de Itapemirim, contrariaram a decisão do partido para, mais uma vez, atender aos apelos do ex-governador, que pedia apoio para o então candidato a prefeito Rodney Miranda (DEM), que disputava o segundo turno das eleições em Vila Velha com o candidato Neucimar Fraga (PV).
Deptulski e Castiglione, não meros integrantes do partido, mas fundadores do PT, atropelaram a decisão do diretório de Vila Velha que resolveu que o PT ficaria neutro naquela disputa. À época, Iriny e outros petistas históricos, como Perly Cipriano e o deputado Cláudio Vereza, assinaram uma nota de repúdio à atitude dos dois prefeitos, que simplesmente estavam “pagando” o apoio que receberam do ex-governador na eleição.
A desobediência dos dois prefeitos não deu em nada. Mesmo porque o dono do partido, o ex-prefeito João Coser, candidato ao Senado nestas eleições, sempre foi aliado de primeira hora de Hartung, e não ousaria contrariar um pedido do ex-governador.
Aliás, por falar em Coser… É ingênuo quem pensa que a candidata genuína de Hartung ao Senado é a deputada federal Rose de Freitas. No lançamento oficial da campanha do PMDB em Colatina, Rose ressurgiu das cinzas, depois de “sumir” do lado de Hartung desde o último dia 29 – data da convenção do PMDB.
Para fora do partido, Hartung e Rose tentaram passar o clima de que a relação entre os dois segue as mil maravilhas. A preocupação era neutralizar os comentários de que Hartung teria mandado Rose se virar com as próprias pernas, fazer voo solo, confirmando que seu candidato sempre foi Coser.
Se essa tese fosse falsa, Coser, como presidente regional partido, deveria punir imediatamente Deptulski, que, mais uma vez, desobedeceu a orientação do partido de se manter em palanque oposto do PSDB e, consequentemente, de Hartung, já que o PT tem candidatura própria ao governo, com o deputado Roberto Carlos. Mas, olhando para o histórico de Coser e Hartung, o cacique petista vai engolir a desculpa esfarrapada que Deptulski usou para dividir palanque com os adversários do PT: “A eleição não é uma guerra”. Só faltou o prefeito tentar convencer aos presentes que Papai Noel também existe.