Terça, 07 Mai 2024

Levanta que eu chuto

 

Se a intenção do governador durante a prestação de contas era mostrar que o clima entre o Executivo e o Legislativo continua harmônico, podemos dizer que Renato Casagrande saiu satisfeito da Assembleia Legislativa nesta terça-feira (30), após passar quatro horas infindáveis declamando os resultados de seu governo. 
 
Os deputados seguiram rigorosamente o roteiro e fizeram as perguntas “combinadas”. Como se diz no linguajar futebolístico, fizeram as vezes de garçons para rolar a bola redondinha, limpa, para Casagrande bater para o gol. 
 
O próprio formato da prestação de contas favorecia esse clima de cordialidade. O deputado tinha três minutos para formular as perguntas, que geralmente se dividiam em demandas do reduto eleitoral do parlamentar combinadas às realizações do governo. 
 
Tanto que Casagrande, mantendo o tom cordial da “sabatina”, agradecia ao deputado o oportunismo do tema levantado. Após a resposta do chefe do Executivo, o parlamentar não tinha direito a réplica, ou seja, o formato impedia questionamentos. 
 
É verdade que mesmos os temas mais embaraçosos, que habitam o calcanhar de Aquiles do governador, caso da segurança pública, não foram ignorados pelos deputados. Isso até ajudou a dar um verniz de credibilidade à prestação de contas, mostrando que o governador estava ali para responder abertamente todas as questões. 
 
Mas estava na cara que o próprio Casagrande estava ensaiado para falar sobre uma das áreas mais vulneráveis de sua gestão. A estratégia era mostrar, diante das câmeras da TV Assembleia, que o governo reconhece o problema da violência e está trabalhando duro para mudar essa realidade que aterroriza a população capixaba. 
 
Nas entrelinhas das respostas, após dizer que o governo estava promovendo concursos para contratar novos policiais civis e militares, Casagrande deu uma alfinetada no antecessor. Ele lembrou que o Estado passou anos sem repor o efetivo, dando a entender que o governo se esforçava agora para compensar a falta de investimentos na segurança. 
 
Ele chegou até a usar a expressão “cobertor curto” para explicar que o efetivo é insuficiente para atender às demandas dos 78 municípios. Mas prometeu melhorar esses números até o final de seu mandato, em 2014.
 
Ainda falando sobre segurança, tema que permeou várias perguntas dos deputados, Casagrande foi realista ao admitir que a área é bastante complexa. E adiantou que mesmo aumentando o efetivo, não é possível assegurar que os índices de criminalidade irão despencar automaticamente. 
 
Apesar dos números apresentados e do discurso carregado de otimismo (“Capixabas podem estar certos de que continuaremos investindo em segurança. Não daremos trégua, é uma tarefa de longo prazo”), o governo ainda não convence a população nesse quesito.
 
O Estado Presente é muito mais uma grife com um bom apelo marqueteiro do que um programa capaz de reverter os índices de violência nas regiões mais vulneráveis do Estado. 
 
Apesar de insistir que o Estado vem registrando queda nas taxas de homicídios, os índices capixabas são inaceitáveis se comparados aos padrões brasileiros – a taxa do Estado é o dobro da média nacional, que é considerada uma das mais altas do mundo. 
 
Mais do que números e taxas, o que pesa para o cidadão na hora de avaliar a segurança é a sensação de medo, de impotência de vulnerabilidade. As pessoas sentem que sempre estão na iminência de sofrer algum tipo de violência. Esse clima é muito ruim para uma sociedade que busca qualidade de vida. 
 
Apagar essa sensação do inconsciente coletivo é uma missão complexa e de longuíssimo prazo. Apesar do discurso otimista, podemos dizer que após pouco mais de meio mandato, o governador Renato Casagrande ainda fez muito pouco para reverter um problema tão agudo e pernicioso. Um problema que tira a vida das pessoas. 

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Quarta, 08 Mai 2024

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