Quarta, 08 Mai 2024

Os modernos II

A sociedade está cada vez mais acuada dentro de um ciclo de violência, desinformação e em busca de soluções prontas para eliminar da vista todos os obstáculos que ameaçam sua zona de conforto. Este é o cenário ideal para que os moralistas de plantão possam agir.



Desesperada, a sociedade não consegue aprofundar o debate sobre os males que afligem o seu dia a dia e aceita, encampa e engole a seco um discurso que nada mais é que uma forma de controle social, disfarçada de trabalho institucional, sem questionar os porquês de determinadas medidas, mesmo que elas interfiram em sua liberdade de escolha.



A tolerância zero no trânsito, por exemplo, é uma questão que poderia ser ampliada, caso houvesse interesse nisso. Bêbados que causam acidentes devem ser punidos, presos e impedidos de dirigir. Mas a necessidade de se dar respostas imediatas sobre os problemas no trânsito com soluções midiáticas, de impacto, fez com que as autoridades desconsiderassem os medicamentos a base de álcool, por exemplo.



Os transtornos para o sujeito que vai ter de provar que não estava bêbado não foram considerados. Mas os altos índices de acidentes no trânsito, muitos deles causados por motoristas bêbados, favoreceram a adoção de uma medida exagerada.



Também não foi considerada a falta de transporte público compatível para atender o cidadão, que, aliás, paga uma passagem cara para ter um serviço que não atende a contento. Ora, temos o bacurau, que leva o indivíduo de um terminal ao outro, e por lá ele que se vire para chegar em casa.



A lei também não considerou a possibilidade de a imprudência nem sempre estar ligada ao álcool, mas também a outros problemas, como irregularidades nos exames de direção, a falta de preparação e reciclagem dos motoristas, e a péssima condição das rodovias e vias urbanas País afora.



No que se refere aos outros “vícios”, parecem mais interessados os legisladores em criar normas de comportamento social, interferindo na liberdade dos indivíduos, do que buscar formas de corrigir os abusos. O problema não é o usuário de drogas e sim o tráfico de drogas. Na total incapacidade de combater o crime, sobra para o cidadão comum.



Em vez de aumentar o efetivo policial, investir em uma polícia investigativa, é melhor jogar a culpa no usuário e tirar os “drogados” das ruas. Ou seria porque a prevenção do crime necessitaria gastos permanentes, enquanto a contenção da consequência propicia acordos nem sempre honrosos para a classe política e as instituições “pilantrópicas”?



Temos aí dois problemas: primeiro uma classe política que não tem interesse em investir, cobrar e fiscalizar a geração de políticas públicas de atendimento às necessidades do cidadão, o que se alia ao desejo de muitos puristas em literalmente se meter na vida dos outros.



É a velha lógica do marido que encontra a mulher com outro no sofá, e joga fora o sofá.

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