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‘Todo o corpo tem que se sensualizar’, recomenda psicóloga Claudia Calil

“Não é só o pênis, o corpo todo tem que se sexualizar”. A recomendação é da psicóloga Claudia Calil, que utiliza a Medicina Psicossomática e a Neurociência no tratamento dos casos de ejaculação precoce que atende. 

A cura, revela, passa por viver o tempo presente e sentir prazer na presença da pessoa com quem se está, sem se preocupar em “chegar lá”. É “descobrir o corpo, se descobrir junto com ela” e, “nessa dança, poder fazer sexo sem penetrar”, poetiza.

A ejaculação precoce é um tema muito recorrente no consultório. Estima-se que atinja mais da metade da população masculina. E, longe de ser um problema em si, o cerne da questão, na verdade ela é um sinal. De quê? Via de regra, ansiedade generalizada e outros transtornos associados. Por isso, a mudança comportamental é fundamental, a mudança de percepção, de comunicação. 

Houve casos de ser necessário “proibir” o paciente de usar o pênis com a mulher. “Falei: você não vai poder penetrar, vai usar a boca, os dedos, a orelha, o corpo todo”, relatou. Confiante na recomendação, o paciente até comprou um protetor genital usado em lutas, para imobilizar o órgão. Um pênis de silicone também já serviu de solução. “Ele viu como mais uma potência”. “A segurança de um ‘pau extra’, lhe tirou o medo de falhar”, conta. 

E há casos em que é preciso um medicamento psiquiátrico para encontrar a cura. Quando a ansiedade e/ou outros transtornos estão muito acentuados, dificultando o trabalho psicoterapêutico. 

Focar o tratamento apenas no medicamento, no entanto, não é recomendado. “Remédio não cura, remédio serve pra remediar. Remédio sem mudança comportamental não funciona”, afirma Claudia Calil. 

Os antidepressivos usados no tratamento de ejaculação precoce, explica, atuam no retardo da ejaculação, restaurando algumas capacidades do cérebro e recontornando rotas neurais. “O antidepressivo reabre janelas da plasticidade cerebral e permite uma nova formatação de novas conexões cerebrais”, explana. 

Serotonina 

O alvo é reduzir a produção de serotonina, salienta o urologista Marcelo Ruela, presidente da Associação de Urologia do Espírito Santo (AUES). Os ansiosos, salienta, possuem uma produção maior do hormônio, conhecido como um dos hormônios do “quarteto do prazer” – serotonina, endorfina, dopamina e ocitocina – o que aumenta o estímulo para a ejaculação. “O auge do prazer é a ejaculação”, pontua. 

Reduzindo a produção de serotonina, os antidepressivos retardam bioquimicamente a ejaculação.  O medicamento mais usado é a paroxetina, diz Marcelo. São necessários de seis meses a um ano para encontrar a dose certa para o paciente, considerando o peso, idade, nível de ansiedade e outros fatores. 

Mas em dez dias já é possível sentir alguma melhora, desde que haja atividade sexual nesse período. “Masturbação não resolve”, adverte. É preciso ter atividade sexual com outra pessoa, pois é na relação com o outro que se dá a ansiedade. “Pode-se transar com a mesma pessoa no mesmo lugar no mesmo horário … e cada dia vai ser diferente”, ressalta. 

Claudia enfatiza: essas mudanças bioquímicas precisam vir acompanhadas de mudanças no comportamento, se não o problema volta. “Mudanças no hardware, sem mudanças no software não resolve”, metaforiza.

Entendimento semelhante é do urologista paulistano Renato Chavasco, autor do livro recém-lançado no Brasil Não queime a largada, obra que se propõe a ser um manual do sexo, com informações colhidas ao longo de 22 anos de consultório tratando do assunto. 

