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50 anos depois

Estamos às voltas com o Brasil inteiro falando dos 50 anos da agora cada vez mais chamada de ditadura civil-militar, que em 21 anos devastou o Brasil. Na verdade, a ditadura se tornou insuportável em 1968, com o AI5, que fechou o Congresso Nacional e aprimorou a repressão. Época das terríveis torturas, dos desaparecimentos e da censura a tudo e a todos. Experiência negra na política brasileira.
 
Hoje a nomenclatura “ditadura civil-militar” se dá por conta das forças militares terem sido apoiadas por grupos civis conservadores e religiosos, que temiam as mudanças pelas quais o país estava passando. Eram propostas de uma remodelação política e a inovação democrática, que vinha trazendo à tona as reivindicações sociais das minorias, que viviam à margem, como negros, mulheres e o ainda tímido movimento de grupos homossexuais.
 
No caso da diversidade sexual, quando se tornava visível, era à custa de estereótipos, e caricaturas, que desinformavam cada vez mais, expondo até mesmo os mais celebres à zombaria, como foi o caso dos estilistas Denner e Clodovil – este último morto recentemente, que mesmo depois envolvido na política, ainda se sentia preso no armário, manifestando sua homofobia internalizada. Clovis Bornai e Evandro de Castro Lima, carnavalescos que se destacavam nos desfiles de fantasias de luxo, eram apedrejados pela falta de respeito de uma mídia envolta no machismo militar.
 
Porém, havia uma imprensa alternativa, que surgia em defesa dos homossexuais, oriundas principalmente das universidades e de meios intelectualizados da área artística, que se manifestavam numa nova estética, visual, literária e musical, influenciando todas as formas culturais, mas que permaneciam fora do universo dos grandes meios de comunicação, que se firmavam apoiados e censurados pelo alto comando militar.
 
A Rebelião do bar Stonewall, em Nova York, em 1969, foi um marco para o movimento homossexual [A Rebelião de Stonewall foi um conjunto de episódios de conflito violento entre gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros e a polícia de Nova Iorque que se iniciaram com uma carga policial em 28 de Junho de 1969 e duraram vários dias. Teve lugar no bar Stonewall Inn e nas ruas vizinhas, e é largamente reconhecida como o conjunto de eventos catalisadores dos modernos movimentos em defesa dos direitos civis LGBT] inspirou movimentos mundo afora. No Brasil, surgiu o tabloide Lampião da Esquina, totalmente voltado para o mundo homossexual, que existiu de 1978 até 1981, fundado por João Silvério Trevisan, Darcy Penteado, Aguinaldo Silva, Peter Fry e João Antônio Mascarenhas.
 
Logo o jornal sofreu a segregação das bancas, passou a ser lido escondido para que o resto da família não desconfiasse da simpatia pelos, já questionados, direitos civis dos ”entendidos” – gíria da época para os homossexuais.
 
Foram três anos que multiplicaram a experiência em vários estados. Surge assim o MHB (Movimento Homossexual Brasileiro) e em 1977 o “Somos” que vai claramente falar de política e reivindicar novos tempos para a diversidade sexual. Aqui no Espírito Santo, somente na década de 90, surge a ONG “Triangulo Rosa”, por Amylton de Almeida e Waldo Mota.
 
Hoje muito se deve a esses desbravadores, esses novos tempos estão sendo construídos à custa de muito sofrimento causado pela homofobia, agora alimentada pelo fanatismo religioso, que a exemplo do tempo da ditadura, sobrevive à custa da ignorância e do conservadorismo fundamentalista, que protege o crime e instiga a homofobia, promovendo a intolerância e o desrespeito.
 
Não se constrói uma verdadeira democracia sem lutas. Batemos de frente com a hipocrisia e a calúnia, que mitifica sua obsessão contra a diversidade se apoiando em ultrapassados verbetes bíblicos (Leviticos) e se posicionando como defensores da “família”, ignorando que hoje, os núcleos familiares cada vez mais abraçam os LGBTs, formando as células de uma nova sociedade futura.
 

Luiz Felipe Rocha da Palma (Phil Palma) é publicitário. Nas “horas vagas” (às quartas) comanda o programa “Praia do Phil” pela Rádio Universitária FM, onde defende os LGBTs e denuncia a homofobia. Fale com o autor: [email protected]

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