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Jônatas Ribeiro Soares: perseguido pelo regime, flamenguista e cego

Perly Cipriano (Especial para SD)

Ontem, dia 13 de setembro, estive em Muniz Freire participando de uma reunião promovida pelo Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Muniz Freire e no intervalo fiz uma visita a Jônatas Ribeiro Soares. Uma figura humana admirável pela sua história, pela sua integridade pessoal e politica. Encontrei Jônatas Ribeiro Soares, nascido em 16 de outubro de 1930, muito lúcido e bem-humorado, com uma camisa do seu time, o Flamengo, “time que carrego no coração desde pequeno”.

 
Esse homem foi um dos primeiros condenados políticos pelo regime autoritário implantado em 1964 no Espírito Santo. Ele foi acusado e condenado pela Auditoria Militar da Aeronáutica no Rio de Janeiro em 1965, como principal organizador do Grupo dos 11 do município de Muniz Freire. Dentre as acusações, a de ser um guerrilheiro. Ocorre que este homem afável e muito inteligente é cego.

 

“Eu participei com muito orgulho da organização dos grupos dos 11 que o Brizola criou para defender as Reformas de Base”. Fui amigo do Brizola, mandei e recebi cartas para ele, e fui mais de uma vez no Rio de Janeiro no seu apartamento em Copacabana. Sempre tive admiração por Brizola pelas suas ideias e pela sua coragem. Eu escutei ele falar muitas vezes, 'não sou comunista, como dizem, sou um nacionalista que tenho muito amor pelo meu povo e pelo meu país'. Ele e todos nós defendemos as nossas riquezas naturais e não queríamos que as empresas estrangeiras controlassem e dominasse a nossa pátria.
 
Perguntei de onde vinha a admiração pelo Brizola e também das ideias progressistas, Jônatas disse que “todas as sextas-feiras pregava os ouvidos na Rádio Mayrinque Veiga, para ouvir o Brizola falar das Reforma de Base e dos problemas nacionais. Disse que das reformas de base a reforma agrária e a estudantil eram as que ele mais defendia. Fez muitas reuniões e conversas com os amigos e os nacionalistas de Muniz Freire. Ele é tio do Renato Soares, que era estudante secundarista e participou com o tio do Grupo dos 11,naqueles idos de 64, ele também foi condenado e cumpriu pena no Quartel do Corpo de Bombeiros, de Vitoria.

 

Jônatas disse que nunca acreditou muito nos jornais “que não falavam o que era preciso para ajudar nosso povo, mentiam muito”.

Afirmou que o Brizola foi uma pessoa muito importante para o Brasil e que poderia chegar a Presidência e fazer muito para liberta nosso Brasil.

E quando veio o golpe militar? “Quando veio o golpe, foi muito triste e houve muitas perseguições. Eu fui intimado e processado e condenado pela auditoria Militar da Aeronáutica no Rio de Janeiro, fiquei preso e cumpri a pena aqui mesmo em Muniz Freire. Fiquei preso no Fórum da cidade, o juiz era o Dr. Arione Vasconcelo, um grande homem, um homem corajoso e muito correto, por quem tenho até hoje muita admiração e considero ele um amigo do peito. Agora posso confessar que dava umas 'fugidinhas' do Fórum para ir na minha casa encontrar com minha esposa Lizerte Vasconcelos Soares e minhas irmãs. Dr Arione Vasconcelos foi mais que um juiz ele foi um pai e amigo”.

Como as pessoas regiram à sua condenação? “Depois do processo, da condenação e da prisão muita gente ficou espantada, só os amigos de fé não fugiam de mim”.

Hoje, ele vive com sua esposa e duas irmãs numa casa confortável, sem mágoas e ressentimentos, onde recebe amigos e mantém acessa na memória aqueles tempos antigos, sem deixar seus ideais e sonhos. “Acompanho tudo que está acontecendo no Espírito Santo e no Brasil, sei que vamos sair desta situação um dia. O povo é bom e quer viver melhor, viver em paz.”

Valeu muito ter encontrado Jônatas Ribeiro Soares, essa pessoa simples e digna, com uma história que orgulha os filhos e as filhas de Muniz Freire e a capixabas e brasileiros que lutaram e que lutam por sonhos, apesar de todas as adversidades.

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