“Noventa e nove por cento é ordem psicológica”, afirma. Deixando de lado os fatores que podem interferir nesse processo, como algumas doenças, ressalva, o estímulo adequado entre o casal é o aspecto mais importante. E, sobretudo, “é preciso ser 'paciente' para não queimar a largada nessa corrida em que, quanto mais lento, melhor. É necessária uma mudança de postura, de vida, de atitude, assim como para mudar qualquer coisa na nossa vida. Não queime a largada, a vida já é rápida demais por si só”, orienta.

Sem vergonha

Renato Chavasco acredita que mesmo o alto percentual estimado para o universo de homens que sofrem do problema –metade da população masculina – é subestimado. “Na realidade, acredito que o percentual é maior. Muitos pacientes procuram a gente e dizem que estão há cinco anos, dez anos com ejaculação precoce”, conta. 

A demora em procurar tratamento advém da vergonha de ir ao médico para tratar especificamente do problema. Mas, a situação vem mudando, observa o autor. “Os homens estão perdendo a vergonha de procurar urologista pra isso. O exame de toque retal, por exemplo, há 15 anos, 70% não queriam fazer em hipótese alguma. Hoje esse número inverteu”, diz. 

Quando esse paciente chega no consultório, é preciso “ir a fundo na vida sexual dele”, ensina, citando um caso emblemático de cura que passou longe de medicamentos e mesmo psicoterapia. Foi um homem de 57 anos de idade, casado e que vinha sofrendo de ejaculação precoce há um ano. 

Depois de uma longa entrevista, descobriram que o problema era a falta de privacidade, pois a filha do casal, com o netinho bebê, estava morando com eles e dividindo o mesmo cômodo pra dormir. A situação o deixava ansioso, pois tinha que transar rápido com a esposa para não incomodar a filha e o neto. “Quando eles tiveram a privacidade de volta, a ejaculação precoce acabou”, conta Chavasco.

Em suma, sintetiza o médico, “o ejaculador precoce tem que entender que a penetração corresponde apenas a uma parte da atividade sexual, do ato sexual propriamente dito. Esta parte tem que ser e deve ser a última”. 

No livro, o urologista dá outras dicas, como a preferência por uma parceira fixa ao invés de múltiplas parceiras. “Reduz a ansiedade”, observa. Também é preciso duvidar dos “tratamentos milagrosos”. “Alguns são vergonhosos”, alerta. “Clínicas particulares que sugerem que corte o freio peniano”, exemplifica. O fator comparação também precisa de cuidado. “O paciente tem que se monitorar para não se comparar com outros homens em relação ao tempo para ejaculação”, afirma.

Inspirados nos milenares ensinamentos tântricos do Oriente, Chavasco cita ainda duas técnicas que constam na literatura médica ocidental: começar a penetração e em seguida parar, por três a cinco minutos, dentro da parceira; ou retirar o pênis e apertar a glande, inibindo o estímulo da ejaculação. “Eu recomendo, é como fisioterapia”, diz. 

Ensinamentos tântricos

Em suas colunas mensais neste Século Diário, o mestre Arnaldo de Almeida, do Sistema Shivam Yoga, transmitiu alguns desses milenares ensinamentos, ao abordar o Maithuna, que é a forma espiritual e ritualística de praticar o sexo, seguindo os conhecimentos do Tantra, uma das filosofias mais antigas da humanidade, criada pelos povos dravidianos, do Vale do Indo, na Índia antiga. 

“Todo o ritual é em si [do Maithuna] é um Sadhana, uma prática de Yoga Tântrico, no qual há um objetivo primordial, que não é só o de possibilitar o gozo e o prazer, mas, principalmente, o de propiciar o autoconhecimento e o despertar da consciência. Caso contrário está-se apenas em uma relação sexual comum”, explica Mestre Arnaldo.

“O ser humano é um ser de energia e a energia da sexualidade é uma das formas mais poderosas de ação no mundo e, sendo utilizada de forma sábia e consciente, somente trará a quem a exercita poder e sabedoria. Caberá a cada um saber utilizar essa energia da forma mais sábia possível e menos egoísta possível”, ensina. 

 

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