A relação com o novo governo federal vai depender de uma boa interlocução entre as lideranças do PMDB do Estado e o presidente interino Michel Temer. Em uma primeira visão, o governador Paulo Hartung seria essa liderança, mas não é necessariamente assim que funciona. Para os meios políticos, o olho da nacional para o partido no Espírito Santo destaca outro nome, o da senadora Rose de Freitas, que sempre teve uma relação próxima de Temer.
Hartung se reuniu com Temer em dezembro de 2015, quando a situação de Dilma ainda era incerta. De lá para cá, o governador preferiu mergulhar sobre a situação e o conteúdo da conversa entre os dois peemedebista nunca foi revelado.
Mas para ser essa interlocutora que o Estado precisa, a senadora tem que cortar os laços com o governo Dilma, quando também conseguiu manter um trânsito fácil pelos ministérios e garantiu uma boa fatia dos cargos federais no Espírito Santo.
Dentro do PMDB capixaba, Rose de Freitas seria um nome de destaque pelo desempenho político dos últimos anos, diferentemente do governador Paulo Hartung, que pouco contribuiu para o fortalecimento do partido no Estado. Ele seria, inclusive, um dos responsáveis por uma importante perda recente da sigla, o senador Ricardo Ferraço, que se filiou ao PSDB.
O presidente estadual, deputado federal Lelo Coimbra, também não teria a força necessária para a função, afinal, sob sua presidência, as articulações do partido passaram a privilegiar os interesses do governador. Já a senadora vem contrariando essa lógica. Em 2014, por exemplo, ela conquistou o Senado a contragosto de Hartung, que teria apoiado indiretamente a candidatura do petista João Coser, seu atual secretário de Habitação e Desenvolvimento.
A função da interlocução pode ser um elemento a mais na desavença política entre Paulo Hartung e Rose de Freitas, que teve início em meados da década de 1980, quando Rose perdeu a convenção do partido em 1985 por dois votos para Hermes Laranja. Hartung é quem teria movimentado os votos contra Rose.
Desde então, os dois travam uma batalha em que a peemedebista tem sobrevivido. Quando Hartung chegou ao governo em 2002, a situação eleitoral de Rose de Freitas ficou ainda mais complicada, mas ela conseguiu se eleger duas vezes nesse período para a Câmara dos Deputados e em 2014 para o Senado, mesmo contrariando os interesses do governador.