A política tem dessas esquizofrenias. O ex-governador Paulo Hartung (PMDB) na eleição municipal do ano passado moveu mundos e fundos para tentar tirar da deputada federal Iriny Lopes (PT) o direito de disputar a continuidade do governo petista na Capital. Sem conseguir, recolheu sua candidatura e apoiou o tucano Luiz Paulo Vellozo Lucas.
Não sem antes tecer uma série de críticas ao PT, partido que fez parte de sua base política no governo do Estado e o ajudou no processo de construção da unanimidade que manteve seu governo blindado de avaliações por dois mandatos.
Agora, o ex-governador se movimenta nas sombras para viabilizar uma candidatura de seu grupo em 2014, em uma estratégia de retomada do Palácio Anchieta. Neste contexto, o PT passou a ser o parceiro ideal para enfraquecer o palanque de Renato Casagrande, fazendo uma coligação com o seu PMDB para uma candidatura alternativa, que pode ser dele ou do senador Ricardo Ferraço.
O problema é que Ricardo Ferraço, mesmo tendo sido eleito pelo PMDB, que tem nada menos que o vice-presidente Michel Temer, adotou em seu mandato no Senado uma postura crítica ao governo Dilma Rousseff. Agora precisa mudar o tom para legitimar a parceira com o PT no próximo ano.
Com a antecipação do debate eleitoral do próximo ano, a mudança não pode ser lenta e gradual para que a estratégia seja assimilada aos poucos pelo eleitorado e pela classe política. A mudança abrupta de direção chama a atenção e revela o viés eleitoral da estratégia, criando desconfiança.
Dilma deve vir ao Estado ainda este ano para entregar um pacote de bondade. Dentro da estratégia do PT nacional de isolamento do PSB nos estados que governa, a presidente deve posar para as fotos ao lado das estrelas do PMDB no Estado. Vai ser um sorriso amarelo, com o risco de não ter o efeito desejado no eleitorado.
Para o grupo do ex-governador, que tem raízes tucanas, caminhar de mãos dadas com a presidente em um Estado em que o PT não é exatamente uma unanimidade pode colocar em risco a estratégia dela.
Fragmentos:
1 – Enquanto os peemedebistas estudam uma forma de mudar de discurso sem parecer caricato, o governador Renato Casagrande ainda alimenta a esperança de ter todos em seu palanque, mas não está parado esperando as coisas acontecerem. Sua agenda que o diga.
2 – As crises no interior do Estado podem complicar a marca interiorana do governo se forem agravadas, mas por outro lado, podem reforçar o palanque de Casagrande em 2014 caso ele encontre formas de driblar os problemas.
3 – A classe política discute a situação do negro no Espírito Santo limitando o debate à questão das cotas. É preciso ir além, senhores.