Uma caminhada entre a Faculdade de Música do Espírito Santo (Fames) e o Palácio Anchieta nos mostra em fachadas, paredes e portas por que o Centro de Vitória, de acordo com levantamento realizado pela Prefeitura, é um dos três bairros com maior incidência de casos de pichação na cidade. Não se anda uma quadra sem deparar com grandes e bizarras garatujas.
Segundo o secretário municipal de Serviços, Alex Mariano, o problema tem incomodado o poder municipal desde o início do ano passado. “Tudo o que a gente fez foi observar e começar a pontuar os locais de maior incidência. A coisa foi crescendo cada vez mais, em pontos de ônibus, monumentos, lixeiras”, diz o secretário.
Além do Centro, Jardim da Penha e Jardim Camburi também penam com o problema. Para Mariano, no entanto, o Centro inspira um pouco mais de cuidado, devido à atmosfera histórico-cultural que o envolve, com seus prédios antigos e monumentos e esculturas artísticas. “Mas eles não têm parâmetro. Picham em qualquer lugar”, afirma.
Em maio, a prefeitura apresentou uma estratégia mais ampla e contundente de combate à pichação, envolvendo a Guarda Municipal, a Polícia Militar e um projeto específico da Secretaria Municipal de Cultura (Semc).
Houve intensificação das ações de fiscalização patrimonial com o fim de operar em flagrante os atos de pichação. A Polícia Militar e a Guarda Municipal de trânsito e comunitária podem deter o pichador e encaminhá-lo à Polícia Civil. A fiscalização será auxiliada ainda pelas 130 novas câmeras de videomonitoramento que a prefeitura adquiriu.
A partir da Rua Governador José Sette já se vê a extensa parede da Renner tomada por pichações, assim como, mais à frente, o abrigo do ponto da Governador Blei, os portões do Mercado da Capixaba, a Escadaria Djanira Lemos, Escadaria do Rosário, a Escadaria São Diogo, a Escadaria Maria Ortiz, para ficarmos nos pontos mais visados pelos pichadores, sem falar em inúmeras pichações em propriedades privadas.
A pichação não incomoda apenas por conferir uma aparência desagradável à paisagem do Centro. A questão é também financeira: em toda a cidade, a Secretaria de Serviços gasta mensalmente com limpeza de pichações em prédios públicos e abrigos em pontos de ônibus cerca de R$ 15 mil.
Dos 15 espaços culturais geridos pela Semc, o Centro de Vitória abriga oito: a Casa Porto das Artes Plásticas, a Escola Técnica Municipal de Teatro, Dança e Música (Fafi), a Biblioteca Municipal da Fafi, o Museu Capixaba do Negro “Verônica da Pás” (Mucane), o Mercado Capixaba, o Casarão Cerqueira Lima, a Escola São Vicente de Paulo e o Espaço Vitória Design.
Entre esculturas e monumentos, o Centro também abriga um número expressivo. São 11 na entre a Escadaria Bárbara Lindenberg, a Praça João Clímaco e a Praça Presidente Roosevelt; sete na Praça Costa Pereira; três na Praça Ubaldo Ramalhete; dois na Praça Francisco Teixeira da Cruz; um no Parque Municipal da Gruta da Onça.
Numa espécie de contraponto à fiscalização, hoje a Semc desenvolve um projeto cultural de intervenção urbana com o objetivo de humanizar os espaços públicos da cidade. A ideia do A Arte é Nossa é realizar intervenções em muros da capital através de suportes como grafite, arte-mural, arte-relevo e pintura. Um edital de credenciamento de artistas foi publicado para mapear grafiteiros, arte-muralistas, pintores e outros artistas para ações futuras de intervenção urbana.
“Trabalhamos para devolver os espaços públicos de Vitória aos seus moradores e para reforçar a vocação da cultura como elemento de transformação das cidades”, diz a secretária municipal de Cultura Ana Laura Nahas.
Um exemplo já está em andamento. Em parceria com os artistas Dione Salvador e Natural, o projeto está transformando o muro do estacionamento do Ministério da Fazenda, na Avenida Princesa Isabel com a Barão de Itapemirim, em um grande mural. A dupla propõe ali uma releitura do trajeto realizado pelo bonde, o principal meio de transporte dos moradores da região no início do século XX, destacando prédios históricos como a Fafi, o Palácio Anchieta e a Catedral Metroplitana.