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Resignado, Ricardo Ferraço fecha com Hartung e aceita pegar a senha para 2022

Como Século Diário antecipou, e nem precisava ter bola de cristal para fazer previsão tão óbvia, Ricardo Ferraço oficializou nesta quarta-feira (23) seu apoio à candidatura de Paulo Hartung ao governo. Há uma semana, quando o senador aceitou coordenar a campanha do presidenciável tucano Aécio Neves no Estado, ninguém tinha dúvida de que Ricardo estava abraçando no pacote a candidatura do ex-governador do PMDB. 
 
A decisão de Ricardo em apoiar Hartung significa que seu projeto de se tornar governador do Espírito Santo em 2018 fracassou. Esse projeto já havia sido frustrado, pelo próprio Hartung, em 2010, quando o ex-governador, numa manobra articulada com as cúpulas nacionais do PMDB, PT e PSB, aceitou “trocar” a candidatura de Ricardo, seu candidato, pela de Renato Casagrande. O resto da história todo mundo conhece de trás pra frente. Casagrande se elegeu o governador da unanimidade e Ricardo recebeu como consolo pelo “sacrifício” a vaga no Senado.
 
Fortalecido com um mandado vistoso no Senado, Ricardo estremeceu quando soube das intenções do ex-governador de “furar a fila” e retornar ao Palácio Anchieta. O senador peemedebista sabia que a volta de Hartung mexeria na ordem “natural” da fila. Quando recebeu a rasteira em 2010, Ricardo aceitou pegar a senha para 2018. Seu plano era simples e coincidia com o do atual mandatário do Estado. Nas eleições de 2018, Ricardo e Casagrande fariam a troca. O peemedebista assumiria o governo do Estado e o socialista ganharia a cadeira “esquentada” por Ricardo no Senado Federal. 
 
Porém, a movimentação de Hartung intencionando furar a fila desestabilizou os projetos de Ricardo e Casagrande. É provável que Ricardo tenha se colocado como pré-candidato do PMDB ao governo com o propósito de fechar a porta para Hartung. Como o desejo de Hartung era velado naquele momento, o senador arriscou a estratégia de lançar seu nome para sufocar a pretensão do ex-governador antes que ela saísse da fase de latência. 
 
Como a candidatura de Ricardo não emplacou dentro do PMDB, o senador passou a defender desesperadamente a manutenção do arranjo da unanimidade, alegando que era o melhor caminho para o Estado. Na verdade, a unanimidade era o melhor arranjo para seu projeto político pessoal. A reeleição de Casagrande, que ele passou a defender em abril, foi o plano B de Ricardo para tentar dissuadir Hartung de entrar na disputa. Naquela altura dos acontecimentos, Hartung tentava rearticular o PMDB em torno de sua candidatura, mas a maioria dos peemedebistas preferiam apostar na reeleição de Casagrande. Ao assumir publicamente o apoio a reeleição de Casagrande, Ricardo, na posição de principal liderança do PMDB no Estado detentora de mandato, acreditava que Hartung sentiria o golpe, abortando o plano de entrar na disputa.
 
Toda essa mobilização do senador peemedebista tinha um único objetivo: evitar que a ordem da fila ao Palácio Anchieta fosse alterada inadvertidamente com a entrada de Paulo Hartung na disputa. 
 
O ex-governador, porém, deu uma aula de estratégia em Ricardo. Fez a articulação por cima com Aécio, encampando a candidatura do tucano no Estado. O restante das peças foram se encaixando naturalmente. Vendo seus planos naufragarem, Ricardo, sem saída, como em 2010, aceitou a coordenação das campanhas de Aécio e Hartung. 
 
Não importa o que Ricardo diga de agora em diante para justificar a troca do palanque de Casagrande pelo de Hartung. O leitor que julgue como bem entender a atitude “volúvel” do senador, que de volúvel, não tem nada. Na verdade, Ricardo errou mais uma vez na estratégia. Fez de tudo para manter a senha que lhe daria acesso ao Palácio Anchieta em 2018. Foi frustrado novamente pelos planos de Hartung. Restou a Ricardo pegar a senha para 2022 e confiar na palavra de Paulo Hartung, o que, mostra a história, é sempre bastante arriscado. 

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