Sexta, 26 Abril 2024

Grande Vitória é mais perigosa para pretos que para o conjunto da população

negro_mascara_marcello_casal_jr_agencia_brasil Marcello Casal Jr./ABr
Marcello Casal Jr./ABr

Os quatro municípios mais populosos da Grande Vitória concentram 60% do total de 2.308 óbitos pelo vírus SARS-CoV-2 e 53% dos 73.755 casos confirmados até o momento. Entre a população, preta, a concentração na região metropolitana é ainda maior, de 68% dos óbitos e de 60% dos casos. 

Segundo o Painel Covid-19 desta quarta-feira (22), dos 4.339 casos confirmados entre pretos e pretas, 2.642 concentram-se nessas cidades. Do total de 179 óbitos nessa população, 122 estão nelas, sendo 51 na Serra, 33 em Vitória, 20 em Vila Velha e 18 em Cariacica. 

Quando a aba de raça seleciona a cor preta no Painel Covid-19, o ranking de bairros com maior número de casos muda radicalmente, surgindo comunidades com letalidades bem acima da média estadual, hoje em 3,13%, como Planalto Serrano/Serra (11,76%), Central Carapina/Serra (15,38%) e Carapina Grande/Serra (8%).

Os motivos dessa desigualdade racial e social também têm sido expostos no inquérito sorológico, que mostra maior contaminação entre moradores de lares com quatro ou mais residentes e entre pessoas que utilizam o transporte coletivo com mais frequência.

Mesmo com todas essas evidências e com a recomendação do Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE) para que haja mais esforço do governo do Estado em isolar as populações mais vulneráveis, seguindo as recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), seja por meio de casas de quarentena ou medidas de controle do transporte coletivo, não há qualquer aceno nesse sentido.

Outro fator que deve estar diretamente relacionado com a situação é a baixa presença da atenção primária na rede de saúde capixaba, apesar dos investimentos feitos no primeiro ano da gestão atual de Renato Casagrande (PSB), que criou 175 equipes de saúde da família.

Apenas 64% da população tem cobertura de equipes de Estratégia de Saúde da Família (ESF), sendo que os maiores vazios estão na Grande Vitória, segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), a partir da análise de dados de abril deste ano.

Na região, Vitória e Serra são citadas pelo secretário Nésio Fernandes como cidades que avançaram na cobertura de atenção primária durante a pandemia, com Vitória chegando a quase 100% de cobertura.

Independentemente dos avanços pontuais, a Defensoria Pública Estadual (DPES) recomendou, na última semana, que o Estado e os municípios da Grande Vitória reforcem os investimentos em saúde primária e outras medidas de proteção às populações das periferias da região metropolitana.

Segundo o próprio secretario Nésio Fernandes, uma rede de atenção básica bem organizada pode reduzir o pico de casos e acelerar a fase de recuperação da curva de contaminações, mas não prevê mais investimentos financeiros no setor, deixando a responsabilidade a cargo dos municípios.

Esse descaso, no entanto, está diretamente relacionado com a grande mortalidade registrada no Espírito Santo para a Covid-19, uma das maiores do país. "Os estados que tiveram melhor desempenho [em mortalidade pela Covid-19 até o momento] são os que possuem sistema de saúde mais organizado e a atenção primária é forte, como Mato Grosso do Sul e Santa Catarina, onde há formação de profissionais, residência médica nessa área", compara médico de família Daniel Soranz, professor e pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz e diretor de pesquisa da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC).

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