Laudiceia é acusada de ser responsável pela construção do Centro Pop em Santa Bárbara
A comerciante Laudiceia da Silva Rizzo registrou Boletim de Ocorrência (BO) na Delegacia da Mulher de Cariacica após ser surpreendida, na última sexta-feira (8), com cartazes com sua foto colados nos muros e postes das ruas do bairro Santa Bárbara, em Cariacica. No material, ela é acusada de ser a responsável pela instalação do novo Centro Pop na comunidade.

O cartaz, que ainda não se sabe quem espalhou e também foi colocado nas caixas dos correios dos moradores, diz que “nosso bairro vai receber um Centro Pop, mesmo contra a vontade da maioria”, e acrescenta: “esse espaço, voltado para pessoas em situação de rua, pode afetar a segurança, a valorização dos imóveis e a tranquilidade das famílias. E sabe quem ajudou a trazer isso pra cá? Ela: Laudiceia Rizzo – dona do petshop”.
O texto afirma ainda que “enquanto muitos defendem o bairro, ela vive nas redes sociais atacando o prefeito e agora, (sic) sua postura política acabou prejudicando todos nós”. O município já tem um Centro Pop no bairro, mas em um espaço alugado. A gestão de Euclério Sampaio (União) quer construir um no terreno onde os moradores reivindicam que seja feita uma área de lazer.

Contudo, afirma Laudiceia, ela nem ao menos é favorável à instalação do Centro Pop ali, já que na última gestão do prefeito Helder Salomão (PT) foi aprovada, no orçamento participativo, a construção de uma praça. Mas a gestão seguinte, de Geraldo Luzia de Oliveira Júnior (Cidadania), o Juninho, não deu prosseguimento. Laudiceia acredita que o fato de ela declarar abertamente que é de esquerda, filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT), faz com que ela esteja sofrendo esses ataques.
A comerciante afirma que também acionou a Procuradoria da Mulher da Assembleia Legislativa e fará o mesmo com o Ministério Público do Espírito Santo (MPES). A colagem dos cartazes foi mencionada na sessão dessa segunda-feira (11) da Câmara Municipal. A vereadora Açucena (PT) declarou apoio e apontou crime de calúnia e difamação, previstos no Código Penal, e de violência política, previsto na Lei 14.187/21, que trata dos crimes contra o Estado Democrático de Direito.
“Estaremos juntos para que aqueles que cometeram crime de difamação, injúria e violência política possam ser responsabilizados”, disse a vereadora, que defendeu a apuração por meio das imagens de câmeras de videomonitoramento do bairro. O vereador Jocemir da Enfermagem (Pode), morador de Santa Bárbara, se dirigiu a Laudiceia dizendo que “a comunidade te conhece, sabe a comerciante que você é. Me solidarizo com o que você está passando”.
Protestos
A construção do novo Centro Pop tem sido questionada por moradores, o que motivou protestos, como o realizado em 13 de junho, na Rodovia Leste Oeste. Na ocasião, o líder comunitário Ciro Guisolfi relatou que uma das queixas dos moradores, além da questão da construção da praça, é pelo fato de o Centro Pop funcionar até às 18h, ou seja, por não ser um espaço para dormir, as pessoas em situação de rua acabam ficando ali no bairro e, de acordo com Ciro, alguns são usuários de drogas, o que deixa os moradores temerosos.
Para ele, a prefeitura está tirando essas pessoas de Campo Grande e levando para Santa Bárbara, sem prestar a elas um serviço de qualidade, pois oferece somente comida e local para banho, porque “Campo Grande não pode ter pessoas em situação de rua, pois é o maior shopping aberto do Estado”.
Ciro referiu-se ao fato de que, em maio, a Prefeitura de Cariacica removeu cabanas ocupadas por pessoas em situação de rua próximas ao Terminal de Campo Grande. A gestão municipal chamou a iniciativa de “desocupação e limpeza de uma área pública”, na qual, além das barracas de pessoas em situação de rua, havia “bancas de jornais abandonadas e estruturas improvisadas para uso de ambulantes de forma irregular”.
A Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de Vitória, no entanto, acredita que o novo local é adequado por ser perto de ponto de ônibus e “de fácil acesso para a pessoa em situação de rua”, conforme afirmou na ocasião Marco Romanha, agente da pastoral. Para ele, há uma estigmatização em relação a esse grupo. “Acredita-se que essas pessoas podem levar violência para o bairro, mas isso não procede. Falta reconhecer o valor e necessidade do equipamento para resgatar a dignidade das pessoas”, afirmou.
Atuação do Ministério Público
Açucena relata que as condições do Centro Pop já vinham sendo alvo do Ministério Público, que em abril último instaurou “procedimento administrativo de acompanhamento”, considerando notícias de supostas irregularidades no seu funcionamento”, conforme consta na portaria 16/2025, assinada pelo promotor de justiça Christian Barreto Salcedo da Matta. A instauração foi feita após o órgão ministerial ter sido acionado pela vereadora.
Conforme consta na notificação, foram encontrados falta de infraestrutura adequada, colchões inapropriados, falta de copo descartável ou individual para os usuários, falta de sanitários adequados e de limpeza, ausência de realização de oficinas, e localização dificultosa para as pessoas em situação de rua do município. Açucena visitou o local em fevereiro último.
“A coordenadora relatou que são 40 beneficiários atendidos diariamente, porém, nos informou que os beneficiários só podem acessar o espaço no horário entre 7h e 8h, o que caracteriza um atendimento inadequado, considerando que muitos moradores em situação de rua não conseguem acessar esse serviço no horário exigido, sendo necessário mais flexibilidade no horário para garantir o atendimento, e evitar um esvaziamento da unidade como vem ocorrendo”, diz a denúncia.
Além disso, aponta, “o Centro Pop está localizado distante dos locais de maior concentração dessa população, dificultando o acesso no horário determinado, o que deixa claro que a implantação da unidade, não foi considerado um diagnóstico socioterritorial para identificação de áreas de maior concentração e trânsito dessa população, bem como sua dinâmica de movimentação”.
Outros problemas destacados são áreas sujas e mal conservadas; falta de ventilação adequada, com ambientes abafados e insalubres; riscos de contaminação devido ao estado precário das instalações de banheiros e áreas de convivência; falta de uma área destinada a alimentação; e banheiro pequeno, com chuveiro baixo e cheiro forte de mofo.
A vereadora também aponta falta de camas individualizadas, devidamente forradas, para possibilitar momentos de descanso aos beneficiários. “O que encontramos no local foi espaço aberto, expostos ao ambiente, numa espécie de quadra poliesportiva, onde cada usuário utiliza de um colchão (disponibilizado pelo Centro POP), colocado no chão, sem a devida higienização e sem roupas de cama para se aquecerem”.