Domingo, 19 Mai 2024

Prefeitos querem armar as guardas para enfrentar criminalidade na GV

Prefeitos querem armar as guardas para enfrentar criminalidade na GV

 

Os novos prefeitos que assumiram mandato das quatro cidades mais populosas do Estado – Vitória, Vila Velha, Serra e Cariacica - elegeram como bandeira, ainda durante a campanha, o combate à violência nos municípios. A principal plataforma apontada pelos atuais gestores é, via de regra, o fortalecimento das guardas civis municipais e o ampliação ou adoção do sistema de videomonitoramento.
 
O olhar direto dos municípios para a Segurança Pública foi promessa de campanha dos prefeitos e deve ser cobrada de perto pela população, principalmente por conta dos altos índices de criminalidade na Grande Vitória.
 
Mas ainda há controvérsia em torno da proposta de alguns prefeitos em armar a guarda municipal para combater a crminalidade. De acordo com o especialista em políticas públicas, professor Roberto Garcia Simões, entre a atribuição das guardas civis municipais – proteção do patrimônio – e das polícias – policiamento ostensivo e investigação de crimes – existe uma “área de sombra” em que deveria haver mais interação entre essas forças.  “Dependendo do que for feito, se as guardas começarem a ser tratadas como polícia pode haver problemas jurídicos futuros”. 
 
O professor ressalta que a guarda pode atuar como um apoio no policiamento comunitário, não exercendo o policiamento ostensivo, que é função da PM. “Entre ser uma guarda patrimonial e ser uma PM '2' deve haver um equilíbrio”. 
 
Em relação ao videomonitoramento, frente às centrais já implantadas em outros Estados, Simões disse que o que há no Estado ainda é rudimentar. A instalação de câmeras sem que haja um apoio em terra se mostra sem efetividade no combate ao crime. 
 
Como exemplo ele citou o Centro de Operações do município do Rio de Janeiro (COR). O mecanismo integra 30 órgãos e monitoram a cidade 24 horas por dia. De acordo com o site oficial do COR, no sistema estão integradas todas as etapas de um gerenciamento de crise  desde a antecipação, redução e preparação, até a resposta imediata às ocorrências, como chuvas fortes, deslizamentos e acidentes de trânsito. . Em caso de ocorrência, é possível acionar rapidamente os órgãos competentes para cada tipo de situação.
 
Frente à realidade da capital do Estado vizinho, o professor disse que ainda estamos na idade da pedra. 
 
Enquete
 
A própria população parece estar em dúvidas sobre a atuação de uma guarda municipal armada, mostrando que o tema ainda carece de debates. Século Diário realizou uma enquete sobre o tema (encerrada nesta segunda, 7) e o resultado é uma amostra da dúvida da população sobre a proposta.
 
Ao todo, 671 leitores responderam à enquete: "Na sua opinião, a guarda municipal deve ser armada para combater a criminalidade?" O resultado mostrou que 28% dos leitores (188) disseram que sim, pois o "Estado não está dando conta". Com percentual parecido, 23% dos leitores (154) disseram que não, que "a guarda deve cuidar apenas do patrimônio". 
 
Outros 26% (176) votaram em não armar a guarda municipal, já que é "função do Estado combater o crime";  15% (100) votaram em sim, "quanto mais policiais na rua, melhor". Dos leitores que votaram, 8% (53)pensam que a guarda não deve ser armada, pois haveria conflito entre as forças municipais e a Polícia Militar. 
 
Os resultados tão apertados mostram que a população ainda está dividida em relação ao armamento das guardas municipais. O tema ainda é controverso e levanta questionamentos. 
 
No Estado, o uso de armas por guardas municipais já gerou polêmica quando em junho 2010 o guarda civil municipal de Vitória Israel Becker Martins atirou contra Rodrigo de Oliveira Gomes no bairro de Goiabeiras por ele ter, segundo consta no boletim de ocorrência, arremessado uma garrafa de uísque contra o guarda. Rodrigo morreu depois de dar entrada no Hospital São Lucas. 
 
Com o incidente, o uso de armamento letal por parte da guarda municipal chegou a ser questionado pela população, já que, em teoria, a função da guarda seria apenas de proteção do patrimônio. 
 
Maior defensor em usar a guarda para combater o crime, o prefeito de Vila Velha, Rodney Miranda (DEM), se propôs a treinar e armar a guarda imediatamente. E só isso. Sem propostas de cursos de formação, abordagem multidisciplinar, simplesmente armar como se isso fosse resolver os problemas de violência que o município enfrenta. 
 
Exemplo de sucesso
 
Bem diferente da proposta implantada em Diadema, na Grande São Paulo, que passou a ser refência nacional de caso bem-sucedido de estruturação da guarda – que poderia ser tomado de exemplo pelos atuais gestores do Estado – é o da Guarda Civil Municipal de Diadema, município na região metropolitana de São Paulo. Até o fim dos anos 1990 o município era o mais violento de São Paulo e um dos mais violentos do País. 
 
Com a reestruturação da guarda, além de apresentar índices baixos de criminalidade, o município também sumiu das estatísticas. O caso de Diadema é usado de exemplo em todo o mundo – foi a única cidade a representar o Brasil no congresso Prevenção ao Crime e Justiça Criminal realizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em Bangcoc, na Tailândia em 2005, entre as lideranças de 140 países participantes. Para ter uma ideia do quando os índices de violência baixaram no município, é só utilizar a taxa do ano de 1999. 
 
Naquele ano Diadema fechou com 111,9 homicídios por grupo de 100 mil habitantes. Já em 2011, mais de uma década depois, a taxa de homicídio do município caiu para 9,5 mortes por 100 mil, índice abaixo do estadual naquele ano, que foi de 9,8 por 100 mil e da nacional que foi de 22,7 por 100 mil. 
 
A redução dos índices de homicídios começou a ser sentida ainda em 2000 e taxa de Diadema saiu de níveis de guerra civil para de abaixo de epidêmicos (10 por 100 mil), de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
 
Os índices baixíssimos refletem investimento não só em policiamento ostensivo, mas em abordagem multidisciplinar da questão da violência e da criminalidade.  A cidade passou a ser modelo em medidas de segurança pública ao combinar ações de inteligência preventiva, parceria entre a guarda municipal e as polícias estaduais e programas de geração de renda e participação popular. 
 
Só a guarda civil tem um currículo de formação de dar inveja a muitas forças policiais. São 38 cursos de formação que abordam, dentre outros temas, mediação de conflitos, gênero, Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), cultura da paz, Medicina Legal, Direito Penal e Direitos Humanos.
 
Além disso, 80% dos guardas civis de Diadema têm curso superior alguns com pós-graduação e boa parte deles domina mais de um idioma.   
 
Essa queda, no entanto, não aconteceu da noite para o dia. Foi feita a partir da adoção de uma programa de segurança pública e com a criação de um diagnóstico e pesquisas sobre o tema, além, é claro, de muito investimento. A busca se baseou na queda do número de homicídios, mas também em aspectos sociais para o empoderamento da população. 

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