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Documentário capixaba é primeiro lugar em Congresso Internacional

Fotos: Leonardo Sá

“Eu posso ser feliz agora, aqui, eu vou aproveitar, eu vou viver os momentos. Não importa o que vai acontecer amanhã depois do meu tratamento, durante o meu tratamento. O que importa é que eu estou bem hoje, então eu vou ser feliz hoje, então vou ajudar as pessoas hoje”.

Aparentemente surpreendente para uma mulher que passou por um tratamento de câncer de mama, essa é uma das falas presentes no documentário capixaba Reinventando a Vida, premiado como o melhor trabalho científico do V Congresso Internacional de Acupuntura e XXIII Congresso Brasileiro de Acupuntura, que aconteceu nos dias 12 e 13 de outubro últimos em São Paulo.

Produzida pela Dra. Ana Rita Novaes e dirigido por Romulo Musiello, a obra é fruto de sua tese de doutorado “A Acupuntura no cuidado com mulheres com câncer de mama em Vitória/ES”, da médica, e mostra os benefícios dessa técnica milenar para as mulheres em tratamento na Associação Feminina de Educação e Combate ao Câncer (Afecc)/Hospital Santa Rita.

Fruto da inquietação da médica acupunturista, o documentário teve objetivo de “conhecer e mostrar com maior profundidade como as mulheres com câncer de mama atravessam o período do tratamento. E compreender como a acupuntura poderia contribuir com esse tratamento”.

Conhecer e mostrar para as próprias mulheres em tratamento, para seus familiares – “que muitas vezes não sabem como lidar não conhecem a dimensão de como o câncer de mama afeta essas mulheres” – e para os profissionais de saúde, “que muitas vezes não percebem a dimensão, o quanto essas mulheres ficam sensíveis tanto no aspecto da sua sexualidade como no de buscar alguma alternativa que tenha uma melhora mais global, mais integral”, comenta Ana Rita.

Para a produção do documentário, foram entrevistadas 22 mulheres de idades entre 36 e 75 anos, em diversos estágios do tratamento, no período de outubro de 2015 e agosto de 2016.

Impressiona a diversidade de depoimentos positivos, relatando como a doença e o tratamento, feito com apoio de sessões de acupuntura, descortinou aspectos tão bonitos quantos desconhecidos da própria vida.

“Pra mim o câncer está sendo positivo, com certeza eu vou ser uma pessoa melhor. Ninguém passa pelo câncer e volta a mesma pessoa, de forma alguma”. “Passei a me valorizar mais e a cuidar mais de mim”. “Antes eu pensava no meu trabalho, família, no dia de amanhã e era um redemoinho, eu não sabia o que era me valorizar, me amar, me dedicar. Anterior era isso, hoje não”. “Agora eu me sinto mais bonita”. “O que eu vivi em seis anos, eu não vivi em cinquenta. Eu me pergunto onde eu estava, onde eu fiquei 50 anos? No casulo? Onde eu estava?”.

Reflexões assim profundas se intercalam com falas mais simples e igualmente contundentes, como o reconhecimento da redução da sensação de dores no corpo, da ansiedade, da depressão..sintomas físicos, mentais e emocionais que foram amenizados significativamente a partir da aplicação das agulhas da milenar medicina chinesa.

“Ao meu ver a cura é exatamente isso, não basta tirar o tumor, além de mudanças de alguns hábitos, é fundamental uma maior consciência, aprender com a experiência e se reinventar. Daí ressurge um ser melhor”, observa a Dra. Ana Rita, em uma de suas passagens no filme.

“Esse é o grande ganho, e de uma certa forma o filme permite que as pessoas tenham essa dimensão do cuidado, do cuidado integral, de uma escuta qualificada, que realmente melhora”, comenta, após a conquista do primeiro lugar no Congresso.

 

Agora, a meta é conseguir inserir Acupuntura de forma mais frequente nos ambulatórios capixabas, onde a técnica aportou nos anos 2000. Aqui, já existe uma Sociedade do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura, que formou grande número de médicos. Mas as prescrições médicas ainda não acontecem de forma sistemática. 

“O que acontece são encaminhamentos isolados de alguns profissionais de saúde de alguns oncologistas”, diz a especialista.

Geralmente, descreve Ana, o paciente, desde o diagnóstico, começa a passar por um processo importante de mudanças. “Existe um percentual muito grande de pessoas que se deprimem ao longo do tratamento”, conta.

 

E, no caso do câncer de mama, muitas vezes algumas mulheres fazem um tratamento hormonal. “Tem o diagnóstico, a cirurgia, a quimio, a radio, o tratamento hormonal. A gente observa que a acupuntura pode ser usada ao longo de todo esse processo de tratamento. Então todas essas mulheres podem se beneficiar bastante, desde o diagnóstico até o fim e até como prevenção”, atesta.

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