Quinta, 02 Mai 2024

Até quando o município mais populoso do Estado vai ficar sem Pronto-Socorro?

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Até quando o município mais populoso do Espírito Santo vai continuar sem um único Pronto-Socorro? O questionamento, que já vem sendo feito por moradores, organizações sociais, deputados e vereadores, chega agora ao governo do Estado por meio de um abaixo-assinado proposto pelo Coletivo Mães Eficientes Somos Nós (MESN) e endereçado ao governador Renato Casagrande (PSB), pedindo a reabertura do PS do Hospital Estadual Dr. Jayme dos Santos Neves, na Serra, fechado no início da pandemia, quando a unidade hospitalar se tornou a principal referência no tratamento de Covid-19. 

"Desde 2020, quando o Pronto-Socorro do Hospital Jayme dos Santos Neves foi fechado, o movimento das nossas UPAs na Serra aumentou 60%, segundo dados do DataSUS", destaca a petição. A sobrecarga da rede municipal afeta com mais intensidade as famílias de crianças e adolescentes com deficiência, informa.

"Atualmente, todos os pacientes - sejam os que trocam tiros com a polícia, mulher esfaqueada por companheiro, acidentes na BR - vão todos para as nossas UPAs, onde mães esperam com seus filhos e têm que dar prioridade a esse atendimento de emergência. As UPAs não foram criadas para emergências, mas sim urgências. Emergência é só em Pronto-Socorro", aponta o documento.

Há relatos de mães que aguardam até seis horas por um atendimento em Unidade de Pronto Atendimento (UPA), segundo a coordenadora-geral do Coletivo, Lucia Mara Martins. A situação, que causa sofrimento em qualquer pessoa, é ainda mais grave para essas famílias. "A maioria das mães é solo e quando precisa ir para uma UPA se tratar, não pode levar os filhos. Mas quem fica cuidando deles, para nós também sermos cuidadas, se o tempo de espera é sempre tão longo?".

Quando o atendimento é para a própria pessoa com deficiência (PCD), a situação também é de mais sofrimento, explica Lucia, especialmente quando a criança ou o adolescente sofre de Transtorno do Espectro Autista (TEA) e outras deficiências mentais/intelectuais que trazem a hipersensibilidade ao barulho e lugares com aglomeração de pessoas. "Muitos entram em crise, choram, gritam, se batem", conta.

"A gente entende o fechamento na época mais difícil da pandemia de Covid. Mas agora precisa reabrir. O governo precisa entender que, tirando a emergência do Jayme, está provocando problemas de superlotação em cascata em todo o serviço de saúde municipal, as UPAs e até os postos de saúde de bairro. Tem crianças intubadas dentro de UPA", reforça Lucia Mara.

Emergência psiquiátrica

A petição também pede para que seja criada, no Hospital Jayme, uma ala específica para emergência psiquiátrica, para atendimento adulto e infantil de surtos e crises de sofrimento mental, visto que o município da Serra também não dispõe desse serviço. "Todas as vezes que precisamos desses serviços de emergência, temos que nos deslocar para Cariacica ou Vila Velha", pontua a petição, referindo-se ao Hospital Estadual de Atenção Clínica (HEAC), especializado em urgência e emergência psiquiátrica de adultos, e ao Hospital Estadual Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves (Himaba), que presta o mesmo atendimento para pessoas até 17 anos.

"Em caso de atendimento para crianças, esse deslocamento tem causado demasiado transtornos. E muitas vezes as ambulâncias (Samu) não estão preparadas. Isso demanda serviços e ação da Policia Militar, que também não é preparada para esta questão", acrescenta.

Lucia conta que a melhoria do Samu é uma pauta antiga do Coletivo, pois não há equipes preparadas para lidar com crianças e adolescentes em surto psiquiátrico. E no caso das comunidades periféricas que vivem o problema do tráfico de drogas, a presença da PM é um problema a mais. "A presença da PM não é aceita dentro desses bairros, o que causa muitos problemas para a família que precisa da ambulância", enfatiza.

"A abertura deste serviço no Pronto-Socorro psiquiátrico do Jayme Santos Neves facilitaria muito tanto para o deslocamento destas pessoas em situação de sofrimento mental do município, quanto para as suas famílias que, com o percurso mais curto, conseguiriam agilizar outras formas de remoção sem precisar especificamente do serviço do Samu (192)", reforça o texto da petição.

O Coletivo informa também que, em reunião com o prefeito Sergio Vidigal (PDT), foi assegurado que a gestão municipal trabalha na adaptação de uma ala do Hospital Municipal Materno Infantil (HMMI) para abrir um Pronto Atendimento Infantil até o segundo semestre deste ano, o que vai ajudar a aliviar a sobrecarga nas UPAs da cidade.

Lucia também destaca a confiança de que o governo do Estado irá receber mais essa pauta com sensibilidade e disposição de trabalhar por uma solução. "A gente reconhece o trabalho que o governador tem feito com a gente há mais de um ano, desde o acampamento no Palácio Anchieta, quando assumiu o compromisso de se reunir conosco a cada 45 dias e disponibilizar os secretários de Saúde e Educação para se reunir com a gente todos os meses. Ele se comprometeu e está cumprindo, e esta é uma pauta que iremos tratar na próxima reunião".

Comissão de estudo

A reabertura do PS do Jayme foi tema de uma reunião da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa em março, quando o secretário estadual de Saúde, Miguel Paulo Duarte Neto, mostrou, pela primeira vez, a disponibilidade do governo em atender ao pleito, apesar do direcionamento que o hospital passou a ter, para atendimento de serviços de média e alta complexidade, somente.

Na reunião, o secretário disse que 70% dos atendimentos que iam para o Jayme antes do fechamento do PS no início da pandemia, eram de pacientes de baixa complexidade, que deveriam ser atendidos nas unidades básicas de saúde e sugeriu que uma solução para a demanda deveria surgir a partir de um grupo formado por membros do Executivo e Legislativo estaduais e municipais, além da sociedade civil.

Na ocasião, ficou estabelecido um prazo de 45 dias para uma comissão formada nesses moldes se debruçar sobre os dados existentes e apresentar resultados dos estudos.

O maior do ES

O Hospital Estadual Dr. Jayme Santos Neves foi inaugurado em fevereiro de 2013 e continua sendo o maior hospital público do Espírito Santo. Segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), é fruto de um investimento de cerca de R$ 165 milhões em recursos próprios do governo do Estado e oferta, atualmente, 415 leitos à população capixaba. O hospital recebe pacientes regulados pela Secretaria da Saúde (Sesa), que chegam via transferência de UPAs, outras unidades hospitalares, ou também por meio do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu 192).

"Com o arrefecimento da pandemia da Covid-19, o Hospital Dr. Jayme Santos Neves segue com um novo perfil de atendimento. A unidade é referência em grandes traumas, urgências neurológicas, neurologia ambulatorial, ortopedia de média e alta complexidade, cirurgia geral, urgências vasculares, urgência e emergência em clínica médica, além de gestação de alto risco materno e fetal, contando com um Centro de Tratamento de Queimados (CTQ)", informa a Sesa.

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