segunda-feira, novembro 11, 2024
22.1 C
Vitória
segunda-feira, novembro 11, 2024
segunda-feira, novembro 11, 2024

Leia Também:

Demanda de oxímetros portáteis no Estado é de 20 mil aparelhos

Uso é recomendado pela OMS e o SUS poderia cedê-lo a todos os sintomáticos. Findes doou 4,2 mil unidades ao Estado

Britto e Iron Braz/Governo Goiás

Uma recomendação feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS) há um ano pode começar a ser implementada no Espírito Santo nos próximos dias, mas ainda em quantidade bem inferior à minimamente necessária: o uso de oxímetros de dedo aos pacientes sintomáticos, suspeitos ou confirmados de contaminação pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2).

Nessa quinta-feira (1), o governo do Estado recebeu de 4.250 aparelhos, que serão distribuídos aos 78 municípios capixabas, contemplando 1.044 equipes de Atenção Primária em Saúde (APS). A doação foi feita pela Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), com o aporte financeiro da EDP, Fortlev, Nestlé/Garoto, Buaiz, Villoni, Mondelez, Selita, Frisa, Real Café e Uniaves.

Secom

Na ocasião, o secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, ressaltou que a Atenção Primária é responsável por assumir casos leves de Síndromes Gripais, entre elas, da Covid-19, bem como identificar precocemente os casos graves para o encaminhamento rápido aos serviços de maior complexidade, como Unidades de Pronto Atendimento, Centros de Referência de Urgência e Emergência ou Hospitais.

“Neste momento, os pacientes estão chegando muito graves aos serviços de saúde e em alguns casos não alcançam o leito hospitalar, dada a gravidade que evoluem, esperando em casa. O controle do oxímetro pela Atenção Básica pode permitir que consigamos identificar o momento mais oportuno de internação e que o paciente não chegue tão grave ao serviço. Eles serão uma grande aposta na Atenção Primária de Saúde, com a oximetria diária”, explicou.

A epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Ethel Maciel lembra que a recomendação da OMS tem terreno fértil no Brasil para ser amplamente implementada por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), configurando uma política pública inédita no mundo. Inédita porque nos países mais ricos as pessoas em geral conseguem arcar com o custo – que no Brasil varia entre R$ 55 e R$ 150 – e, nos países pobres, não há um sistema tão capilarizado e universal como o brasileiro SUS.

As condições únicas do País permitem que os aparelhos sejam cedidos em comodato, pelo SUS, para todos os pacientes sintomáticos, confirmados ou suspeitos de Covid-19, para serem usados no próprio domicílio. O uso recomendado é de dez dias, o que, considerando o atual ritmo de contaminações no Espírito Santo, demanda um quantitativo de aproximadamente 20 mil unidades. “Os aparelhos seriam das unidades de saúde, que os emprestariam por comodato. Quando o paciente melhorar dos sintomas, devolveria ao SUS, que o emprestaria para outro”, explica.

O ideal, reitera, é que “todo caso suspeito que for encaminhado para o teste deve ter o oxímetro”, pois não é possível, nesse primeiro momento, saber quem irá evoluir para um estado mais grave ou não. “Se a saturação estiver abaixo de 92, a pessoa tem que voltar para o serviço de saúde. O que acontece nessa doença é que ela evolui muito rápido. As pessoas, mesmo com comprometimento pulmonar importante, continuam se sentindo bem e quando chegam no serviço de saúde, já estão com muita inflamação nos pulmões”, explica.

Momento é crucial

A epidemiologista reforça também a importância dessa medida no momento atual, que impõe as maiores taxas de transmissão e números diários de óbitos desde o início da crise, há um ano, já tendo atingido quase quatro mil mortos. “Doença infecciosa requer investimento em prevenção”, já conclamou Ethel Maciel.

Numa analogia à pandemia de HIV/AIDS, a epidemiologista explicou que não investir em prevenção de Covid é equivalente a ter dito para as pessoas, nas décadas de 1980 e 1990, que elas podem continuar com todos os comportamentos de risco, “terem relações sexuais sem preservativos, continuar indo em todos os lugares, inclusive nesses que propiciam atividade sexual com mais de uma pessoa. E que, se a pessoa ficar doente, existem os hospitais e talvez algum medicamento que possa tratar essa doença”.

A cessão de oxímetros, a distribuição de máscaras filtrantes e a testagem maciça são urgentes e devem ser associadas à uma vacinação mais célere da população e a medidas mais restritivas de circulação de pessoas. Caso contrário, a situação tende a ficar ainda pior, com o país registrando, pela primeira vez na história, um número diário de mortes maior que o de nascimento, conforme alertou o médico e cientista Miguel Nicolelis em entrevista à Globo News nessa sexta-feira (2).

Investimentos são urgentes

Em junho passado, quando o Espírito Santo atravessou o primeiro dos três picos da pandemia, o alerta sobre necessidade de maior investimento financeiro na saúde primária foi noticiado por Século Diário. “O governo do Estado precisa atuar na coordenação estadual do fortalecimento, nos municípios, da atenção básica, para a testagem da população e isolamento dos doentes”, disse, na época, a epidemiologista.

“O planejamento desse pacto interfederativo”, explicou Ethel, deve envolver repasses financeiros e metas sobre número de testagem e de pessoas isoladas, formas de isolamento, parâmetros e indicadores de avaliação da evolução dos doentes”, descreveu, ressaltando a necessidade de uso do oxímetro.

Os investimentos financeiros na APS, no entanto, ainda não aconteceram. No início de julho, a Sesa informou a adoção de uma Agenda de Resposta Rápida em Atenção Primária em Saúde no combate à Covid – ARRAPS. A estratégia, disse o secretário Nésio, “aponta para a necessidade de avançar no monitoramento com oxímetros domiciliares para outras ações que possam garantir um diagnóstico mais oportuno da descompensação respiratória dos pacientes em isolamento domiciliar”.

Concentrando recursos apenas na saúde terciária, ou seja, hospitalar, os custos têm sido muito maiores. No último dia 27, o governador Renato Casagrande (PSB) anunciou a elevação para R$ 2,1 mil o valor da diária paga por leito de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e R$ 715 no de enfermaria, nas contratualizações feitas junto aos hospitais privados e filantrópicos, como forma de incentivar a transformação de outras estruturas hospitalares em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

A estratégia surtiu rápido efeito no mercado de saúde privada capixaba. Nessa sexta-feira (2), Casagrande anunciou que serão abertos mais 500 leitos de UTI e enfermaria durante o mês de abril.

Mais Lidas