Cinco das sete empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato, que revelou um escândalo de corrupção em contratos da Petrobras, fizeram doações a políticos capixabas no pleito deste ano. Segundo levantamento de Século Diário a partir dos dados entregues à Justiça Eleitoral, os candidatos do Espírito Santo receberam R$ 4,5 milhões em recursos da Construtora OAS, Norberto Odebrecht, Queiroz Galvão, UTC e Galvão Engenharia.
O governador eleito Paulo Hartung (PMDB) lidera a lista de beneficiários com a arrecadação de R$ 1,53 milhão de duas empreiteiras sob suspeita. Ele é seguido do atual governador Renato Casagrande (PSB), que recebeu R$ 1,27 milhão dos mesmos doadores do peemedebista.
Constam na prestação de contas de Hartung três doações do grupo Odebrecht, que somadas deram R$ 730 mil, e uma doação única da Construtora OAS no valor de R$ 800 mil – maior registro individual na arrecadação do peemedebista.
Já o governador Casagrande recebeu R$770 mil da Odebrecht e mais R$ 500 mil da OAS. A maior parte das doações foram oriundas do Diretório Nacional dos partidos, que geralmente repassam verbas “carimbadas” aos candidatos determinados – Isto é, os recursos vão para o diretório para não constarem na prestação de contas dos candidatos, de acordo com juristas da área.
Chama atenção que essas duas empresas lideram as doações aos comitês financeiros no grupo de investigadas pela Polícia Federal. Segundo levantamento feito em reportagem do jornal Valor, as sete empreiteiras sob suspeita doaram R$ 217,11 milhões utilizando este expediente, sendo que a Odebrecht e a OAS responderam por metade desse total – respectivamente, com R$ 57,98 e R$ 52,17 milhões em doações. Entre os grupos que fizeram doações no Estado estão: Queiroz Galvão (R$ 51,98 milhões em todo País), UTC (33,6 milhões) e Galvão Engenharia (R$ 11,62 milhões).
No Espírito Santo, a OAS liderou as doações para candidatos locais com um “investimento total” de R$ 1,96 milhão, seguido de perto pela Odebrecht com R$ 1,67 milhão. A Queiroz Galvão foi a terceira no quantitativo de doações com R$ 360,5 mil, seguida pela UTC com R$ 149,9 mil e Galvão Engenharia com R$ 50 mil. As doações dessas empreiteiras não foram restritas às campanhas de Hartung e Casagrande, as empresas também apostaram nas campanhas dos candidatos a senador, deputado federal e estadual.
Os candidatos ao Senado, João Coser (PT), e Rose de Freitas (PMDB), eleita para a vaga única, também receberam doações indiretas das empreiteiras da Operação Lava Jato. O petista recebeu R$ 190 mil da Queiroz Galvão e mais R$ 50 mil da OAS. A construtora lançou mais fichas naquela que seria a vencedora do pleito. Rose arrecadou R$ 150 mil.
Na Câmara dos Deputados, metade da bancada eleita recebeu doações da empresas sob investigação: Lelo Coimbra (PMDB) puxa a fila com uma arrecadação de R$ 204,26 mil, todas oriundos da OAS; Carlos Mannato (SD) recebeu R$ 150,36 mil da UTC (R$ 149,49 mil) e OAS (R$ 393,26); Marcus Vicente (PP), R$ 50 mil (Galvão); Givaldo Vieira (PT), R$ 30 mil (Queiroz Galvão); e Max Filho (PSDB), com uma doação módica de R$ 393,26 da OAS.
Dos 30 futuros deputados estaduais, oito receberam doações das investigadas pela PF. O ex-prefeito de Linhares, Guerino Zanon (PMDB), e o sindicalista José Carlos Nunes (PT), lideraram com uma arrecadação de R$ 160 mil e R$ 145 mil, respectivamente. O principal doador do peemedebista foi a OAS com R$ 150 mil, valor próximo ao investido pela Queiroz Galvão no presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Estado, que aportou os R$ 145 mil no petista.
Também aparecem com destaque no rol dos beneficiários, o vice-prefeito de Vila Velha, Rafael Favatto (PRP), que recebeu R$ 50 mil da OAS; e o reeleito Hércules Silveira (PMDB), que arrecadou R$ 25 mil da Odebrecht. A lista é completada por: Edson Magalhães (DEM), R$ 16,78 mil; Dary Pagung (PRP), com R$ 16,03 mil; Raquel Lessa (SD), R$ 3 mil; e Pastor Marcos Mansur (PSDB), com R$ 459,52. Essas doações mais modestas se devem a contribuições de candidatos majoritários que, por exemplo, utilizaram os recursos da empreiteira para a impressão de material em conjunto. Neste caso, os dois candidatos “dividem” o custo dos santinhos.
A lista de políticos capixabas que foram financiados pelas empresas sob suspeita inclui ainda os candidatos que foram derrotados ou terminaram nas primeiras suplências na Câmara e Assembleia. A deputada federal Iriny Lopes (PT) recebeu R$ 190 mil deste rol de doadores, sendo a metade dos recursos oriundos da Queiroz Galvão e a outra da OAS. Já o ex-prefeito de Vitória, Luiz Paulo Vellozo Lucas, arrecadou pouco mais de R$ 111 mil – deste total, R$ 100 mil foram doados pela Odebrecht.
Entre os suplentes a deputado federal, figuram na lista o atual deputado estadual Vandinho Leite (PSB), que recebeu R$ 50 mil da Queiroz Galvão, e a ex-prefeita de Itapemirim, Norma Ayub (DEM), com R$ 25 mil da Odebrecht. No rol de candidatos derrotados na disputa por uma vaga na Assembleia, a senadora Ana Rita Esgário (PT) e o atual deputado Atayde Armani (DEM) registraram as maiores doações das sete empreiteiras. A petista recebeu R$ 47,5 mil da Queiroz Galvão, enquanto o demista ficou com R$ 36,48 mil da OAS.
A Operação Lava Jato apura a participação de empresas no esquema de corrupção que envolvia contratos superfaturados de contratos da Petrobras e o pagamento de propinas para altos funcionários da estatal. Além da Odebrecht – cuja sede foi alvo de mandados de busca e apreensão –, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF) estão investigando a participação de outros gigantes do setor. Durante a operação policial, os presidentes e executivos da Camargo Corrêa, Mendes Junior, Galvão Engenharia, Iesa, Engevix foram presos.