Enquanto a Assembleia se digladia pela divisão dos espaços políticos da Casa, o governador Paulo Hartung (PMDB) estaria debruçado sobre uma única preocupação em relação às movimentações do legislativo: apaziguar sua relação com Theodorico Ferraço (DEM). O imprevisível deputado foi preterido na disputa para a quarta reeleição à presidência da Mesa Diretora, e tem demonstrado que não está nada satisfeito com a planície.
Foram oferecidas contrapartidas na tentativa de abrandar a temperatura do decano, Até mesmo um gabinete para representar o governo do Espírito Santo em Brasília, onde ele ficaria próximo da mulher, a deputada federal Norma Ayub (DEM), foi colocado na mesa. Mas a acomodação que mais chama a atenção da classe política é a de líder do governo.
O nome de Ferraço foi cogitado para a liderança, o que acaba sendo mais do que uma acomodação. Funcionaria como uma autoproteção do governo também. Tendo Ferraço como líder, o Palácio evita a artilharia dele no plenário e a união a outros descontentes. Magoado com o abandono do governo, essa seria uma forma de evitar a fúria de Ferraço. Sem contar que Ferraço na liderança seria o anteparo e tanto para a vulnerável Mesa Diretora, que vem sendo formado por “cristãos novos”.
O problema é que não basta tentar cativar Ferraço com cargos políticos. O que incomoda mais Ferraço são os cargos que estavam sob seu domínio e que tendem a ser loteados numa troca de comando. O deputado deteria hoje mais de 60 cargos na Casa, acomodando, segundo alguns deputados, aliados políticos e até parentes de membros de outros poderes, ou seja, tomar esses cargos de Ferraço implica em mexer com interesses de dentro e fora da Assembleia.
Com sua saída da presidência, as garantias em relação aos cargos ficam prejudicadas. Isso pode levar Ferraço a não aceitar qualquer acordo com o governo, a menos que a negociação da liderança do governo inclua também outras contrapartidas. Para o governo, ter o escudo de Ferraço na Assembleia pode ser uma boa opção para manter o Legislativo afinado com o Executivo e evitar sobressaltos em véspera de ano eleitoral. Resta a Hartung saber quanto isso vai lhe custar.