A pesquisa do Instituto Futura, publicada na edição desta terça-feira (8) do jornal A Gazeta (também na versão digital), deve ser analisada com reticências. Justamente num dos momentos mais delicados do cenário político eleitoral, em que o ex-governador Paulo Hartung (PMDB) esboça se lançar candidato, aparece a pesquisa.
Quanto ao direito do Instituto de fazer o levantamento, não se discute. A pesquisa foi devidamente registrada do Tribunal Regional Eleitoral (00001/2014). Tudo legal. O que soa, digamos, pouco ético, foi o Futura fazer um “recorte solto” do eleitorado de Vila Velha. Isso não faz o menor sentido. A não ser para servir de mote para Paulo Hartung mandar um recado para a classe política.
Não adianta os diretores do Instituto afirmarem que o levantamento foi feito no maior colégio eleitoral do Estado. Seria semelhante ao DataFolha ou Ibope fazer uma pesquisa para governo do Estado de São Paulo ou do Rio de Janeiro ouvindo apenas os eleitores das capitais. O resultado seria impreciso, flácido. Talvez seja por isso que os institutos sérios não façam pesquisas parciais.
O mais sensato e ético, levando em conta o atual momento político do Estado, seria o Futura fazer a pesquisa em todo o Espírito Santo. Vila Velha é o maior colégio eleitoral mas não pode servir de termômetro para se fazer projeções no Estado, como tenta induzir o Futura na pesquisa. Sem falar que causa suspeição o fato de uma pesquisa (parcial) aparecer no clímax das definições, quando os jogadores estão dispondo as últimas peças no tabuleiro eleitoral.
Se o intuito da pesquisa foi passar um recado de Hartung, seria mais ou menos assim: “Vejam o que mostram as pesquisas. Estou vivo no jogo e posso derrotar o governador Casagrande. Está na hora de desembarcar da arca e seguir comigo”.
O diretor do Futura, João Gualberto, em declarações ao jornal A Gazeta, “força a barra” mais ainda ao tentar justificar o desempenho de Hartung que, segundo ele, poderia ter sido melhor. Gualberto lembra que Hartung é padrinho do prefeito de Vila Velha, Rodney Miranda (DEM), que teve uma péssima avaliação em recente pesquisa do mesmo Instituto no município canela-verde. Ele quis dizer que o fraco desempenho de Rodney pode ter atrapalhado o ex-governador.
Como a pesquisa espontânea é a que verdadeiramente tem peso, porque como o próprio nome sugere afere a manifestação espontânea do eleitor, Gualberto se preocupou em explicar a diferença de seis pontos na espontânea em favor do governador Renato Casagrande. O diretor ressalta que o ex-governador pode ter perdido intenção de votos por conta da indefinição de se lançar candidato.
A pesquisa deixa claro também que se o ex-governador preferir se candidatar ao Senado, nada de braçadas em cima dos demais adversários, com diferença de mais de 20 pontos para o segundo candidato melhor colocado, o delgado Fabiano Contarato (PR). A pesquisa do Futura, porém, não fez ou preferiu não divulgar a expontânea para senador. Qual seria o desempenho de Hartung nesse cenário? Melhor omitir?
Recados da pesquisa: não fosse o mau desempenho de Rodney e se o ex-governador já tivesse se declarado candidato, teria superado o governador Casagrande.