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O Governo do ES e seu amor antigo ao desamparo ambiental

Mais um “Dia Mundial do Meio Ambiente” se passou. Foi um dia de “comemoração” (política) muito parecido com todos os dias do meio ambiente que recordo dos meus poucos 33 anos. Deveras, se não fizermos um esforço em refletir sobre o descaso ambiental no Espírito Santo, ele pode até nos passar despercebido. Principalmente se extrapolarmos algumas noticias típicas da referida data ambiental, como casos isolados de apreensão de traficantes de animais silvestre, e as interpretarmos (subconscientemente ou não) como se a situação estivesse sob controle, ou que o efetivo da Guarda Florestal esteja em dia em nosso Estado – ingenuidade do cidadão de bem e seu bom coração. 
 
A situação no Estado está precária, há décadas! Todos viram o vídeo produzido pelo Sindicato dos Servidores Públicos do Estado (Sindipúblicos) que denuncia falhas na política ambiental do governo? Todo capixaba precisa assisti-lo! 
 
Por mais que o foco das agendas ambientais no ES contemple ações de educação ambiental, percebe-se que a defasagem do setor conservacionista capixaba se deve, na verdade, ao abandono pelo governo – é justamente esse o esclarecimento trabalhado pelo documentário. 
 
Eu gostaria de frisar aqui a importância desse documentário para as novas gerações, em especial àqueles que, assim como eu, não vivenciaram o período das vitórias ambientais capixabas… não que elas tenham sido suficientes… pelo contrário: a inexpressividade de vitórias ambientais faz com que usemos no ES o termo “relicto florestal”, mesmo sendo ele considerado um estado bem florestado. 
 
Houve, sim, um tempo em que a descabida destruição ambiental no Espírito Santo sofreu recuos pontuais, aos quais devemos a nossa própria vivência ambiental no Estado: foram os tempos de Augusto Ruschi.
 
É preciso sempre lembrar do passado e conhecer a própria história. Mas é imprescindível que conheçamos a história verdadeira, que muitas vezes é camuflada, alterada, apagada. Caso contrário, não se tem uma bússola confiável para apontar o norte e guiar os próximos passos para o caminho necessário: o futuro que se precisa construir (muito diferente do que vem sendo trilhado há décadas no ES, conforme esclarecido pelo vídeo do Sindipúblicos).
 
Nesse sentido, quanto à história ambiental do Estado, temos um grande exemplo: o Museu de Biologia Professor Mello Leitão: 1ª instituição de pesquisa do ES; patrimônio de utilidade pública estadual; juridicamente extinto; teve os bens alienados para o Instituto Nacional da Mata Atlantica. 
 
Pois bem, com a extinção jurídica do Museu criado por Augusto Ruschi, se foi também sua autonomia institucional. Hoje ele responde único e exclusivamente aos interesses de seu criador (e alienador patrimonial), o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI). Em outras palavras, a perda institucional do MBML representa a destruição da mais expressiva instituição de combate ao descaso ambiental prestado pelo governo do Espírito Santo. E esse grande detalhe da história é camuflado na própria mídia eletrônica do Instituto, que ora comemora quatro anos de criação do Instituto e, em seguida, afirma que Augusto Ruschi foi seu fundador.
 
Quer um exemplo prático do Museu de A. Ruschi x INMA? Meu pai jamais abriu as portas do Museu para governantes políticos descompromissados com o meio ambiente. E não apenas por uma questão de caráter pessoal, mas também caráter institucional: durante sua direção, o Museu Mello Leitão amparou a defesa ambiental no ES. Já o INMA, assim como o decadente Museu parasitado pela prática imoral desde o falecimento de seu fundador até a extinção institucional, chega a parecer até um palanque político. Tão discrepante quanto às décadas que separam o histórico de vitórias ambientais e o presente estrangulamento da defesa ambiental no Estado.
 
É clarividente que o INMA, propriedade do governo federal (e não mais vinculado), sem a autonomia que tinha o Museu Mello Leitão, não prestará sequer ao combate contra o descaso ambiental pelo governo no próprio ES, quiçá na Mata Atlântica inteira! Por outro lado, isso não impede o engajamento do INMA em parcerias para executar projetos, digamos, “duvidosos”, como aquele firmado entre a Universidade Federal do Estado (Ufes) e a ArcelorMittal (que foi reprovado pelo comitê de ética da própria universidade).
 
Isso está longe de ser “tudo”, mas já explica muita coisa. A exemplo da indagação feita pelo coordenador de Pesquisas do INMA (Claudio Nicoletti de Fraga) em sua apresentação de candidatura à vaga de diretor do INMA. Na ocasião, Claudio Fraga, que se mostrou também o candidato mais bem preparado ao cargo, perguntou “por que o INMA não dá sua cara à tapa e investiga o crime do rompimento da barragem de Mariana?” Afinal de contas, se trata do maior crime ambiental no Brasil, em plena Mata Atlântica, e que atravessa de Oeste a Leste o Espírito Santo.
 
“Quando cidadão é conivente em aceitar um futuro prejudicial à sociedade, ele falha como ser humano. Mas quando a eficiência de mecanismos existentes para alcançar o desenvolvimento da sociedade não é atingida, os governantes quem falham, primeiro como gestores e então, caso visem interesses pessoais, falham novamente, como indivíduos”. 

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