Categoria rejeitou proposta de aplicar apenas reposição inflacionária nos salários

Os rodoviários da Grande Vitória aprovaram, em assembleia realizada na manhã desta quinta-feira (4), a paralisação total do sistema Transcol a partir da zero hora da próxima terça-feira (9). A decisão foi tomada após a categoria rejeitar a proposta apresentada pelas empresas operadoras, que ofereceram apenas a reposição inflacionária de 4,49%, sem qualquer ganho real, melhoria nas condições de trabalho e avanços na pauta discutida desde setembro, como aponta o Sindicato dos Rodoviários do Espírito Santo (Sindirodoviários).
Para a entidade, a oferta foi insuficiente e não responde à realidade enfrentada pelos trabalhadores, marcada por adoecimento, sobrecarga e acúmulo de funções. De acordo com o presidente do sindicato, Marquinhos Jiló, a assembleia da manhã já deliberou pela paralisação e, como ocorre tradicionalmente, a assembleia da tarde, marcada para as 15h, tem apenas o papel de ratificar a decisão.
O presidente do Sindirodoviários destacou ainda que um comunicado será divulgado ainda nesta quinta ao Governo do Estado, às empresas (Expresso Santa Paula, Serramar, Vereda, Viação Praia Sol, Viação Serrana, Viação Grande Vitória, Nova Transportes, Santa Zita, Unimar e Viação Satélite) e à população, detalhando as razões da greve. “O patronal não atendeu a nenhum dos pedidos feitos pela categoria. A proposta que apresentaram foi uma vergonha. Não podíamos aceitar”, criticou.

O processo de negociação começou em setembro e, segundo o sindicato, se arrastou sem avanços significativos. Na última reunião, realizada nessa quarta-feira (3), as empresas apresentaram a mesma proposta que vinha sendo recusada anteriormente: um reajuste linear de 4,49%, correspondente ao índice de inflação (IPC), sem atender às demais pautas.
“Eles vieram apenas com o índice da inflação e mais nada. Tivemos que levar para a assembleia para a categoria deliberar, mas já era esperado que fosse recusada. Eu mesmo disse que, por mim, não aceitava. Mas quem decide sempre são os trabalhadores”, afirmou.
A pauta aprovada pelos rodoviários inclui reajuste salarial que contemple a inflação e mais 10% de ganho real, redução da carga horária e melhorias urgentes nas condições de trabalho. A jornada atual dos operadores do sistema é de 7 horas e 20 minutos por dia, com 1 hora e 20 minutos de intervalo para almoço, no regime de seis dias de trabalho por um de folga. Além dessa carga já considerada elevada, motoristas e demais funcionários frequentemente são submetidos a duas horas extras diárias impostas pelas empresas, o que tem contribuído para o desgaste físico e emocional da categoria.
Um dos pontos mais criticados pelos trabalhadores é a retirada dos postos de cobradores, extintos pelas empresas nos últimos anos. Com isso, motoristas acumulam a função de dirigir, cobrar, orientar passageiros e lidar com situações de segurança.
Segundo o sindicato, essa sobrecarga tem provocado adoecimento e levado muitos profissionais a pedir afastamento ou deixar definitivamente o sistema. “Eles estão matando os trabalhadores. Tem gente que não aguenta mais. Estão saindo do sistema porque a pressão está muito grande. É um serviço essencial, mas quem presta esse serviço não está sendo valorizado”, destacou o dirigente.
O sindicato também destacou que a categoria tem enfrentado casos recorrentes de violência urbana, agressões e assaltos, o que tem intensificado o desgaste emocional dos trabalhadores. Segundo Marquinhos, desde o início do ano, o Sindirodoviários alerta que o ritmo de adoecimento e o nível de estresse estão acima do suportável.
Ele lembra que a gestão de Renato Casagrande (PSB) chegou a criar um grupo de trabalho no início deste ano para discutir medidas de segurança pública voltadas ao transporte coletivo, mas afirma que a questão salarial e as condições de trabalho continuam sem respostas satisfatórias.
O sindicato defende que o governo tem papel direto na mediação do impasse, porque o sistema Transcol é uma concessão pública do Estado do Espírito Santo, administrado pela Companhia Estadual de Transportes Coletivos de Passageiros do Estado do Espírito Santo (Ceturb-ES) e operado por empresas privadas, que atuam sob contrato, com regras e supervisão do Estado. “Pedimos essa intervenção porque não queremos esse transtorno para a população. Sabemos que é o povo que sofre. O Sindirodoviários sempre buscou resolver pelo diálogo. Não é à toa que estamos há seis anos sem uma única greve. Mas há um limite. Não podemos deixar de olhar para nossa categoria”, explicou.
Apesar da paralisação marcada, o sindicato afirma que continua aberto ao diálogo. Caso a gestão ou as empresas apresentem uma proposta considerada justa, o movimento pode ser suspenso. “Se o governo intermediar e trouxer algo decente para o trabalhador, voltamos para a mesa. Estamos abertos. Mas até agora nada avançou”, completou.

