Sexta, 03 Mai 2024

Escancarando a violência

Quem não é do Estado e resolveu dar uma espiada no noticiário dos dois principais jornais capixabas das últimas semanas, vai achar que a imprensa local sempre foi combativa às altas taxas de homicídios que atemorizam, há mais de uma década, à população do Espírito Santo .



Esses mesmos jornais que ajudaram a escamotear os números de guerra civil da violência durante os oitos anos do governo Paulo Hartung (2003 – 2010), resolveram agora dar espaço ao problema, que foi tão bem guardado debaixo do tapete durante todos esses anos.



Pior para o governador Renato Casagrande, que pegou o abacaxi das mãos do seu antecessor prometendo cuidar pessoalmente da área. Talvez o atual governador, graças ao bom trabalho de maquiagem de Hartung, desconhecesse a caótica situação da violência.



Perto de completar dois anos de governo, Casagrande continua amargando péssimos resultados na área de Segurança, com taxas de homicídios semelhantes às do governo passado. Prova de que Casagrande herdou uma bomba relógio prestes a explodir a qualquer momento.



O secretário de Segurança, Henrique Herkenhoff, no esforço de tentar convencer a opinião pública de que a violência está em queda, torna as justificativas ainda mais frágeis. A insistência no discurso da desaceleração da violência, mais irrita do que tranquiliza a população, que não sente isso nas ruas.



Em matéria publicada nesta terça (11), de acordo com os números da própria Secretaria de Segurança Pública, a redução no acumulado do ano – se é que podemos chamar isso de redução – é de apenas 2,6%. Se projetarmos o índice com os 21 dias que faltam para o fim de 2012, a taxa do ano passado, no comparativo com a deste ano, cairia para 1,59%. Muito pouco para quem prometeu cuidar pessoalmente da Segurança.



A "segurança" que Herkenhoff deveria passar à população, como gestor da pasta, também deixa a desejar. O secretário é uma figura apagada, sem carisma, que transmite certo conformismo com o problema. Ele demonstra ter a mesma reação ao comentar a ocorrência de cinco ou de 25 homicídios num final de semana. Não passa otimismo, garra, gana para reverter os números de guerra civil que o Estado ostenta.



A exemplo de uma guerra, porque estamos literalmente em uma, Casagrande precisava contar com um comandante “raçudo”, determinado, quase um obcecado. Um secretário disposto a entrar no fronte de batalha para vencer a guerra. Mais ou menos no estilo de José Mariano Beltrame – secretário de Segurança do Rio de Janeiro.



Além disso, a chamada grande imprensa capixaba passou a dar destaque aos resultados da Segurança no governo Casagrande, informação que era quase que implublicável no governo Hartung, quando a imprensa, seguidas vezes, se calou e preferiu não informar aos leitores sobre a real situação da violência no Estado.



A imprensa pós-Hartung decidiu incluir a Segurança na pauta do dia. De um lado, é até positivo para pressionar as autoridades a encararem o problema com a urgência que merece. Isso também ajuda a sociedade civil a se conscientizar sobre a violência epidêmica que nos devora. Mas é inevitável não fazer a pergunta: Por que eles resolveram escancarar o problema só agora? Por acaso a violência surgiu há dois anos?

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