Segunda, 29 Abril 2024

Hartung ensaia palanque em 2014, mas e o acordo com Casagrande?

Nerter Samora e Renata Oliveira



Se o ex-governador Paulo Hartung e o senador Ricardo Ferraço (ambos do PMDB) lançarem mesmo candidatura ao governo e ao senado, como adversários direto do governador Renato Casagrande, como vai se dividir a classe política?





Renata – Parece que aquela entrevista do governador Renato Casagrande deu uma mexida não só no cenário político nacional, como também no Estado. Ao colocar seu posicionamento em defesa da manutenção, pelo menos por enquanto, na base da presidente Dilma Rousseff, as outras lideranças políticas, que também navegam nesse mar, aceleraram o processo de movimentação política. A sensação que tenho é de que o ex-governador Paulo Hartung sentiu a necessidade de se colocar no cenário para chamar a atenção do governo federal para sua capacidade de erguer o palanque da presidente Dilma no Estado.



Nerter – Pode ser. Esta semana, os sinais de Hartung e Ricardo Ferraço apontam que eles querem se manter no jogo político de 2014. Primeiro recorreram a uma reunião com o presidente do nacional do partido, Valdir Raupp (RO), realizada no início do mês, em Brasília, na qual o senador orientava o PMDB do Estado a ter candidato ao governo. Depois vem o deputado federal Lelo Coimbra, que é conhecido emissário do ex-governador, para reafirmar a intenção de o partido em montar um palanque próprio. Mas será que essa discussão é para valer ou estaria o grupo de Hartung tentando aumentar seu poder de fogo para as acomodações do próximo ano?



Renata – Mas o que fará a classe política se realmente o palanque palaciano se dividir? Casagrande tem uma base política enorme e tenta mantê-la unida para a disputa do próximo ano e ainda ampliá-la trazendo o PSDB, o MD e o DEM para o grupo. Mas as insatisfações de parte das lideranças são grandes. Além disso, o cenário nacional pode prejudicar esse projeto. Já Hartung manteve sua unanimidade com mão de ferro, colocando os que não se alinhavam ao seu projeto no rol do crime organizado. Com sua saída do governo, Hartung não conta mais com os aparelhos do arranjo institucional.



Nerter – Mas Hartung tinha um perfil que também agradava à classe política. Ele trabalhava para fortalecer os aliados de sua base, o que deixou a Assembleia de joelhos em relação ao seu governo. Nas inaugurações, ordens de serviço, ou qualquer tipo de ato público, levava sempre a tiracolo o deputado estadual ou federal daquela base. Da mesma forma, desidratava a atuação dos prefeitos que não fossem do seu grupo aliado. Isso sem falar nas emendas ao orçamento, que também eram um atrativo a mais para os aliados se manterem ao lado de Hartung.



Renata – Pois é. Isso vai fazer com que as lideranças e os partidos façam uma reflexão. Hartung pode estar em um palanque diferente do de Casagrande em 2014, ou como candidato ao governo ou como candidato ao Senado, de qualquer forma, será o grande negociador desse palanque, caso vá mesmo para a disputa. A escolha vai ser entre o diálogo horizontal com Casagrande ou o controle total, mas com contrapartidas nas bases. Vai ser uma escolha difícil.



Nerter – Essa movimentação pode surpreender, sabia? O PSDB, por exemplo, parece estar mais para o lado de Casagrande. Depois das investidas desgastantes de 2010 e 2012, o partido não pode arriscar e Hartung tem perdido espaço político e eleitoral. Do lado de Casagrande, o partido conseguiu espaço no Bandes e vem mantendo diálogo com o governador. O problema vai ser conciliar PSDB e PT no mesmo grupo, mas isso é outra conversa.



Renata – Mas não é só de PT e PSDB que viverá a eleição do próximo ano. A base de Casagrande em 2010 teve 16 partidos e o governador agora tenta manter e ampliar essa base atraindo os partidos que estavam com Luiz Paulo em 2010. Isso ele conseguiu, mas manter unidos os partidos que estiveram com ele em 2010 está sendo uma discussão mais complicada. PT e PMDB podem sair desse arranjo e pelas movimentações do grupo de Hartung isso pode mesmo acontecer. Outra movimentação muito forte e já considerada irreversível é a do senador Magno Malta (PR).



Nerter – Isso quer dizer que a disputa de 2014 pode ter três palanques para a disputa ao governo do Estado. Neste sentido, a discussão nacional vai ser muito importante. Mais do que oferecer atrativos para manter as lideranças em seu palanque, Casagrande vai ter que convencer o mercado político nacional de que tem condições de garantir o palanque para a presidente Dilma Rousseff no Estado. Como o presidente do partido dele, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, se apresenta para a disputa, Casagrande prega um palanque independente. A tal entrevista ao Valor Econômico mostra que ele tenta desestimular a candidatura socialista para se manter na base de Dilma, mas parece que isso teria sido articulado com o próprio Campos, não é?



Renata – Pois é. A estratégia agora seria falar o que quiser, mas quando o PSB decidir seus integrantes vão ter de acatar a decisão partidária. Mas o problema não é esse. Resta saber se o PT nacional vai engolir essa ideia de palanque independente de Casagrande, se isso vai ser suficiente para atender à prioridade petista de eleger Dilma. No caso de Hartung, se ele realmente erguer um palanque no Estado, ficará ainda mais difícil a aproximação com o governo federal. Aliás, ele já tentou e não conseguiu. Por enquanto, o governo federal continua confiando apenas no palanque de Magno Malta.



Nerter – Para resumir, o que temos é uma candidatura de Casagrande, que tem diálogo, tem a caneta na mão, mas não tem barganha para as lideranças. Temos também a candidatura de Hartung, que tem barganha, mas não se sabe sua capacidade de voto nem se terá apoio do governo federal. E temos a candidatura de Malta, que voto, mas que não tem apoio político no Estado, mas tem o apoio do governo federal. As opções são essas e caberá à classe política buscar aquele espaço que melhor acomode seus candidatos.



Renata – É isso aí.

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