Nerter Samora e Renata Oliveira
A eleição estabeleceu uma nova conjuntura política e começa a mudar as peças do tabuleiro. Enquanto o governador eleito Paulo Hartung (PMDB) tira uns dias de folga, algumas lideranças tentam se orientar neste novo cenário. O Papo de Repórter desta semana analisa essas movimentações e traça um paralelo entre as principais figuras de duas siglas no Estado que têm relação direta com o cenário político que emergiu das urnas.
Nerter – A semana foi marcada pela expectativa sobre os rumos do PT capixaba, diante da nova relação política com o Palácio Anchieta, da qual, inicialmente, o partido estaria fora. Também há essa expectativa em relação à altura do voo tucano no cenário político capixaba. Neste sentido, ganha o centro das atenções o papel dos presidentes dos dois partidos no Estado: o petista João Coser e o tucano César Colnago. O primeiro tenta se reerguer no jogo político após a derrota na disputa ao Senado, da qual saiu derrotado e encontra um partido dividido entre apoiar o novo governo de Paulo Hartung ou permanecer afastado para defender o governo Dilma no Espírito Santo. O segundo está no jogo político, mas sabe que precisa se fortalecer já que não está lidando com uma estrela política de segunda grandeza.
Renata – Primeiro o PT. Coser tem o controle do partido, digo, da maioria dos filiados. Mas saiu desgastado do pleito por causa de sua postura, não acreditando no potencial político de Dilma no Estado, e se afastando da campanha presidencial, ao mesmo tempo em que assumia uma candidatura clandestina no palanque de Paulo Hartung. A principio, o PT estaria fora da gestão de Hartung, mas uma coisa é estar o PT fora da gestão outra coisa é o grupo de Hartung estar na gestão e neste grupo está Coser. Por isso, ele estaria tentando levar o PT para os braços de Hartung.
Nerter – Mas uma coisa é Coser com capital político em alta controlar o PT e outra coisa é ele derrotado ter de contornar insatisfações internas, com uma parcela do partido se recusando a aceitar migrar para o grupo de Hartung. Contornar a insatisfação de parte do partido não será tarefa fácil. Ele pode até levar, mas como vai explicar o apoio do partido ao governador que vem criticando a presidente Dilma Rousseff? Vai ficar, no mínimo, estranho. Por outro lado, Dilma precisa de apoio no Congresso Nacional e como Hartung tem controle sobre a nova bancada pode estar aí a justificativa de Coser. Em nome do bem do Estado na relação institucional com Brasília, o presidente do partido faria a interlocução com o governo federal.
Renata – Se essa justificativa vai colar, eu não sei, mas que Coser vem mantendo interlocução constante com Hartung, isso tem. Ele tem a maioria do partido, mas alguns militantes acreditam que se houver uma discussão que envolva uma aglutinação das correntes de insatisfeitos, o jogo fica equilibrado. Bom, algumas lideranças apostam suas fichas no deputado estadual eleito José Carlos Nunes. Parece que ele estava entre os insatisfeitos e que Coser não teria apoiado a campanha dele, agora com o mandato de deputado estadual, ele poderia equilibrar o embate político com Coser se conseguir aglutinar as demais forças do parido. Mas, não sei… acho que a situação do partido é complicada no Estado.
Nerter – Sim, porque o PT esteve muito tempo guindado ao poder e a identificação de suas principais estrelas com o governo Paulo Hartung é muito grande. Neste sentido, descolar essa imagem vai ser difícil. Além disso, a expectativa para 2016, à exceção de Helder Salomão, em Cariacica, são reduzidas. Leonardo Deptulski, em Colatina, não vive o melhor de seu mandato até mesmo com o pedido de intervenção da Justiça no município. Em Cachoeiro, Carlos Casteglione terá dificuldade para eleger o deputado estadual petista Rodrigo Coelho contra o todo poderoso Theodorico Ferraço (DEM).
Renata – Se a situação no PT é complicada, no PSDB há um misto de expectativa e protecionismo de suas lideranças. O presidente do partido César Colnago apostou suas fichas no apoio a Paulo Hartung, foi uma jogada de risco da qual ele saiu vitorioso. Mas não basta vencer. Ao chegar à vice-governadoria, Colnago sabe que precisa se fortalecer para não ser passado para trás na hora do vamos ver.
Nerter – Você quer dizer na hora da sucessão, em 2018. Se tudo der certo, Hartung se desincompatibiliza do cargo em abril para disputar o Senado, Colnago assume o governo pelos oito meses restantes e vira candidato ao governo sem reeleição. Mas nem todo mundo tem essa certeza de que Hartung vai ser candidato por apenas quatro anos. Se bem que hoje Hartung não é mais a figura política imaculada que criou em seus mandatos passados e há quem diga que seu novo governo vai ser bem diferente.
Renata – Mas aí temos um problema. Como acomodar os demais aliados. Vamos supor que Hartung seja mesmo candidato ao Senado em 2018, qual será a acomodação para Ricardo Ferraço? Eles são do mesmo partido e não poderão disputar a vaga ao Senado. Quem estaria na frente desta fila sucessória, Ricardo Ferraço ou César Colnago? Tudo bem que há quatro anos para se discutir isso com calma, mas que isso pode dar confusão, pode.
Nerter – E é por isso mesmo que Colnago toma suas precauções. Quer se fortalecer para não se tornar uma figura dependente de Hartung, como foram seus vices anteriores: Ferraço e Lelo Coimbra. Sabe que uma vez no cargo de expectativa e à frente de uma secretaria teria seu voo político controlado por Hartung e não quer isso. Quer ter garrafas vazias para vender quando chegar a hora. Por isso mesmo fez essa ofensiva de filiação no ninho tucano. Precisa controlar o partido, não quer passar mais por aquele momento de divisão que o partido viveu no processo pré-eleitoral.
Renata – Por esse prisma parece que o PSDB está melhor que o PT no Estado. Não que o partido tenha se recolocado no jogo político, depois de duas eleições bem complicadas, mas já é uma mudança de patamar. Ainda falta muito para que o partido se reerga, afinal, tanto no PT quanto no PSDB temos o interesse de seus presidentes medindo força com o interesse partidário. Mas que o clima está melhor no ninho tucano, isso está.
Nerter – Vamos ver até quando.