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‘Estão tentando intimidar o padre Kelder, mas não vamos aceitar’

Movimentos farão missa em desagravo à entrada de policiais com cães farejadores nas dependências de igreja em Itararé

Movimentos sociais do Estado realizarão, neste domingo (23), uma missa em ato de desagravo ao fato de, nas últimas duas semanas, policiais militares terem entrado duas vezes no pátio da comunidade matriz Imaculada Conceição, em Itararé, no Território do Bem, em Vitória, com cães farejadores. O ritual será às 8h, na própria comunidade. O ocorrido tem sido encarado como uma tentativa de silenciar o pároco, padre Kelder Brandão, que tem feito críticas às operações violentas das forças de segurança pública nas comunidades periféricas.

Franciscanos

“Estão tentando intimidar o padre Kelder, mas não vamos aceitar”, avisa o coordenador da Comissão de Promoção da Dignidade da Pessoa Humana (CPDH) da Arquidiocese de Vitória, João José Barbosa Sana. Para ele, trata-se de um processo de intimidação não somente do sacerdote, mas de todos que atuam na defesa dos direitos humanos. “Se estão fazendo isso com ele, estão fazendo com a gente também. Nosso movimento é de solidariedade a ele e a todos que sofrem agressões por defender as causas populares e às comunidades periféricas”, afirma.

Uma nota é preparada para ser lida na missa, que será presidida pelo bispo auxiliar, Dom Andherson Franklin. Além da demonstração de solidariedade, será reivindicado um esclarecimento da gestão de Renato Casagrande (PSB) quanto à ação da PM. “É uma prática inadmissível dentro do Estado Democrático de Direito, de não saber conviver com quem pensa diferente”, aponta, destacando que o sacerdote “tem uma história de luta e solidariedade ao povo capixaba”. “A atuação do Kelder é de denúncia, de estar ao lado do pobre. Foi assim na denúncia contra as masmorras no sistema prisional, é assim com os indígenas e quilombolas na defesa pela democracia”, aponta.

O sacerdote tem em seu histórico inúmeros episódios de denúncia contra as injustiças, inclusive no que diz respeito à violência policial nas comunidades periféricas. Em 2022, durante a Missa das Pastorais Sociais na Festa da Penha, dedicou o ritual às “queridas mães pobres” e citou o caso do jovem Wellington da Silva Dias, assassinado pela PM em São Pedro, na Capital.

“Deus olhou com ternura para uma jovem pobre da periferia de Jerusalém e é com esse mesmo olhar que olha para vocês, mães empobrecidas das periferias, que, como ela, aos pés da Cruz, seguram no colo os filhos esvaindo-se em sangue, sem vida, mortos por agentes do Estado, como o jovem Wellington da Silva Dias, recentemente executado em São Pedro por um policial militar, como tantos outros jovens pretos e pobres, executados sumariamente ao longo dos anos no Espírito Santo”.

Mais recentemente, Kelder fez críticas à atuação do secretário estadual de Segurança Pública e Defesa Social, coronel Alexandre Ramalho, quando o gestor publicou um vídeo em suas redes sociais no qual expôs um jovem negro. Durante uma celebração ecumênica na Igreja Presbiteriana Unida, em Maruípe, o sacerdote destacou que o adolescente já estava inerte e sob custódia do gestor, mas ainda assim, o secretário proferia “vaticínios e palavras ofensivas e humilhantes, evidenciando o racismo estrutural nas instituições públicas capixabas”.

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