Os enfermeiros da rede particular decidiram, em assembleia realizada nesta segunda-feira (17), suspender temporariamente a greve deflagrada na última terça-feira (11). A pressão e ameaça sofridas pelos profissionais também pesaram na decisão dos enfermeiros.
De acordo com a presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Estado (Sindienfermeiros-ES), Andressa Barcellos, os profissionais também sofrem com o conflito entre lutar pelos direitos e assistir os pacientes.
Andressa ressalta que três desembargadores do Tribunal Regional do Trabalho no Estado (TRT-ES) já se declararam suspeitos ara julgar o dissídio coletivo da categoria. Um quarto desembargador foi designado para julgar o dissídio, por isso, os profissionais vão continuar monitorando a análise do processo. Nesta segunda-feira, após a assembleia, representantes do Sindienfermeiros conversaram com o presidente do TRT, desembargador Marcello Maciel Mancilha, sobre o dissídio e pediram celeridade no andamento do julgamento.
A presidente do sindicato salienta que o principal problema da categoria nos hospitais da rede particular atualmente é o déficit de profissionais. “As condições são tão ruins que outros profissionais não capacitados ganham a mesma coisa que enfermeiros”, diz ela.
Ela afirma também que os profissionais são assediados moralmente e que houve demissões de enfermeiros que aderiram à greve de 2013.
Andressa conta, ainda, que os patrões – que afirmam na imprensa que estão dispostos a negociar – têm se mostrado irredutíveis em negociar com os enfermeiros. Na última quinta-feira (13) houve uma tentativa de conciliação no TRT, presidida por Mancilha, que mostra que os hospitais não estão dispostos a negociar. “Existe muita dificuldade em reconhecer o trabalho de um profissional de saúde”, afirma ela, acrescentando que a exploração na atividade ocorre de uma forma que não existe em outros ramos.
Ela diz ainda que os profissionais se dividem entre reivindicar direitos e zelar pelos pacientes. “Como profissionais não queremos causar danos à população, mas queremos ser reconhecidos. Nossa briga é com os donos de hospitais, não com a sociedade”, diz ela.
O Sindienfermeiros alega que este é o segundo ano consecutivo em que a negociação com os trabalhadores é protelada. Além disso, os enfermeiros não aceitaram a decisão do Tribunal Superior do Trabalho (TST) de acatar recursos dos empresários e extinguir o dissídio coletivo da categoria.
A entidade alega que a remuneração dos enfermeiros da rede privada do Estado não condiz com a escolaridade e com a carga de trabalho dos profissionais. Os trabalhadores recebem R$ 89 por dia trabalhado, valor considerado imoral para uma categoria com tamanha relevância social. O valor se torna ainda mais irrisório diante do faturamento das operadoras de saúde que gira em torno de R$ 90 bilhões.
Os profissionais também reclamam de sobrecarga de trabalho; baixa qualidade da assistência de enfermagem, que expõe os pacientes a risco; e a exigência de trabalhadores polivalentes e com competências ampliadas, mesmo com remuneração baixa.
De acordo com o sindicato a realidade da categoria atualmente é de falta de reajustes – enquanto a inflação chegou em 7%, os empregadores oferecem 3% de reajuste; jornada de mais do que 44 horas semanais; horas extras negligenciadas pelo empregador; ameaças constantes de demissão. Na entidade ressalta que a rotatividade de enfermeiros nos serviços de saúde é alarmante.
Não há plano de carreira, plano de saúde, cartão alimentação, seguro de vida; participação nos resultados; recebe-se a insalubridade sobre o salário mínimo; equipes de enfermagem estão desfalcadas nos serviços de saúde, o que gera sobrecarga e põe em risco o paciente.