Domingo, 28 Abril 2024

​Abaixo-assinado reivindica nome de Araceli Cabrera Crespo em avenida

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A reivindicação pela mudança do nome da Avenida Dante Michelini, em Camburi, Vitória, para Araceli Cabrera Crespo, ganha mais uma iniciativa de cunho popular: a realização de um abaixo-assinado, que, até o momento, conta com quase 11 mil assinaturas e foi mobilizado pelo publicitário Vitor Magnoni, idealizador do O Parcial. A campanha pela troca do nome da via, já realizada outras vezes, ganhou força neste mês, pois no dia 18 de maio, o crime brutal que vitimou fatalmente a menina completou 50 anos, sem punição a nenhum dos acusados.

Araceli tinha apenas oito anos quando foi drogada, estuprada, morta e teve seu corpo carbonizado. Os envolvidos no caso foram Dante de Brito Michelini e seu filho, Dante de Barros Michelini, o Dantinho, e Paulo Constanteen Helal. A avenida Dante Michelini homenageia o empresário patriarca da família, o que, como destaca o abaixo-assinado, não invalida a reivindicação.
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O abaixo-assinado, inclusive, argumenta com a posição da coluna Socioeconômicas, de Século Diário, que afirmou que "o desenrolar do caso tem relação direta com a poderosa família e influências apontadas no processo, e, mais ainda, com a marca Michelini, reproduzida por gerações, nos nomes dos próprios acusados". 

"E muito mais do que isso, o nome não se trata de uma simples referência ao parentesco do avô, mas é - exatamente - o mesmo nome dos denunciados", complementa o abaixo-assinado, que prossegue dizendo que, ao assinar a petição, a pessoa "está ajudando a enviar uma mensagem clara para a Câmara de Vitória, a Prefeitura de Vitória e o Governo do Estado, de que estamos prontos para mudar, e de que queremos uma cidade que lembra e respeita suas vítimas, e não seus criminosos". 

Outra iniciativa em prol da mudança do nome da avenida, realizada por ocasião dos 50 anos do crime, partiu do mandato do vereador André Moreira (Psol), que lançou no último dia 19, por meio de seu site, um movimento em torno desse pleito. Moreira afirma que a justificativa do movimento "é o fato de centralidade do caso da Araceli, tanto que em 2000, o Congresso Nacional instituiu o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes na data da sua morte". Para o vereador, "é bom que ele esteja nascendo da repulsa da própria sociedade; o mandato seria só um espaço de apoio à organização e de link com o legislativo, sem querer ser o único", ressalta.

Outras tentativas de mudança do nome da avenida foram feitas, mas sem sucesso. Em 2018, o então prefeito Luciano Rezende (Cidadania) vetou a realização de um plebiscito, proposto por Roberto Martins, que era vereador na época, para ouvir a vontade da população. A Câmara sequer reagiu à atitude do gestor. Um ano antes, a mesma Casa de Leis abriu consulta popular nas redes sociais reforçando a reivindicação. Apenas no primeiro dia, 93,7% votaram favorável, mas também não resultou em medida efetiva. Há dez anos, um protesto já destacava a cobrança, ao colocar adesivos com o nome de Araceli nas placas de identificação da avenida em Camburi.

Também por ocasião dos 50 anos do assassinato, o crime foi denunciado à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização Estados Americanos (OEA). O Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH) e o Centro de Defesa dos Direitos Humanos da Serra (CDDH) e a Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase-ES) cobram "reparação histórica" e que o Estado brasileiro seja responsabilizado internacionalmente por omissão e violações.

O crime

Araceli morava em Bairro de Fátima, na Serra, de onde saiu para ir à escola, na Praia do Suá, em Vitória. Após sair do colégio, foi vista por um adolescente em um bar entre o cruzamento das avenidas Ferreira Coelho e César Hilal, em Vitória. Depois disso, não foi mais vista. À noite, o pai, Gabriel Sanchez Crespo, iniciou as buscas.

Em 24 de maio, dias após o desaparecimento, o corpo de uma criança foi encontrado desfigurado e em avançado estado de decomposição em uma mata atrás do Hospital Infantil, em Vitória. Diante dos fatos apresentados pela denúncia do promotor Wolmar Bermudes, a Justiça chegou a três principais suspeitos: Dante de Barros Michelini, conhecido como Dantinho; seu pai, Dante de Brito Michelini; e Paulo Constanteen Helal, todos membros de tradicionais e influentes famílias do Espírito Santo.

A acusação alegou que Araceli foi raptada por Paulo Helal no bar que ficava entre os cruzamentos da rua Ferreira Coelho e César Hilal, após sair do colégio. Além disso, foi afirmado que no mesmo dia, a menina teria sido levada para o Bar Franciscano, na Praia de Camburi, pertencente à Dante Michelini, onde foi estuprada e mantida em cárcere privado sob o efeito de drogas.

Devido ao excesso de substâncias em seu corpo, Araceli teria entrado em coma e levada ao hospital, local onde já chegou morta. Paulo Helal e Dante Michelini teriam jogado o corpo da menina em uma mata atrás do Hospital Infantil. 
Na época, chegou a ser apontado que Dante Michelini se apoiou em suas ligações e influência com a polícia local para dificultar as investigações. Além disso, testemunhas-chave do processo morreram durante as investigações.

Após a prisão, os três foram condenados em primeira instância, mas depois absolvidos pelo Tribunal de Justiça (TJES), alegando "falta de provas". Clério Falcão, vereador que se elegeu deputado estadual com a promessa de levar o caso Araceli ao fim, conseguiu a constituição de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia. A CPI concluiu que houve de fato omissão da polícia local, interessada em manter distantes de suas investigações os reais assassinos, que eram figuras de prestígio.

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