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O Ritual Maithuna como um Sadhana (prática de Yoga Tântrico) – Parte IV

Responsabilidade e ética são bases para o ritual, em que os parceiros atuam no mundo de forma poderosa e transformadora

Dando continuidade aos artigos sobre o sexo tântrico e o ritual milenar hindu do Maithuna, vamos abordar elementos fundamentais para o sucesso da prática.

A – O SEXO RITUALÍSTICO NO MUNDO TANTRICO HINDU

Em primeiro lugar, é importante relembrar que, no Maithuna, está presente a força da liberdade, da naturalidade e da espontaneidade presentes no Tantrismo. A palavra naturalidade é a marca dessa filosofia, que vê a vida e o mundo da forma mais natural possível. Nada é proibido, isto para aquele que já está na Senda Tântrica, pois este já tem sua consciência desperta e sabe fazer, com discernimento e sabedoria espiritual, suas escolhas, ou seja, não faz suas escolhas com base apenas em seu interesse egoísta ou egocêntrico. O Sadhaka tem consciência plena da força do Karma e da ação do Dharma e, por isso, é um ser integrado consigo mesmo e com o mundo exterior, exercitando relações conscientes, éticas e responsáveis.

A base do ritual Maithuna é o estabelecimento de uma relação com base no amor tântrico, no qual corpo e espírito não estão dissociados e no qual não há internamente entre os parceiros qualquer sentimento de negação da expressão do corpo e de seus impulsos sexuais, ou qualquer sentimento de menos valia de seus anseios, desejos e instintos. Tudo isto é vivenciado da forma mais tranquila e natural possível. Não há barreiras ou limites no que diz respeito às formas que se possam estabelecer nessa relação, relação na qual se busca realizar todas as potencialidades de prazer e do gozo que todas as instâncias do ser humano, sejam essas instâncias de natureza física ou psicológica, podem propiciar em uma relação sexual. No entanto, cabe aqui destacar, toda essa busca de prazer é focada no sentido do despertar de Kundalini, não se estabelecendo, portanto, uma relação apenas do prazer pelo prazer, do gozo pelo gozo, pois há princípios morais, culturais e espirituais que norteiam toda a prática do Maithuna.

Cada parceiro está totalmente livre para vivenciar ao máximo a felicidade e os prazeres que podem estar presentes em uma relação em que se envolvem todos os níveis de que se compõe o ser humano. No Maithuna, o parceiro sabe que está em uma relação em que cada um tem consciência da dimensão da força espiritual poderosa que se desperta em um ritual Maithuna, pois se estará ativando a energia serpentina – a Kundalini – e, dessa forma, muitos Siddhis (poderes latentes) podem ser despertados e muitas vivências de ampliação da consciência (Chitta) poderão ser experienciadas.

Sabe-se que o ritual Maithuna se desenvolveu na Índia de variadas formas e, assim, adquiriu, ao longo do tempo, nuances variadas, desde o tempo de sua duração, até a forma de se vivenciar a prática concretamente, mas existe um arcabouço básico que norteiam as várias tendências que esse ritual foi desenvolvendo ao logo dos séculos.

De qualquer forma, como em todo o Tantrismo, tudo que está presente no Maithuna se dá de forma ritualística, como o é uma prática de Yoga Tântrico, como o é a prática de Shivam Yoga.

Aliás, dentro do Maithuna, está presente e, formando mesmo a sua base, o Yoga Tântrico, através, primeiramente, do fato de os parceiros terem de ter uma consciência espiritual desperta, o que se dá através da obrigatoriedade de eles terem de observar os Yamas e os Niyamas (princípios éticos comportamentais) – e isto é básico para que seja estabelecida uma relação consciente e responsável entre os parceiros. Em segundo lugar, e não menos importante que o primeiro item, para a “performance” do ritual, é preciso que os parceiros tenham capacidade suficiente para executar os Pranayamas (domínio da respiração) e os Asanas (exercícios de movimentos corporais).

O domínio de ambos possibilitará aos parceiros realizar, de forma adequada, as posições presentes no Maithuna. Esse domínio representa a base para não só imprimir prazer ao ato, mas também para que se possa estar ativando os centros energéticos e, consequentemente, despertando a Kundalini. Outro item também não menos importante são as técnicas de meditação e de concentração que são desenvolvidas durante todo o ritual, assim como os Pujas (transmissão de energia), os Kriyas (purificações) e os Mantras (cânticos de força e poder).

Todo o ritual é em si um Sadhana, uma prática de Yoga Tântrico, no qual ha um objetivo primordial, que não é só o de possibilitar o gozo e o prazer, mas, principalmente, o de propiciar o autoconhecimento e o despertar da consciência, os quais serão conseguidos através do despertar dos Chakras e, consequentemente, do despertar de Kundalini.

Maithuna é um Aart (ritual) Tântrico e deve ser vivenciado pelos parceiros como um autêntico e poderoso Sadhana (prática de Yoga Tântrico), caso contrário está-se apenas em uma relação sexual comum.

B – O SEXO RITUALÍSTICO NO MUNDO TÂNTRICO HINDU – O RITUAL MAITHUNA (Parte III)

Local: É muito importante a escolha do local. Este deve ser um local afastado de centros urbanos, sendo que o ideal é um Ashram. O espaço interno deve ser preparado especialmente. O salão deve ter variados objetos para o ritual.

Materiais: Carpete ao solo, tapetes com motivos inspirados no Kama Sutra são os ideais, assim como quadros, que também pode apresentar figuras de Shiva e de Mestres Tântricos. Luminárias com lâmpadas de preferência vermelha (ativar os Chakras básicos) e também lilás ou violeta (ativar os Chakras Superiores). Velas de variadas cores e produzidas artesanalmente. Incensos, muitos incensos, de Sándalo, Ylang Ylang e Rosas são os ideais. Essências aromáticas, para que os parceiros possam usá-las aplicando-as em si e em seu parceiro. Vasos com flores, e flores especiais para oferendas aos Mestres Tântricos e para oferendas entre si. Chás de espécies variadas, sucos e Lassy, frutas e cereais variados. Colocarem-se à disposição os cinco Tattwas (os cinco elementos – Terra, Água, Fogo, Ar e Éter), alguns deles podem estar presentes apenas em forma simbólica.

Ações preliminares: Como já foi dito, os parceiros devem observar os Yamas e os Niymas muito antes de se proporem à prática do ritual Maithuna. Têm de estar conscientes de que eles se tornarão concretamente Shiva e Shakti e, assim, estarão atuando no mundo de forma poderosa e transformadora e estarão utilizando de todo um conhecimento para o despertar da consciência, não estando ali apenas para uso de suas potencialidades (os Siddhis) para o restrito mundo do prazer físico. São Sadhakas e, como tal, têm todo um compromisso de ética e responsabilidade com a Senda Tântrica, a qual está lhes proporcionando vivenciar esse ritual. Assim, responsabilidade e ética são as bases para o sucesso do ritual. Outro item importante é a consciência de que o ato é algo ligado ao desenvolvimento espiritual de cada um e que todas as etapas são importantes e estarão contribuindo para que cada um cresça individualmente como Sadhaka. Manter a mente límpida e transparente, as emoções equilibradas e os anseios e desejos claros, objetivos e transparentes. Tudo isso aponta para que os parceiros sejam praticantes de Yoga Tântrico, pois, sem essa base, o Maithuna não se concretizará como um Ritual Tantrico, como um Sadhana transformador. 

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