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Partido x gênero x voto

Sucessivos desrespeitos às vereadoras Camila Valadão e Karla Coser: o que, afinal, incomoda tanto?

Redes sociais

Vereador em primeiro mandato de Vitória, que gosta de falar de família e do presidente Jair Bolsonaro, Gilvan da Federal (Patri), como já dito aqui, tem protagonizado cenas lamentáveis no plenário da Câmara desde o início da atual legislatura, principalmente com foco nas duas únicas mulheres da Casa: Camila Valadão (Psol) e Karla Coser (PT). Grita, desrespeita, usa de tom agressivo, e tenta se impor como se ocupasse um lugar acima das duas, a ponto até de tentar impedi-las de se manifestar. No meio dos esbravejos, levanta sempre uma questão partidária, citando Lula, Dilma, Psol, PT, sindicatos, e por aí vai, num enredo já repetitivo, mas que faria parte das divergências inerentes à política, caso assim fosse de fato tratado. Os capítulos registrados até aqui, porém, ultrapassam esse limite. Há um conforto evidente em “crescer” para cima das duas e, pior, com raríssimas intervenções dos demais vereadores, quase todos da base do prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), enquanto Camila e Karla ocupam o espaço de oposição. Diante do episódio mais recente, em que Gilvan se dirigiu exaltado, nessa quarta-feira (14), primeiro à Camila, e depois à Karla, dizendo que “as duas não têm moral” e ordenando “não citem meu nome”, me veio a pergunta: a questão do vereador é partido, gênero, voto, ou todas as opções anteriores? Vou ao terceiro ponto, o único que falta. Camila, do Psol, foi a segunda mais votada pelos eleitores da Capital no ano passado: 5.625 no total. Mais de três vezes a votação de Gilvan, que obteve 1.560. Karla Coser, do PT, também o superou, com 1.961 votos. Nas funções que ocupam hoje, definidas exatamente pelo voto, Gilvan só tem falado, portanto, da “moral” que lhe convém. Como assim as vereadoras não têm moral? Além do mais, ao não respeitar os mandatos das duas, não respeita também a democracia, a escolha das urnas e a representatividade de cada cadeira do legislativo da Capital. Quatro anos assim, e a Câmara cravará seu maior retrocesso dos últimos tempos.

Segue…
A cena que gerou o novo ataque de Gilvan foi no momento de manifestação em plenário da Camila. Ele a interrompeu aos gritos, Camila pediu respeito, Karla também, e então o vereador se voltou contras as duas. O nome disso: violência política de gênero.

Difícil
Aliás, assistir às sessões do legislativo municipal, um instrumento que deveria aproximar o cidadão dos vereadores, já tem virado, para muita gente, uma tarefa árdua, para não usar outros termos. Não há mais espaço para tanto machismo. Nem para omissões.

Rotina
Outro registro necessário: há ainda aqueles que se impõem a todo tempo às vereadoras, só que, digamos, de forma “mansa”. E não se trata, igualmente, apenas de divergências de ideias ou debate entre situação x oposição. Também não estão passando batido.

Ideia fixa
Karla Coser ainda tem que ficar a todo tempo sendo tratada como se fosse o pai, o ex-prefeito João Coser (PT), que disputou o segundo turno em Vitória contra Pazolini. Assim como já tinha ocorrido outras vezes, na mesma sessão dessa quarta, ela repetiu: “Eu não sou João Coser, vocês precisam aprender isso”.

Ideia fixa II
A fala, é bom que se registre (melhor explicar, vai que…), não é uma rejeição ao pai, de quem, além da relação familiar, compartilha do mesmo projeto político. E sim às constantes intervenções em seus discursos que trazem João Coser para qualquer assunto, na tentativa de deslegitimar sua própria atuação política.

‘Passou o trator’
A sessão dessa quarta era de extrema importância, pois aprovou a proposta da prefeitura de Emenda à Lei Orgânica 5/2021 que trata sobre as regras de transição para a aposentadoria dos servidores. Camila criticou o rito da tramitação, que deveria ter regime especial. Para dar legalidade ao processo, a Câmara realizou cinco sessões em um único dia. “Revoltante”, apontou a vereadora.

Não será
Ela também se posicionou mais uma vez, nas redes sociais, em relação a Gilvan: “Durante a sessão na Câmara Municipal de Vitória, tive a minha fala interrompida por gritos. Mais uma vez, aquele vereador tenta de forma violenta me interromper e me silenciar. Sou uma mulher eleita e não serei silenciada!”.

Criminalização
Karla Coser também ressaltou o “atropelo” da tramitação e discursou contra a criminalização e a “forma extremamente desrespeitosa que os sindicatos foram retratados durante a sessão por alguns vereadores”. Tanto ela quanto Camila se abstiveram da votação e defenderam as entidades representativas, que são contrárias à reforma da Previdência.

Pressão
A propósito, até a decisão de se abster virou uma questão. Embora uma minoria isolada, sem qualquer possibilidade de atrapalhar os planos da prefeitura, vários vereadores cobraram delas a votação a favor da emenda da qual criticam. Discursos e mais discursos colocando-as na condição de “oposição à cidade”. E o placar? 12 x 2.

Mais
No caso específico dessa quarta, o presidente da Câmara, Davi Esmael (PSD), ameaçou encerrar a sessão se houvesse uma nova interrupção de Gilvan da Federal à fala de Camila. Mas não foi sempre assim. Essa resposta é o mínimo. Precisa mais.

Nas redes
“A sociedade civil de Vitória não está silente. Vamos fiscalizar a CMV e a prefeitura. O choro do vereador que pisar fora da linha é livre, mas as ações judiciais vão continuar a ocorrer! Se vocês têm denúncias, mandem para a gente”. André Moreira, advogado.

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