Sábado, 27 Abril 2024

​IA: Congresso e interesses

No contexto global, marcado pela crescente influência digital, o Brasil dá um significativo passo ao criar a Comissão Mista Permanente para Proteção de Dados, Inteligência Artificial e Segurança Cibernética. Esse é um movimento que reflete a necessidade urgente de regular e fiscalizar questões que se tornaram fundamentais e que são desafios que demandam a atenção imediata das autoridades legislativas.

Países ao redor do mundo têm reconhecido essa urgência e avançado na criação de marcos regulatórios sólidos para lidar com essas questões. Um exemplo notável é a União Europeia, que estabeleceu a primeira regulamentação abrangente de inteligência artificial no mundo. Essa legislação define diretrizes claras para o desenvolvimento e uso de sistemas de IA, buscando equilibrar inovação e proteção dos direitos fundamentais dos cidadãos.

Entretanto, além do potencial transformador da inteligência artificial, também há riscos inerentes a seu uso irresponsável. Sistemas de IA de risco inaceitável representam uma ameaça direta aos direitos individuais e à democracia. A manipulação cognitivo-comportamental, a pontuação social e a identificação biométrica em tempo real são exemplos de práticas que devem ser proibidas para proteger a liberdade e privacidade dos cidadãos.

No Brasil, a Coalizão Direitos na Rede tem desempenhado um importante papel na defesa dos direitos digitais e na promoção de uma regulamentação justa e equilibrada para a inteligência artificial. Com mais de 50 organizações da sociedade civil, a Coalizão tem pressionado o Senado a retomar os trabalhos relacionados à regulamentação da IA, destacando a importância da participação popular no processo.

O trabalho da Coalizão Direitos na Rede destaca a necessidade de uma abordagem multidisciplinar e participativa na elaboração de políticas relacionadas à tecnologia. Está claro que especialistas, pesquisadores e representantes da sociedade civil devem contribuir ativamente para garantir que a legislação reflita os valores e interesses da população brasileira.

Mesmo com esses esforços, há desafios significativos a serem enfrentados. A influência das grandes empresas de tecnologia, conhecidas como big techs, é uma preocupação legítima. Essas empresas têm recursos e influência para moldar legislações de acordo com seus interesses comerciais, muitas vezes, em detrimento dos direitos individuais e coletivos.

A possibilidade de a inteligência artificial se tornar moeda de troca na política brasileira é uma ameaça real, especialmente em ano eleitoral. Políticos e big techs podem buscar maneiras de utilizar a IA para obter vantagens políticas em troca de apoio financeiro ou eleitoral. Essa dinâmica coloca em risco não apenas a integridade do processo legislativo, mas também a democracia.

Diante desse cenário desafiador, é fundamental que a sociedade civil permaneça vigilante e engajada. A participação ativa dos cidadãos é essencial para garantir que a legislação relacionada à inteligência artificial proteja os direitos fundamentais e promova o bem-estar da população brasileira. Somente com uma abordagem colaborativa e inclusiva podemos construir um futuro digital justo e equitativo.

Em um ano eleitoral, a IA pode ser uma ferramenta poderosa nas mãos de políticos e grandes empresas de tecnologia, podendo ser usada como moeda de troca. Saiba como:

1. Campanhas de marketing direcionadas: as campanhas políticas podem usar algoritmos de IA para segmentar eleitores com mensagens personalizadas, levando em consideração suas preferências, interesses e comportamentos online. Isso pode ser usado para influenciar o eleitorado de maneira direcionada, em troca de apoio financeiro ou político das empresas que fornecem esses serviços.

2. Manipulação de informação: a disseminação de desinformação e notícias falsas é uma preocupação crescente em eleições e a IA pode ser usada para amplificar esse problema. Políticos podem se beneficiar da disseminação de informações tendenciosas ou enganosas para ganhar vantagem nas eleições, em troca de apoio político ou financeiro de grupos interessados.

3. Análise de dados eleitorais: a coleta e análise de dados eleitorais por meio de sistemas de IA podem fornecer insights valiosos sobre o comportamento dos eleitores e suas preferências políticas. Essas informações podem ser usadas para adaptar estratégias de campanha e direcionar recursos para regiões específicas em troca de apoio político ou financiamento.

4. Manipulação de redes sociais: plataformas de mídia social usam algoritmos de IA para personalizar o conteúdo apresentado aos usuários. Políticos e seus apoiadores podem usar esses algoritmos para aumentar sua visibilidade e influência nas redes sociais em troca de apoio político ou financiamento de campanhas.

5. Parcerias com empresas de tecnologia: políticos podem estabelecer parcerias com grandes empresas de tecnologia para desenvolver e implementar soluções de IA em suas campanhas eleitorais. Essas parcerias podem envolver o uso de dados de usuários das plataformas de tecnologia em troca de apoio político ou financiamento de campanhas.

Esses são apenas alguns exemplos de como a IA pode ser usada como moeda de troca em ano eleitoral, destacando a importância de regulamentar e fiscalizar o uso dessa tecnologia no contexto político.


Flávia Fernandes é jornalista, professora e autêntica "navegadora do conhecimento IA"
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