Chegando a 121 dias de greve, os servidores técnico-administrativos da Universidade Federal do Estado (Ufes) realizaram na manhã desta terça-feira (29) um protesto denominado “Despachando com o Reitor” e posicionaram em frente à Reitoria da universidade um despacho que, segundo o Sindicato dos Trabalhadores na Universidade Federal do Estado (Sintufes), simboliza os trabalhadores despachando no local as amarras do governo federal.
O protesto, no entanto, gerou repúdio de alunos e de parte da comunidade acadêmica pelo desrespeito às religiões de matrizes africanas. A entidade que representa os trabalhadores foi duramente criticada pelo ato público, realizado dentro da universidade, que reforça o preconceito e a discriminação contra essas religiões.
Ainda na tarde desta terça-feira, os servidores realizam um enterro simbólico da educação e da saúde pública e entregam ao reitor, Reinaldo Centoducatte, um documento solicitando apoio à luta da categoria. O documento também pede que o reitor interceda à Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) para que a entidade cobre do governo federal a resolutividade diante das reivindicações dos trabalhadores.
A previsão é que o Ministério do Planejamento (MPOG) se reúna com a Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-Administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil (Fasubra) nesta quarta-feira (30) para discutir o termo de acordo apresentado pela federação.
A assembleia geral dos servidores, por conta dos atrasos na negociação, será realizada na próxima sexta-feira (2) e vai reunir servidores dos campi de Goiabeiras, Maruípe, São Mateus (norte do Estado) e de Alegre, na região sul.
A categoria não conhece a proposta que está sendo negociada em Brasília. A única informação que tem é que ela prevê reajuste salarial de 10,8%, divididos em dois anos.
Além disso, o governo recuou com a previsão de pagar a primeira parcela de reajuste salarial, de 5,5%, em agosto, e ela deve sair em janeiro de 2016. Deve haver também outro reajuste de 5% no salário em 2017, além do aumento do intervalo entre os níveis das carreiras para 3,9% também em 2017.
Eles consideram que a apresentação destes objetos, histórica e socialmente vinculados às religiões de matriz africana para demonizá-las só reforça o racismo, o preconceito e o desrespeito de que estas religiões têm sido vítimas desde o surgimento no País. “Manifestamos nosso repúdio a este tipo de atividade dentro de nossa instituição e acreditamos que com ações deste tipo o sindicato de trabalhadores só consegue se distanciar de parte da comunidade universitária que está sendo agredida em suas convicções religiosas”, diz a nota.
Os professores também ressaltam que em um contexto nacional de racismo e intolerâncias é constrangedor se depararem com a ação, que reforça múltiplas esferas de preconceito e ódio entre os grupos religiosos. “Considerando um panorama em que a Lei 10639/03 não tem sido implementada na rede de ensino, inclusive nas universidades, é flagrante a necessidade de qualificação de todos os segmentos da universidade, inclusive dos servidores, acerca da história e cultura africana e afro-brasileira. Devemos todos combater o racismo e a intolerância religiosa que vem causando graves danos à cultura afro-brasileira”.
A nota salienta que a Constituição Federal consagra como direito fundamental a liberdade de religião, prescrevendo que o Brasil é um país laico. “Com essa afirmação queremos dizer que, consoante a vigente Constituição Federal, o Estado deve se preocupar em proporcionar a seus cidadãos um clima de perfeita compreensão religiosa, proscrevendo a intolerância e o fanatismo, devendo, porém, o Estado prestar proteção e garantia ao livre exercício de todas as religiões”.