Desde abril deste ano, quando vieram à tona as denúncias de espionagem e infiltrações a jornalistas, funcionários e movimentos sociais pela Vale, a classe política do Estado se calou. Apesar da mineradora está aqui do nosso lado e causar tantos outros problemas à população capixaba, ninguém manifestou indignação, muito menos cobrou respostas, mesmo diante do escândalo que ganhou o País e, mais do que isso, revelou graves fatos no Espírito Santo. O silêncio dos políticos, assim como o da Vale, é revelador: no caso deles, o rabo continua preso. Já no caso da mineradora, é porque deve.
Essa omissão dos parlamentares ficou ainda mais evidente com a audiência pública que ocorreu no Senado na última quinta-feira (24), com a presença do ex-gerente da mineradora que revelou as denúncias, André Almeida. A não ser a senadora Ana Rita (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Casa e, portanto, quem convocou o debate, nenhum outro representante da bancada capixaba passou por lá – de outros estados, sim. Ao todo, representam o Estado dez deputados federais e três senadores.
Nem mesmo o relator da CPI da Espionagem, senador Ricardo Ferraço (PMDB), que vive na mídia esbravejando contra a espionagem dos EUA e do Canadá ao governo brasileiro. A prática é a mesma, mudando apenas o espião e o alvo, mas desse assunto Ferraço não quer saber.
Justiça seja feita, provavelmente a deputada federal Iriny Lopes (PT) participaria do debate, mas estava de licença médica.
Também ao contrário de outros estados, os movimentos sociais daqui não se mobilizaram para participar da audiência. Militantes capixabas foram investigados pela empresa: o artista plástico Filipe Borba; Gustavo De Biase (PSB) e Valdinei Tavares. Fora isso, uma lista de lideranças constantemente monitoradas foi divulgada. A maioria não se manifestou e os conselhos fingiram que não tinham nada com isso. Notas públicas sobre o caso, então, nem pensar.
Diante de tentativa de intimidação da empresa ao advogado de Almeida, Ricardo Almeida, que é do Espírito Santo, igualmente não disse nada a seccional capixaba dos Advogados do Brasil (OAB-ES). E olha que o presidente da instituição, Homero Mafra, tem conhecimento da queixa-crime apresentada pela Vale contra Ribeiro. Não foi por falta de aviso.
O deputado estadual Euclério Sampaio (PDT), que havia proposto uma CPI para apurar a espionagem da Vale, a não ser em um ocasião específica, lá atrás, não falou mais nada. Mergulhou. Outro que fez barulho logo que o escândalo explodiu, Gilsinho Lopes (PR), também deixou o assunto morrer.
Já os deputados do PT, cinco ao todo, nem com o gancho da correligionária Ana Rita ousaram dar pitaco. Foram protagonistas do vexame da Assembleia Legislativa em não criar a CPI para investigar a poluição do ar, fecharam os olhos para a espionagem e continuam de olhos vendados. Os demais nem dá para contar.
Do caso envolvendo o lobby entre a empresa do ex-governador biônico do Estado Arthur Gerhardt Santos, nem se fala. O contrato milionário firmado entre a Sereng e a Vale, com irregularidades de todo curso, com o objetivo de facilitar os licenciamentos ambientais dos empreendimentos da empresa no Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), passou batido pela classe política. Quem vai mexer com os interesses do empresariado?
O histórico da Vale por aqui já deveria ser suficiente para constantes manifestações em relação aos impactos social e ambiental registrados na Grande Vitória, que se agravam a cada dia, sem qualquer ação do governo do Estado para minimizá-los. Pelo contrário, o próprio governo é quem garante todas as expansões dos projetos poluidores, em tempo recorde.
É que por aqui, quando se tratam dos grandes projetos, todo mundo vira cego, surdo e mudo.
Por essas e outras, que a Vale acha que está acima do bem e do mal. Acha não, tem absoluta certeza.
Manaira Medeiros é mestre em Políticas Públicas e Desenvolvimento Local e especialista em Gestão e Educação Ambiental
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