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Pastor que viveu no Estado e se opôs à ditadura agora é herói da Pátria

Jaime Wright é um do idealizadores do livro “Brasil: Nunca Mais”, que descreve torturas promovidas pela ditadura militar

Reprodução/Senado

O pastor presbiteriano Jaime Wright, que viveu em Vitória na década de 90, é o mais novo inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, por força de lei sancionada pelo presidente Lula no último dia 10. Defensor dos direitos humanos, foi um dos idealizadores do livro Brasil: Nunca Mais, que descreve torturas promovidas pela ditadura militar iniciada em 1964, juntamente com o arcebispo católico Paulo Evaristo Arns, o rabino Henry Sobel e uma equipe de pesquisadores. Ele faleceu em Vitória em 1999, aos 71 anos.

Jaime Wright representa, tanto no âmbito nacional como regional, a resistência de setores das igrejas evangélicas à ditadura de 64, que envolveu religiosos jovens e adultos na defesa da democracia e na luta por uma sociedade mais igualitária. Muitos foram perseguidos, torturados e mortos nos quartéis. Fazem parte de cristãos que praticam as doutrinas de Jesus Cristo, que não criou nenhuma religião, mas apresentou um novo modelo de sociedade, com base na verdade, igualdade social, solidariedade e amor ao próximo.

O pastor veio para Vitória depois de divergências com a direção central da Igreja Presbiteriana, que envolvia, também, o pastor Joaquim Beato, do Espírito Santo, que passou a ser a sede nacional da Igreja Presbiteriana Unida (IPU), resultante da divisão com a direção da congregação tradicional.

Ele ocupou a secretaria geral da congregação, voltada também para questões sociais e dos direitos humanos, sem perder os princípios da fé e da ordem, com atuação intensa na valorização da vida e participação política. Beato chegou a assumir uma suplência como senador, na licença do titular.

A efervescência política, à época, era muito intensa e levou muitos jovens e se filiarem ao Partido dos Trabalhadores (PT) e ao clandestino Partido Comunista Brasileiro (PCB), o Partidão, consolidando frentes de resistência à ditadura, tendo como base a defesas da democracia e de um Brasil soberano.

Um cenário oposto ao registrado nos últimos anos, desde a destituição da presidente Dilma Rousseff (PT), e que possibilitou a eleição de Jair Bolsonaro (PL), com o apoio de evangélicos, inclusive de igrejas históricas como a Presbiteriana e os neopentecostais televisivos. É dessa época que surgem políticos como Deltan Dellagnol (Podemos-PR), cassado nesta semana pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por fraude eleitoral, entre outros comprometidos com setores da vida nacional que representam o atraso.

Filho de norte-americanos, Wright graduou-se pela Universidade de Arkansas e se pós-graduou em estudos religiosos na Pensilvânia, ambas nos Estados Unidos, nos anos 50. De volta ao país, assumiu a direção da Missão Presbiteriana do Brasil Central, em São Paulo. No final da década de 1960 e início da década de 1970, o pastor exercia seu ministério no interior da Bahia e já encabeçava movimentos contra a tortura.

Em 1973, seu irmão, o deputado estadual por Santa Catarina Paulo Stuart Wright, que teve o mandato cassado e era militante da Ação Popular (grupo de esquerda de origem cristã), foi morto nas dependências dos órgãos de segurança do governo. A busca pessoal do pastor Wright pelo irmão fez com que ele reunisse farta documentação sobre a tortura e os assassinatos praticados pelo Estado brasileiro.

“A consulta sigilosa a 707 processos, a listagem de 1.843 casos de tortura e a fixação em 125 do número de desaparecidos no período compreendido entre os anos de 1964 e 1979, geralmente mortos durante interrogatórios e sepultados com falsa identidade, formaram uma base de dados nunca contestada pelos policiais e militares implicados”, afirmam documentos históricos nos anais do Congresso Nacional.

O Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria se encontra no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília. Conforme a Lei 11.597, de 2007, esse livro se destina “ao registro perpétuo do nome dos brasileiros e brasileiras ou de grupos de brasileiros que tenham oferecido a vida à Pátria, para sua defesa e construção, com excepcional dedicação e heroísmo”.

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