Quando foi idealizada atribui-se à PEC um desejo de Ferraço conjugado com os interesses de PH. Essa leitura, pelo menos, foi a que ao ouvido dos deputados. Mas o tempo logo diria que ela não era real. A jogada da PEC era coisa mesmo do próprio Ferração.
E como o deputado é um velho aprontador, pelo sim, pelo não, a desconfiança tomou conta do seu “colégio eleitoral” – os 29 deputados estaduais. Isto porque PH fechou-se em copas depois de um almoço particular com ele, produzindo outro nome de imediato: o do deputado licenciado, agora à frente da Secretaria de Assistência Social, Rodrigo Coelho (PDT). Para não dizer um não seco na cara de Ferração e enfrentar sua ira, PH trocou o não pelo “vamos deixar isso para depois das eleições”. Dando a entender, porém, que não tinha nada contra Ferração ambicionar um quarto mandato. Só da boca pra fora. Seu presidente dos sonhos é mesmo Rodrigo Coelho, e quem PH está talhando para o cargo tão estratégico.
Basta perceber que PH sempre que tem oportunidade se derrama em elogios a Coelho, que a seu ver é a própria figura do equilíbrio. Na leitura que andam fazendo desse “rasga-seda” de PH com Rodrigo Coelho é que o governador anda apontando a necessidade de um presidente da Assembleia com esse perfil equilibrado para estar à frente da Casa numa hora eleitoral importantíssima: agora em outubro e em 2018, quando Hartung estará na disputa.
Quando um recadeiro, como o líder do governo na Assembleia, deputado Gildevam Fernandes (PMDB), fala para os seus colegas que PH está completamente alheio à discussão da PEC, mas que terá sua parcela de participação na hora da escolha do presidente da Casa, soa em tom de ameaça para que não haja compromissos com a PEC do Ferração. Estar alheio, nesse caso, significa ignorar a proposta de Ferraço. Dar sinais que o momento é inadequado para a discussão.
Não é sem razão se analisarmos a questão do ponto de visto do futuro do próprio PH. Não confundindo-o com o Casagrande, que foi na conversa de Ferração e entregou-lhe de mão beijada o Poder Legislativo. Acabou se saindo mal. PH conhece a capacidade lenhadora do gajo. Ferração é desses políticos atemporais. São 50 anos na crista da política, período em que nasceram e desapareceram outros tantos que foram na lábia de Ferração.
Só a santa ingenuidade do ex-governador Renato Casagrande foi capaz de entregar a Assembleia Legislativa a ele. Um poder poderoso por onde passam os interesses dos outros poderes. O presidente do Legislativo estadual é um homem que decide o que deve ser objeto da apreciação dos deputados. Dela dependem também o Judiciário, Ministério Público e Tribunal de Contas, além, é claro, do próprio governo. Um instrumento desses nas mãos de Ferração é sinal verde à prática das tramoias que o têm sustentado na crista da política capixaba há meio século.