Causou alvoroço no mercado político capixaba a reportagem de página inteira do Valor Econômico, divulgada no domingo (1) sobre a briga política entre o governador Paulo Hartung (PMDB) e o ex-governador Renato Casagrande (PSB). E não é para menos. Intitulada “Espírito Santo vive acerto de contas político”, a reportagem mostra os bastidores do rompimento entre as duas principais lideranças políticas do Estado, deflagrado no processo eleitoral de 2014, durante a disputa ao governo do Estado.
O socialista fala sobre a tentativa de desconstrução de sua imagem, com o ajuste fiscal do governador Paulo Hartung, que Casagrande classifica como “sem necessidade” e que serviria para justificar o discurso de que o Estado estaria desorganizado financeiramente. Hartung rebate. Diz que os recursos deixados por ele em 2010, para o sucessor, foram “queimados”. Mas o perfil da disputa entre os dois é situado na reportagem como um embate político e não fiscal.
Casagrande ataca Hartung, lembrando as denúncias colocadas contra o atual governador na eleição. “Gastos do Estado com viagens da primeira-dama, em fins de semana ao Rio e São Paulo; compra de terrenos por uma pessoa – ligada ao peemedebista – que depois o revendeu por ‘preço estratosférico’, no município de Presidente Kennedy”, destaca.
O Valor registra o fato de Hartung não ter declarado à Justiça Eleitoral uma mansão, em Pedra Azul, região serrana do Estado, além do fato de Hartung ter recebido R$ 5,8 milhões por consultorias prestadas depois que deixou o governo. “Ele declarou o dinheiro. Mas todas as clientes eram fornecedoras do Estado, mais de 30 empresas. A prática pela qual [o ex-presidente do PT] José Dirceu é crucificado, ele [Hartung] também usou”, afirmou o ex-governador Renato Casagrande à reportagem.
Hartung rebateu as críticas classificando as denúncias como resquício da derrota do socialista na eleição. “Isso e baixaria, é lamentável. Você vai ver onde isso começou: no fim da campanha, quando o jogo não virava”, disse.
Enquanto Casagrande parte para o ataque, Hartung usa a cautela, pelo menos no que diz respeito à discussão nacional. Se por um lado não defende o impeachment de Dilma Rousseff, não define seu preferido no ninho tucano, dizendo considerar bons os nomes de Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra.
Na campanha do ano passado, Hartung fez campanha no palanque de Aécio Neves, mas, lembra o jornal, o perfil do governador é “camaleônico”. Depois de passar por seis partidos, surfou na onda ascendente do PT, quando chegou ao palácio Anchieta e hoje se mantém no muro, por um lado próximo do ninho tucano, por outro mantendo o diálogo institucional com o governo Dilma Rousseff.
O Valor Econômico faz um longo e contextualizado relato do processo que levou Renato Casagrande ao governo, como sucessor de Hartung, até o racha entre as duas lideranças, às vésperas do início do processo eleitoral de 2014. O jornal destaca a manobra silenciosa de Hartung para retornar ao Palácio Anchieta, passando pelo trabalho do socialista de tentar segurar os aliados, atraídos pelo governo de unanimidade do peemedebista.
Para a classe política capixaba, a conjuntura mostrada pelo Valor, joga no cenário nacional as implicações da política capixaba, que – diante da repercussão do processo político nacional e nos demais colégios eleitorais da Região Sudeste, que são os maiores do País –, passam despercebidas.