A participação e ingresso das mulheres na política, além de reduzir a desigual ocupação dos espaços de poder e decisão, permitem dar voz e visibilidade a movimentos e bandeiras levantados por elas na sociedade. No Espírito Santo, um tema urgente é a violência contra mulher e o crime de feminicídio, cujos índices amargam a liderança da região Sudeste e a terceira do País, com duas mortes a cada 100 mil mulheres.
Para Edna Martins, do Fórum de Mulheres do Espírito Santo, todas as mulheres, mas principalmente aquelas que ocupam esses espaços, devem ter o compromisso real e substantivo de lutar contra o sistema patriarcal. Isso porque, são elas que podem propor políticas públicas capazes de eliminar as desigualdades de gênero latentes na sociedade.
“As mulheres precisam ser ouvidas, o poder público precisa conhecer mais a realidade de opressão em que vivemos. Nós temos um cenário muito triste de violência contra as mulheres e feminicídio no Estado. Precisamos de pessoas que recebam, ouça, e estejam com as mulheres o tempo todo” ressaltou Edna.
As expectativas da militante para as eleições deste ano, porém, não são positivas. Edna lembra que as mulheres sofreram vários revezes em sua luta e que a campanha eleitoral está cada dia mais restrita. “Certamente, as mulheres encontrarão mais dificuldades, principalmente as novatas, que terão pouco tempo para se apresentar ao eleitorado”, completou.
No País, a legislação estabelece que cada partido ou coligação tenha no mínimo 30% de candidatos do sexo feminino nas eleições para os cargos de deputado federal, estadual e de vereador. Essa obrigação, no entanto, ainda não se traduziu em participação efetiva das mulheres na política. Ao invés de cumprir sua função social, a criação da cota faz com que muitos partidos apresentem as chamadas “candidatas laranjas”, com o simples intuito de livrar-se de sanções.
Caminho longo
“Os partidos estão se adequando aos poucos. Mas acho que é preciso criar espaços de formação política feminista dentro das legendas”, destacou a ex-deputada estadual Brice Bragato (Psol), candidata ao mesmo cargo na disputa deste ano.
Ela defende a cota como uma ação fundamental em favor da participação das mulheres na política. “Esse comportamento desenvolve um potencial para uma inserção mais qualificada e mais engajada na política”, afirmou, pontuando que as mulheres podem desempenhar um papel importante não só como pessoa pública, mas como porta-vozes de um movimento que busca o seu espaço na sociedade.
A mesma visão tem a jornalista Bruna Mesquita Gati, candidata pela primeira vez à deputada estadual, também pelo Psol. Segundo ela, para avançar nesta questão, é preciso garantir dentro dos próprios partidos condições para que as mulheres possam disputar e ocupar esses espaços. “É fundamental que a pauta das mulheres seja assumida como uma pauta de todos. Não podemos deixar que seja algo segmentado ou menor”, destacou Bruna.
Raio-x
As mulheres, hoje, dominam a maioria do eleitorado brasileiro, com 52% dos votantes, mas ainda são minoria no que se refere ao número de candidatos nas eleições do país. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nas últimas eleições municipais, em 2016, apenas 31,89% dos brasileiros que se candidataram eram mulheres. No mesmo pleito, dos 16 mil candidatos que não receberam nenhum voto, 14.417 eram mulheres.
No cenário internacional, o Brasil está na “lanterna” no Ranking de Presença Feminina no Poder Executivo. Ocupa a 161ª posição dentre os 186 países analisados pelo Projeto Mulheres Inspiradoras (PMI) – 2018. O ranking é baseado em um índice que sintetiza dados que medem a representatividade feminina nas chefias de governo; a representatividade nas chefias de Estado; o número e a proporção de habitantes governados por mulheres e a proporção de cargos em ministérios ocupados por lideranças femininas.
Os dados do projeto são baseados em informações das Nações Unidas, do Banco Mundial e do instituto de pesquisas The Heritage Foundation. No caso do Brasil, foram considerados dados primários e públicos do Tribunal Superior Eleitoral, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Sead).
No ano passado, o País ocupava o 115° lugar no ranking. Agora, o resultado mostra que a inserção das mulheres brasileiras em cargos de chefia é uma das piores no mundo e a pior da América Latina.