Sábado, 27 Abril 2024

​Narrativas regulatórias da IA

No intricado cenário global da regulamentação da Inteligência Artificial (IA), recentes acontecimentos lançam luz sobre abordagens contrastantes adotadas pela União Europeia (UE) e pelo Brasil. Enquanto a UE avança com o AI Act, um marco legislativo extenso e detalhado, aqui estamos em meio a um embate entre as gigantes da tecnologia e a responsabilidade sobre a disseminação de fake news nas Eleições 2024.

O vazamento não oficial do AI Act revela uma complexa tapeçaria de progresso e desafios. O documento de 892 páginas, divulgado por Luca Bertuzzi, editor do Euractiv, detalha as intenções da UE em categorizar a IA em diferentes níveis de risco, delineando um caminho ético e responsável. O prazo apertado para finalizar o texto indica a urgência em normatizar a IA, considerando seu impacto crescente na sociedade, ainda mais com o pleito parlamentar de junho batendo à porta. Isso, no entanto, limita o tempo disponível para uma análise minuciosa por parte dos delegados nacionais.

Em meio a essa busca por regulação meticulosa, surge uma preocupação palpável. A divulgação antes da adoção oficial ressalta a necessidade de rigorosas medidas de segurança e governança na condução de propostas legislativas dessa magnitude. A França, preocupada com a gestão de modelos fundamentais, considera formar uma minoria de bloqueio, revelando as divergências entre os Estados-membros.

Enquanto isso, no Brasil, a cena é marcada por uma dinâmica diferente. As big techs, representadas por Facebook, Google e YouTube, buscam ajustes nas incumbências sobre a disseminação da desinformação no processo eleitoral de 2024. Propostas como a proibição do impulsionamento de postagens dias antes e depois das votações refletem a preocupação em evitar manipulações do conteúdo eleitoral. Ao transferir o dever para os anunciantes, porém, as plataformas aliviam seu próprio fardo, deixando questões críticas sem resposta.

O contraste entre a postura europeia e brasileira destaca não apenas diferenças na abordagem regulatória, mas também na forma como os percalços são enfrentados. A UE, buscando a excelência em legislação e conhecimento, enfrenta obstáculos internos e deadlines apertados. Por aqui, a batalha se dá em torno do encargo das plataformas com a sociedade civil, enfatizando a necessidade de clareza.

Enquanto o AI Act europeu delineia datas-chave e ênfase em gestão, o Brasil enfrenta uma verdadeira encruzilhada. A falta de uma normatização específica sobre IA e a resistência das líderes em tecnologia à responsabilização ressaltam a premência de uma abordagem equilibrada. A disseminação de notícias fabricadas não pode ser deixada à mercê de interesses corporativos e a sociedade brasileira observa atentamente como o Tribunal Superior Eleitoral lidará com essa questão delicada.

Em um mundo cada vez mais conectado, as abordagens distintas de fiscalização da IA na UE e no Brasil refletem as complexidades da ciência. A sensatez, perspicuidade e equidade emergem como os pilares fundamentais para guiar ambas as regiões na consonância entre inovação e integridade democrática.

Diante do vazamento estratégico na União Europeia, expondo o sutil embate entre a fiscalização da IA e a resistência das big techs no Brasil em assumir comprometimento perante as fake news, fica evidente que o desafio está não apenas em criar normas, mas em implementá-las com eficácia. Como conciliar a busca por diretrizes detalhadas com a necessidade urgente de resposta aos reveses da era digital, garantindo transparência, e preservação dos valores democráticos? Veremos nos próximos capítulos.


Flávia Fernandes é jornalista, professora e autêntica "navegadora do conhecimento IA"
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