Domingo, 28 Abril 2024

Silêncio da classe política capixaba terá consequências nas eleições de 2014

Silêncio da classe política capixaba terá consequências nas eleições de 2014
Nerter Samora e Renata Oliveira
 
 
Enquanto a rua gritava, os postulantes a um mandato eletivo em 2014 ou se calaram ou falaram o que não deviam. Papo de Repórter analisa o desempenho das lideranças na crise política gerada pela onda de protesto.
 
 
Nerter – Enquanto estive em férias o Estado passou por um momento de bastante turbulência política que ainda não acabou e que pode ter repercussões no próximo ano. O desempenho das lideranças políticas nesse período de crise pode trazer compensações ou prejuízos para o pleito do próximo ano. Ainda falta muito tempo para as eleições, mas se o clima não se amenizar, será inevitável desgastes políticos e complicações para uma disputa que promete ser completamente diferente da de 2010, não é?
 
Renata – Sim. Parece que a classe política não entendeu o momento e por isso não soube lidar com ele. Uma coisa é fato, o processo de articulação política que e vinha desenfreado até o início de junho sofreu uma freada brusca. A situação mudou completamente a partir do desgaste de lideranças nacionais e a movimentação dos partidos e dos pretendentes a cargos eletivos em 2014 pode também sofrer alterações a partir do segundo semestre deste ano. 
 
Nerter – Nacionalmente percebemos que algumas lideranças evitaram o desgaste. O governador de Pernambuco e presidenciável, Eduardo Campos (PSB), mergulhou, assim como Marina Silva (Rede Sustentabilidade). O socialista acredita que como Marina não tem estrutura partidária, ele sai ganhando com o desgaste da presidente Dilma Rousseff. Será? O PSDB adotou uma medida inteligente, em vez de seu presidenciável, o senador mineiro Aécio Neves, colocou o ex-ptresidente Fernando Henrique Cardoso para criticar o governo. Se isso protegeu efetivamente Aécio Neves é complicado afirmar. O movimento não escolheu uma figura política para apedrejar, sobrou pedrada para todo mundo. Evidentemente, como Dilma está à frente do governo, foi um alvo mais visível, mas não sei se alguém ganhou com esse processo. 
 
Renata – Mas de qualquer forma, Dilma não é mais o atrativo do PT para negociar uma boa acomodação em uma aliança. Agora há pressão dos dois lados, pelo menos aqui no Estado. O palanque “neutro” de Casagrande já não é interessante, até porque o presidenciável dele voltou a investir contra o governo. O PT nacional terá dificuldade em engolir esse palanque que cabe todo mundo para manter o PT local no grupo do governador. Magno Malta (PR) pode se sair bem, já que ele oferece um palanque exclusivo para Dilma. O problema é que a cúpula petista não quer sair do grupo da unanimidade e quem negocia é o ex-prefeito de Vitória João Coser, que vai tentar evitar o palanque do PR a qualquer custo. 
 
Nerter – Por aqui não se sabe qual foi o prejuízo da classe política, mas com certeza Casagrande, por estar à frente do Executivo, deve ter sofrido o desgaste maior. O ex-governador Paulo Hartung (PMDB) deu uma de Eduardo Campos. Sumiu do mapa e deixou a bomba no colo do sucessor. Casagrande, mas uma vez, como tem feito desde que assumiu o governo, segura sozinho broncas que são do governo passado. Mas há quem diga que o ex-governador não está tranquilo e rindo da situação, não. Se tem evitado a exposição é porque sabe que quem colocar a cabeça para fora vai tomar pedrada. 
 
Renata – Com um capital em queda desde que deixou o governo, Hartung vinha se movimentando muito no sentido de se capitalizar para o jogo político do próximo ano. As investidas dele também tiveram uma freada para evitar respingos. Com um governo de visibilidade midiática e fragilidade na vitrine, o melhor é se proteger. 
 
Nerter – Mas não foi só o Executivo que se desgastou, aliás, o Legislativo está no centro dos holofotes nos últimos dias. Uma sucessão de equívocos colocou os deputados em uma situação delicada. O erro principal foi a falta de sensibilidade sobre os efeitos da aprovação da urgência do projeto de Euclério Sampaio (PDT) na segunda-feira (1) causariam. O momento era de muita animosidade nas ruas e a janela de oportunidade foi aberta com a proposta de Euclério. Com a aprovação da urgência, os deputados criaram uma expectativa nos manifestantes, mas não suportaram a pressão palaciana e a situação ficou fora de controle. 
 
Renata – Independentemente da legalidade do projeto já é possível saber que haverá um desgaste político para os deputados que se opuseram ao projeto. Não porque vão derrubar a matéria, o que legítimo, mas a manobra de obstrução poderia ter sido feita dentro da Assembleia. A saída dos deputados complicou a já desgastada imagem da Casa. Mas uma coisa merece destaque nesta história toda, pela primeira vez em muito tempo a bancada do PT mostrou como deveria ser a atuação parlamentar se não houvesse uma intervenção palaciana nas articulações dos partidos. 
 
Nerter – Aliás, essa questão revelou um racha no partido. O vice-governador Givaldo Vieira, o ex-prefeito Coser, os prefeitos de Cachoeiro e de Colatina, Carlos Casteglione e Leonardo Deptulski, respectivamente, são apoiadores da posição palaciana, que defende a manutenção do contrato com o Rodosol, polêmica que gerou o racga na Assembleia. A bancada fechou questão contrariando a postura da cúpula petista e a militância encampou a posição dos deputados. Essa é uma discussão para o partido fazer internamente. 
 
Renata – E o peso desse apoio do PT foi o que desequilibrou a discussão sobre a matéria na Assembleia. Sem o apoio do partido, a proposta de Euclério seria mais uma das que ele apresentou e morreu na praia. Pena que o partido não teve a mesma postura em relação à CPI do Pó Preto e do "Posto Fantasma" de Mimoso do Sul , não é? 
 
Nerter – É que aquele momento era outro. O partido tinha outras aspirações. Mas diante da pressão popular, os deputados entenderam que não havia clima para contrariar a proposta, que afeta 60% do eleitorado. Se a bancada do PT vai conseguir capitalizar para 2014 é o tempo que irá dizer. 

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