Nerter Samora e Renata Oliveira
O governador eleito Paulo Hartung (PMDB) parece ainda não ter descido do palanque e continua, por meio dos aliados, a tentar desgastar a imagem de Renato Casagrande (PSB). Até aonde vai essa disputa e qual o objetivo dela é o tema do Papo de Repórter.
Nerter – O episódio da rejeição das contas do governador Renato Casagrande pela Comissão de Finanças da Assembleia esta semana foi mais uma demonstração de como o governador eleito Paulo Hartung (PMDB) vem usando a Casa, por meio de seus aliados, para tentar desgastar a imagem do governador Renato Casagrande (PSB) e fomentar a ideia de má gestão, de que vai receber um Estado quebrado. Mas, desta vez, Casagrande reagiu imediatamente, mostrando o viés político da manobra e jogando para cima da Assembleia a responsabilidade por entrar em um jogo político para demonizá-lo. Isso reforça a tese de que a disputa entre as duas principais lideranças do Estado está bem longe de chegar ao fim.
Renata – Mais do que isso, a reação de Renato Casagrande à manobra expõe as duas metas desse jogo político orquestrado por Hartung. A primeira é justamente a desidratar a imagem política de Casagrande. Dono de um partido político, candidato em potencial à Prefeitura de Vitória em 2016, dono de um capital eleitoral, traduzido em votação, consistente na eleição deste ano, o governador é uma figura política que pode incomodar as pretensões de Hartung para o futuro. A outra meta é criar um cenário de caos, mostrando que o governador que o antecedeu deixou o Estado em uma situação financeira ruim e que por isso, não poderá cumprir as promessas de campanha.
Nerter – Na coletiva que o governador concedeu depois de saber do resultado da votação na Comissão de Finanças da Assembleia, na última quarta-feira (10), ele afirma que “o poder não pode ser usado para o mal”. Casagrande se coloca na condição de vítima do rolo compressor de Paulo Hartung, e deixa o recado: “Hoje sou eu e amanhã pode ser qualquer um”. É uma referência a um cenário que a classe política conheceu no período de Hartung, quando ela vivia sob o controle do governador e aquele que não interessava ou que estava no caminho dele sofria as represálias palacianas. A reação de Casagrande foi importante para jogar a responsabilidade nas costas da Assembleia. Ele não saiu desgastado porque mostrou que se tratava de manobra política, como entenderam os eleitores também.
Renata – Essa atitude de Casagrande deveria ter sido tomada desde o início de seu governo. Quantas vezes falamos aqui no Papo mesmo, que Casagrande pagou todas as contas deixadas sobre sua mesa. Agora parece não estar disposto a conceder o subterfúgio que Hartung tenta usar para justificar sua atuação no terceiro mandato. O peemedebista prometeu mundos e fundos, tendo como bandeira a educação garantiu uma mudança profunda, também precisa investir em segurança e saúde. Quando chegou ao governo em 2003, não tinha uma comparação. Ele vestiu a capa do combate à corrupção e isso tirou os holofotes de sua administração.
Nerter – Sim, e o fato é que Hartung não fez em oito anos uma grande gestão nessas áreas. O problema é que agora ele não tem o crime organizado como desculpa e haverá uma comparação entre governo dele e o anterior. Sendo que Casagrande tem dados para mostrar e Hartung sabe que precisa tirar Renato Casagrande do caminho. A única alternativa é descredenciando ele. Mas o governador também já entendeu qual é a estratégia e não vai aceitar tão fácil esse jogo. Já mandou o recado: toda vez que for atacado, vai reagir. É verdade, deveria ter feito isso há muito mais tempo, mas antes tarde do que nunca.
Renata – Renato Casagrande entendeu uma coisa que outras lideranças ainda não entenderam. Se você enfrenta Hartung uma vez, ele não te perdoa. Ele não esquece, não tem essa de que faz parte do processo democrático. Isso é da boca para fora. Se você o enfrentou, é uma pessoa que pode lhe trazer problemas, é uma pedra no caminho que precisa ser retirada. Não apenas é posta de lado para liberar o caminho, é retirada mesmo. Quem acha que Hartung é do tipo que perdoa, espere para ver. A menos que você seja útil para alguma coisa, mas isso é transitório.
Nerter – É o caso do prefeito de Vitória, Luciano Rezende (PPS). Ele vem cheio de sorrisos para o governador eleito, mas Hartung tem dado um gelo nele. O que pode salvar o prefeito é se Casagrande entrar na eleição de Vitória, porque aí o socialista passa a ser o alvo prioritário e se for para evitar que Casagrande consiga se reerguer no jogo político vale até fazer uma aliança transitória com o desafeto da vez.
Renata – Isso vale também para Max Filho (PSDB). Achar que Hartung quer ele próximo porque o perdoou é ser ingênuo. O que Hartung quer é tirar Max do caminho de Rodney. Mas tem uma coisa aí que merece ser destacada. Olha como estão sendo feitas essas movimentações. Hartung negocia, não passa por cima. Bate forte em Casagrande, que reage. Isso mostra como as coisas estão diferentes, que Hartung não é mais o mesmo.
Nerter – Que venha o mês de janeiro…